sexta-feira, 28 de julho de 2017

Aversões

Aluno 118
Reescrita


Uma lembrança marcante que tenho com a leitura vem da época do meu Ensino Médio na disciplina de Literatura ministrada pela professora Jurema. Nessa matéria éramos “obrigados” a ler a cada trimestre doze livros relacionados as leituras obrigatórias do vestibular da UFRGS, e isso sempre me assustou. O volume de leitura “obrigatório” para os estudantes adolescentes era grande, e muitas vezes mais assustava do que ajudava no aprendizado da literatura brasileira.
A aversão por determinados autores e determinadas épocas literárias nasceu dessa obrigatoriedade escolar de ler sem entender o motivo pelo qual estava lendo. O vestibular não parecia tão importante no auge dos meus quatorze anos. Na época, sequer sabia corretamente o que era vestibular e muito menos sabia o que queria fazer na faculdade.
Entre todas as leituras que realizei nessa época, minha maior antipatia se deu pelo autor de “As minas de prata”, o qual me perseguiu por várias outras obras obrigatórias no meu circuito escolar: “Senhora”, “O Guarani”, “Lucíola” e “Iracema”. O maior aprendizado daqueles anos em literatura não foi o de quanto eu gostei de outros autores, mas sim o quanto eu não suportava ler os livros de José de Alencar e as discussões sobre o período literário do qual ele fazia parte.
Ao meu ver, a preocupação da disciplina estava direcionada mais para uma educação bancária e conteudista do que em letrar os alunos sobre a prática da leitura como potência na aquisição de determinados conhecimentos (Rotava, 2000). A compreensão textual das obras desassociada de um contexto que fizesse a leitura atraente se demonstrou como uma leitura vazia cuja efetividade se tornou passível de ser questionada. Por fim, a tentativa de “promover a leitura” entre os estudantes através da obrigatoriedade excessiva de textos/livros descontextualizados e pouco atrativo para os estudantes pode ter o efeito contrário ao de criar um hábito “saudável” de ler. Pois a leitura deve ser uma prática não obrigada, mas sim comprometida, como o investimento pessoal que é (Britto, 2012).
BRITTO, Luiz Percival Leme. Nuances: estudos sobre Educação. Ano XVIII, v. 21, n. 22, p. 18-32, jan./abr. 2012.
ROTTAVA, L. A leitura e a escrita na construção do conhecimento. Espaços da Escola. Ijuí, Editora Unijuí, a. 9, n. 35, jan. / mar. 2000, p. 11-16.

Nenhum comentário:

Postar um comentário