quarta-feira, 26 de julho de 2017

Não se tratam de números de conhecimento

Reescrita
Aluno 138


A leitura é algo que me rodeia desde a infância no colo de minha mãe. Sendo algo sempre estimado e bem valorizado pela sociedade, afinal, ler é o primeiro passo para ‘se tornar alguém na vida’, ou seja, para se manter na escola.
Escola essa que sempre demonstrava seu interesse pela minha leitura em voz alta, algo que causava grande constrangimento, principalmente no início do aprendizado da leitura. Na verdade até hoje é um constrangimento. Mas se parar para pensar, essa leitura pode ser feita com um ‘benefício’ que não implique em constranger o aluno, mas sim, em transmitir a leitura a quem não pode exercê-la efetivamente.
É certo que, em situações especiais, a primeira das duas ações compreendidas no ato de ver – a decifração – pode ser elidida (quando, por exemplo, se enuncia em voz alta o texto escrito para uma audiência que, por algum motivo, não realize a decifração) e, ainda assim, a leitura ocorrer – a isso tenho chamado de ‘ler com os ouvidos’. (Britto, 2012 – Pág. 10)
Britto (2012) diz que existe a “leitura com os ouvidos”, designada aquelas pessoas que não conseguem ler. O que faz com que eu reflita e me sinta culpada por ‘desprezar’ este modo de leitura, já que, para muitos, é o único meio de ler um livro.
E ler um livro não envolve apenas entretenimento, mas também conhecimento, e nossas escolas de hoje parecem deixar claro o quão importante é esse conhecimento adquirido através da leitura.
Mas a verdade é que muito dos conteúdos produzidos hoje em dia não condizem com o que a sociedade requer de um leitor (leituras cujo conteúdo não agregam conhecimento ao leitor, por exemplo). Quem mais lê mais culto é, pela diversificação de vocabulário que acaba por receber dos livros, e quando eu era menor, quem mais lia, melhor indivíduo seria. Então eu lia muito, mas conteúdos que sinceramente não agregavam a nada, contava os livros lidos como troféus, e me sentia muito bem por tê-los.
Britto classifica isso como sendo ‘alienação’, é como se lêssemos sem nos dar conta do que realmente o texto nos diz. E no fim, são apenas números, títulos cujas histórias eu nem me lembro, mas tudo apenas para ter um status de boa leitora, afinal, quanto mais você lê, mais conhecimento adquire mais culta você é, certo?
(...) vincular a prática da leitura aos ganhos materiais ou de posicionamento social, em função da ampliação da capacidade de ação, não é mais que reduzir essa prática a dimensão pragmática da competitividade. (Britto, 2012 – Pág. 13)
Britto ainda cita sobre a competitividade, que é o que vivemos hoje, afinal: quem é mais culto? Qual livro ‘vale a pena’ ler? Qual autor escreve o certo?
Se fosse quantidade que importasse, leria todas as placas das ruas por onde passo, e assim talvez, construiria um livro inteiro, pela quantidade de palavras lidas. O problema é que essa ironia só me foi mostrada depois de alguns anos em meio a livros, o que de certa forma me causou grande constrangimento pela forma como eu tratava deste assunto.
Mas ao mesmo tempo em que quantidade não importa, o conteúdo importa, o que de certa forma foi ignorado por minha brilhante mente, que qualquer livro, era mais um para a coleção. ‘Estou ficando mais inteligente’, certamente que não!

Referências
BRITTO, Luiz Percival Leme. Leitura: Acepções, Sentido e Valor. Revista Nuances: estudos sobre Educação. Ano XVIII, v. 21, n. 22, p. 18-32, jan./abr. 2012

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