quarta-feira, 26 de julho de 2017

Revisitando o meu particular ato de ler

Aluno 175
reescrita


Antes de recordar memórias de leituras passadas é necessário saber concretamente o que é leitura, então após ler algumas definições deparo-me com a seguinte: “Pode-se dizer, nessa direção, que a leitura tem a ver, mais que com decifração, com escolhas.” (BRITTO, 2012, p.19). Depois de lê-la, associando com minhas memórias de leitura, concluo que ler realmente é um processo de escolhas, e chego a essa conclusão lembrando-me da minha última grande escolha que foi começar o curso de letras, pois isso teve grande implicação na mudança do meu modo de ler.
Recordo-me do primeiro texto indicado para leitura, no primeiro dia de aula de Conceitos Básicos de Linguística “A linguagem humana do mito à ciência” de José Luiz Fiorin. Nesse contexto, esforçada como sempre para os estudos, imprimi o texto com antecedência e tive a primeira surpresa: um texto de 31 páginas que abordava inúmeros conceitos sobre lingüística, uma disciplina cujas noções eram totalmente novas para mim, então o desencadeamento dessa história parece óbvio, li o texto inteiro e no final dele acumulei dois os três conceitos compreendidos e uma montanha de dúvidas que atribuo à falta de conhecimento prévio sobre o assunto:
A ativação do conhecimento prévio é, então, essencial, à compreensão, pois é o conhecimento que o leitor tem sobre o assunto que lhe permite fazer as inferências necessárias para relacionar diferentes partes discretas do texto num todo coerente. Este tipo de inferência, que se dá como decorrência do conhecimento de mundo e que é motivado pelos itens lexicais no texto é um processo inconsciente do leitor proficiente. (KLEIMAN, 1995, p. 25)

A partir desse parágrafo de Kleiman, consigo entender que o que aconteceu nessa experiência de leitura particular não foi um problema cognitivo, mas sim uma falta de conhecimento prévio sobre o assunto tratado e uma falta de ambientação com os termos referidos naquele texto.
Desse modo precisei buscar alternativas para conseguir não só decifrar, como ocorreu na primeira experiência de leitura, mas também para compreender o texto, já que segundo Britto essas atividades são distintas: “As duas ações básicas de ler (decifrar e compreender) interligadas de tal modo que, em princípio uma implica a outra; contudo, são distintas em seus fundamentos e qualidades: um escâner pode realizar a primeira, mas não tem nenhuma condição de fazer a segunda;” (BRITTO, 2012, p. 20). Assim, o modo que encontrei para internalizar os conceitos adquiridos foi fazer resumos para cada texto lido, independente da disciplina, anotando os elementos mais importantes e procurando palavras e conceitos desconhecidos.
Esse meu novo método de leitura tem me proporcionado boas experiências e tenho percebido isso na prática como, por exemplo, com a leitura do último texto de literatura brasileira A que abordava um panorama geral na poesia no romantismo brasileiro: usando meu novo método de leitura resumi o texto e o compreendi por completo, posteriormente o professor nos avisou que esse e outros resumos poderiam ser usados na prova, todavia em nenhum momento precisei olhar meu resumo durante a avaliação para revisar conceitos, ou seja, após meu método leitura/resumo eles ficam vivos em minha mente, e consigo perceber isso por meio dessa experiência recente, na qual memorizei conceitos, contudo sem precisar usar o método da, tão conhecida pelos alunos, “decoreba”, sobre isso Paulo Freire elucida:
Os alunos não tinham que memorizar mecanicamente a descrição do objeto, mas apreender a sua significação profunda. Só apreendendo-a seriam capazes de saber, por isso, de memoriza-la, de fixá-la. A memorização mecânica da descrição do elo não se constitui em conhecimento do objeto. Por isso, é que a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto é feita no sentido de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala. (FREIRE, 1989, p.12).
Nesse sentido, interpreto que a leitura passou a ser para mim não uma simples decodificação do que leio, mas sim uma ferramenta essencial para a construção do meu conhecimento, já que ela supre a necessidade que tenho de aprendizagem de certos conteúdos essenciais para a minha formação, conforme explica Rottava: “A leitura como construção do conhecimento, portanto, deve ser autêntica, ou seja, vincular-se à realidade do leitor, responder a sua necessidade, suscitar-lhe interpretações livre e liberdade de aprendizado da língua.” (ROTTAVA, 2000, p. 11).
Contudo, o novo método de aprendizagem que passei a utilizar não implicou apenas consequências positivas, visto que a faculdade de letras tem uma carga de leitura muito pesada, resumir cada texto indicado não consiste em uma tarefa muito prática, portanto deparo-me com um dilema: ler parte dos textos propostos, por falta de tempo, de maneira eficiente resumindo-os para internalizá-los e fazendo reflexões acerca deles ou ler absolutamente todos os textos propostos apenas os decodificando e esquecendo os conceitos abordados posteriormente? Sobre isso Paulo Freire expõe sua opinião:
A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo, que se encontra, por exemplo, em quem escreve, quando identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com a quantidade de páginas escritas. (FREIRE, 1989, p.12).

Por conseguinte, percebo que a visão sobre leitura que precisa ser modificada e não o método que utilizo que é eficaz para mim.
Em suma, percebo que cheguei, até hoje, no meu melhor método de leitura, considerando que ler não é apenas um ato de decodificar, pois, hoje, apesar de atrasar os prazos dos textos a serem lidos algumas vezes, consigo estar segura sobre o que leio, tendo plena certeza de que estou internalizando os conceitos, portanto, construindo um conhecimento necessário para a minha futura atuação profissional como professora.
























REFERÊNCIAS:

ROTTAVA, Lucia. A importância da leitura na construção de conhecimento. Rio Grande do Sul: Unijuí, 2000.

BRITTO, Luiz P. L. Ensaio: Leitura: acepções, sentido e valor, Campinas, v.21, n.22, p. 18-32, jan/abr. 2012.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 23 ed. São Paulo: Cortez, 1921.

KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 4ed. Campinas: Pontes, 1995.



Nenhum comentário:

Postar um comentário