segunda-feira, 20 de julho de 2015

Procrastinadores do mundo, uni-vos!

Aluno 53
Reescrita

Há quem pense que ser procrastinador é defeito, imperfeição, ou mesmo uma mancha em um bom caráter. Veja bem, nem sempre. Procrastinar não é apenas deixar as coisas para depois. É, na verdade, uma atividade alegre e relaxante, reservada àqueles que sabem aproveitar os momentos ínfimos da vida e os pequenos prazeres que passam despercebidos aos olhos dos perfeccionistas, organizados e – argh! – adiantados. Procrastinadores sabem desenvolver uma relação intensa com a passagem do tempo e têm consciência de que viver o agora é sempre mais interessante e menos cansativo do que desenvolver cabelos brancos precocemente pensando no depois.  
O dom da procrastinação, no entanto, não é para qualquer pessoa. Para se tornar um legítimo procrastinador, é necessário, por exemplo, ser indiferente a invenções modernas como as agendas, os planners e os calendários. O bom procrastinador não se preocupa com o que está programado para os próximos anos, meses ou dias. O bom procrastinador nunca se programa, ou se preocupa. O uso do relógio, por outro lado, é indispensável! Procrastinadores jamais deixariam suas obrigações para o último minuto, se não pudessem lembrar delas no antepenúltimo.
Não pense que procrastinadores têm uma vida sossegada. Para bem procrastinar, afinal, mais do que adiar o adiável, é essencial, também, estar preparado para a carga de emoção que essa postura desencadeia. Ser procrastinador é viver no limite: no limite dos ponteiros, dos prazos e das datas. Só quem estuda para uma prova decisiva na véspera, ou chega em um compromisso importante em cima da hora, sabe o que é correr contra o tempo, suar a camisa e sentir os batimentos cardíacos acelerarem antes de saber que deu tudo certo e poder, enfim, voltar à procrastinação habitual.  
Ser procrastinador não é fácil. Tampouco se assemelha ao modo de vida dos desinteressados ou preguiçosos. Procrastinar exige muito foco, determinação e força de vontade para não pensar naquela coisa importante à sua espreita, seja nos livros sobre a escrivaninha, seja nas contas a serem pagas, seja na voz da sua mãe, do chefe, ou da professora. Além disso é preciso ter criatividade e um olhar aguçado sobre as potencialidades procrastinantes que o mundo tem a oferecer. Dormir, comer, coçar as costas, tamborilar, conversar com os vizinhos sobre o tempo, desenhar cachorrinhos, cantar aquela música-chiclete da década de 1980 que não sai da sua cabeça, comer de novo, dormir de novo, checar as redes sociais. Procrastinadores estão constantemente pensando na infinidade de possibilidades que os esperam, desde que eles posterguem ao máximo o momento de, finalmente, fazer o que precisa ser feito.  
Quer se tornar um bom procrastinador? Dê o primeiro passo. Basta ter coragem e ir em frente, ou melhor, não ir. Pelo menos não agora. Isso: deixe para depois. Aposto que existe uma série de outras coisas que você poderia estar fazendo neste momento. Por exemplo: procrastinar vem do latim procrastinare, sabia? Pro.cras.ti.nar. Verbo transitivo direto cujos significados mais comuns incluem “retardar” e “usar de delongas”. Não, não se apegue à essa descrição dicionarística. Foi apenas uma forma de adiar o final do texto.

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