Aluno 180
Reescrita
A paixão pelo mar, por lagoas, riachos e piscinas, está presente em mim desde muito cedo. Sempre adorei a sensação de leveza que sentimos ao mergulhar, e cada vez que eu seguro a respiração antes de submergir por completo na água, lembro das primeiras vezes que mergulhei; lembro de como eu sentia que estava voando e descobrindo novos mundos.
Aos cinco anos, fui com a minha família para a praia do Campeche, em Florianópolis - SC, passar as férias de verão. Durante esse período, nós ficávamos quase a tarde inteira na beira do mar, e eu, como dizia minha mãe, parecia um peixinho que não queria sair da água.
- Filha, não vai muito para o fundo. E toma cuidado com as ondas!
- Deixa eu brincar, manhe!
- Tu está indo cada vez mais para o fundo…
- Mas a água tá no meu joelho!
- É melhor sair um pouco da água, filha; vem brincar na areia, mais tarde tu volta pro mar.
- Tá, só deixa eu dar o último mergulho ali perto do pai, onde é melhor pra nadar...
- Não, eu já pedi pra não ir para o fundo! Sai já da água!
E assim eram quase todos os diálogos entre eu e minha mãe quando estávamos na praia. Ela se mantinha muito apreensiva durante todo o tempo em que eu passava dentro mar, e se eu passasse um pouco do limite que ela tinha estabelecido eu já ouvia os seus gritos mandando que eu saísse da água. Eu não entendia o porquê de tanto receio em me deixar fazer o que eu tanto adorava, mas um dia ela me contou.
Quando tinha dezessete anos, minha minha mãe foi passar o dia em uma lagoa com a sua família. Seus pais, irmãos, cunhadas e sobrinhos estavam reunidos para fazer um churrasco; um típico almoço em família. Era um domingo de sol, e como o dia estava quente, logo após o almoço os irmãos e sobrinhos da minha mãe foram para a lagoa. Eles não sabiam qual era a profundidade, mas como todos sabiam nadar, não se preocuparam em ficar nas partes mais rasas, foram todos para o fundo da lagoa. Eles estavam se divertindo muito e como o lago era bastante extenso, tinham muito espaço livre para nadar e mergulhar. Devido a essa amplitude da lagoa, demorou até que todos percebessem que uma das crianças estava se afogando. Dois dos irmãos de minha mãe foram tentar socorrer o menino, mas eles estavam em uma parte muito profunda, e em meio ao desespero, à aflição e ao esforço de se manter acima da água, e, ao mesmo tempo, tentar salvar outra pessoa, um dos meus tios acabou se afogando. Ninguém conseguiu salvá-lo. Ele era o mais velho entre nove irmãos, era casado e tinha uma filha de cinco anos. Foi uma perda enorme para a família, mas principalmente para a minha mãe, que por ser a filha mais nova, recebia muito mais cuidado e carinho do irmão mais velho.
Depois de ouvir esse relato eu compreendi por que a minha mãe pedia tanto para que eu tomasse cuidado no mar. Todo o sofrimento que a morte do irmão causou a ela serviu para mostrar a mim que o desconhecido pode ser muito perigoso. Meu tio não conseguiu vencer o desespero de estar afundando, sem saber se conseguiria tocar os pés no chão, ou se manter na superfície da água, mesmo sabendo nadar. E através desse doloroso exemplo eu aprendi que devia ter cautela e prudência, não só nas águas profundas do mar, mas também nos momentos obscuros e inexplorados da vida, mesmo que esteja preparada para enfrentá-los.
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