Aluno 60
1 Versão
Durante a minha infância não tive uma relação muito amigável com o mundo da leitura: os livros eram quase sempre indicados por professores e não me cativavam com suas histórias. Essas, geralmente eram apenas um pretexto para a análise do texto, e era muito mais fácil apenas pegar as palavras-chave para responder as perguntas.
De “pessoal” a interpretação dos exercícios encontrados nos livros didáticos tradicionais não tinha nada. As respostas das questões possuíam fórmulas prontas a serem copiadas dos textos e as únicas que deveriam ser de fato pessoais eram tão desinteressantes e previsíveis (por causa da linha de raciocínio do exercício) que se tornavam chatas.
Nenhum saber novo era construído através dessas leituras, nem a livre interpretação permitida. O próprio exercício de “interpretação” servia como um cabresto, limitando a visão e as possibilidades que a obra oferecia. A informação se encontrava toda no texto para ser apenas decodificada e copiada pelo aluno, e a concepção de leitura era a dos anos 50 e 60 (botton up), sendo aplicada pelos livros didáticos do ano 2000.
Porém, quando entrei na pré-adolescência, precisei de uma válvula de escape para os problemas familiares advindos do divórcio dos meus pais. Por ser filha única e, portanto, sozinha em casa, os livros se tornaram uma companhia sem igual e um meio de viajar e conhecer outros mundos sem precisar sair do lugar. Era mais que apenas distração; era um meio de estimular o processo de criação e ter contato com diferentes formas de exposição e visão da realidade.
As histórias ali eu mesma escolhia, de acordo com o meu interesse. Os livros que não correspondiam à minha demanda de leitura eram deixados de lado sem problemas, pois havia outros que a suprissem até eu estar preparada para digerir os antigos. Os autores viravam referência para encontrar mais obras, e dessa forma eu passava o tempo.
Dessa relação positiva a convivência com os livros tornou-se um hábito e um hobby. Os textos que não correspondiam à minha demanda na época eram-me estranhos por eu não ter experiências o bastante para desfrutá-los. É perceptível assim a questão da interatividade do leitor com o texto, levantada pela concepção de leitura dos anos 80. Aquelas leituras eram-me estranhas tanto por não ter vivido certas situações que as envolviam, quanto por não ter familiaridade com os tipos de texto registrados.
Bibliografia:
ROTTAVA, Lucia. A leitura e a escrita na pesquisa e no ensino. Espaços da escola. V. 4, n 27, p. 61-68, 1998.
Nenhum comentário:
Postar um comentário