sexta-feira, 28 de julho de 2017

A descoberta de leitura como um mundo novo

Aluno 150
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Para muitos a leitura tem significados diferentes, de acordo com o propósito para o qual ela está sendo utilizada. Antes, por volta dos anos 60, era entendida como “extração de significado”; usada para o aprendizado da gramática, porém, alguns leitores apresentavam dificuldades para entender o texto e outros não. Então, em 1970, passou a ser percebida como “atribuição de sentido”, onde o centro era o leitor e as experiências dele que influenciavam na interpretação; mas, o texto em si era deixado de lado. Na década seguinte entendia-se leitura como “integração”, onde consideravam o leitor e o texto, e a relação entre eles; todavia, um fator foi  esquecido: o autor. Nos anos de 1990 surge a concepção de leitura como “prática social”, tanto o leitor quanto o texto e o autor eram considerados; a relação entre os três apresentava a quem lia uma maneira de se posicionar à respeito do que estava sendo tratado. No texto A Importância da Leitura na Construção do Conhecimento a autora, Lucia Rottava, explica o que seria a leitura como prática social:

“É uma leitura que envolve o propósito de que ler é utilizar-se  da linguagem para determinado objetivo, bem como para alguém e em certas circunstâncias. A leitura está ligada a diferentes propósitos do leitor que, por sua vez, estão ligados ao contexto situacional e às expectativas sociais.” (ROTTAVA, Lucia. A Importância da Leitura na Construção do Conhecimento, 2000, p. 14)

A partir de todas essas concepções, foi inevitável recordar de quando a leitura começou a ser introduzida na minha vida. Mesmo antes de entrar na escola meus pais já liam e compravam livros para mim, acredito que o objetivo deles era despertar o meu interesse pela leitura. Na escola o mais comum era ter contato com ela na sala de aula através da alfabetização que “significa apenas a ação de ensinar/aprender a ler e a escrever” (Lucia Rottava, 2000, p. 12), o que se assemelha com a visão que tinham na década de 1960. Depois que passei por esse processo um novo conceito começou a ganhar espaço: o letramento, que segundo Lucia Rottava (2000, p .12) “diz respeito à condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce”, praticando mais a leitura e através dela produzindo algo com a escrita.
Todas essas reflexões me levaram à uma lembrança que tenho, de quando tinha 6 anos e estava na primeira série (hoje, segundo ano do fundamental): Onde eu estudava era muito comum aparecer empresas, na maioria editoras, vendendo seus produtos. Nessa época eu já era apaixonada pelas histórias e pelos livros, então, sempre que aparecia algum desses vendedores eu ficava muito ansiosa para saber das novidades do mercado literário infantil. Em uma dessas ocasiões fizeram propaganda do livro Sofia descobre as palavras, da autora Adri Weber, só o título dele me chamou muita atenção, porque tinha tudo a ver com o que eu estava vivendo naquele momento. Neste dia eu cheguei em casa animada para contar sobre ele aos meus pais e pedir que o comprassem para mim. Na tarde seguinte eu estava muito inquieta e feliz, não via a hora do senhor, que vendia os livros, aparecer. Quando ele finalmente chegou, fui a primeira a correr ao encontro dele para ter logo o livro em mãos; depois que entreguei o dinheiro e recebi o exemplar não pude conter o enorme sorriso que se formou em meus lábios, o qual eu antes sentia vergonha por conta de uma “porteirinha” entre os dentes, causada pela troca dos mesmos (dos de leite para os permanentes), comum naquela idade.
Então, a ansiedade passou a ser por outro motivo: eu queria voltar imediatamente para casa, assim finalmente poderia ler o meu livro novo. Logo que cheguei, nem quis saber de comer alguma coisa, não aguentava esperar mais um só minuto para dar início à leitura desta nova história. Eu fui para o banheiro e tomei meu banho, vesti meu pijama favorito de ursinhos, e em seguida me dirigi ao meu quarto. Enquanto me ajeitava na cama não conseguia parar de sorrir tamanha era a minha alegria e animação. Enfim comecei a ler ele, e logo nas primeiras páginas me identifiquei com a protagonista, a Sofia. A personagem era muito parecida comigo em vários aspectos: gostava de brincar no quintal com o seu cachorrinho, estava na mesma série que eu e aprendia as mesmas coisas… mas o que mais havia me chamado a atenção foi o fato de Sofia ter desenvolvido, ao longo da narrativa, o mesmo amor que eu tinha pela leitura. Todo esse sentimento, que tanto ela quanto eu tínhamos pelas palavras, foi incentivado da mesma maneira: não só as leituras em sala de aula, eramos incentivadas família ajudávamos nas compras ao ler o nome dos produtos no supermercado. Novamente, no texto A Importância da Leitura na Construção do Conhecimento, Lucia Rottava discorre sobre isso:

“De outra perspectiva, a família também não deve deixar somente para a escola o papel de despertar, incentivar e motivar a leitura. Grande parte dessa responsabilidade é também dos pais, que devem proporcionar aos seus filhos o acesso às publicações e incentivá-los à leitura. Além disso, a família precisa ter presente a ideia de que a leitura perpassa todas as ações e tarefas realizadas dentro de casa, tais como ler o rótulo de um alimento, ler um manual de instrução, uma revista ou jornal, dentre outras, bem como incentivar a prática constante da escrita.” (ROTTAVA, Lucia. A Importância da Leitura na Construção do Conhecimento, 2000, p. 13)

Então, através de todos esses incentivos, Sofia passa a ler frases cada vez maiores até chegar aos livros. Todos os processos pelos quais ela passou, foram os meus que eu precisei passar, cada vez mais eu fui me enxergando naquela personagem. Depois, ela começou a anotar palavras novas em um caderninho e a escrever narrando histórias; isso me inspirou a fazer o mesmo, porém não tive muita sorte com a narrativa apesar de ter pego o costume de anotar, não só palavras novas, mas qualquer coisa que achasse importante. O final do livro era, nada mais nada menos, uma frase que refletia todo o meu sentimento sobre a leitura: “Depois que aprendeu a ler e escrever, a vida de Sofia ficou muito mais animada!” (WEBER, Adri. Sofia descobre as palavras, 2005, p. 14).
Esta lembrança, que eu ainda guardo nítida na memória, mostra que a leitura leva em consideração não só o leitor, ou o texto, ou o autor, mas a relação que existe entre eles. Ela não serve somente para decodificar uma mensagem, uma informação, ela faz com que o leitor reflita, se identifique, se posicione, se questione. Ela envolve aspectos muito além dos linguísticos ou gramaticais, também envolve e desperta sentimentos em quem lê: os quais são transmitidos do autor para o texto e do texto para o leitor, estabelecendo a relação citada anteriormente.


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