Aluno 162
1 Versão
Livros têm de ser riscados, rasurados, desenhados e todos os “ados” possíveis de serem encontrados na língua portuguesa. As marcas que ilustram a nossa interação pessoal, aquelas que tornam um exemplar só seu, são os rastros mais bonitos de consciência e interpretação que podemos registrar sobre as páginas. A leitura é uma conversa, troca de experiências e conhecimentos, ela não deve ser vista apenas como status intelectual ou social, muito menos como mera decodificação. Logo, muito menos nossos livros devem ser vistos dessa forma; eles não devem ser apenas um amontoado de palavras pairando sobre nossa prateleira, intactos, com as lombadas viradas para o mundo clamando por atenção. A leitura literária é um processo de interação do leitor com a obra, da obra com o leitor. Assim como afirma ROTTAVA, 2000, p. 2:
“Se observarmos de uma perspectiva mais ampla, percebemos que o termo leitura poderá ser compreendido como sendo uma habilidade que envolve um evento comunicativo onde estão presente o que, para que e para quem lemos, ou seja, uma tarefa que envolve um propósito e um ou mais interlocutor(es).”
Lendo Os Sofrimentos do Jovem Werther, inicialmente, meu propósito era um “para que”: para a cadeira de Leituras Orientadas I. Por esse motivo, minha leitura baseou-se em tentar decodificar o texto, focando nele e no seu autor todo o sentido da obra. Eu atribuo esse equívoco à minha recente saída do Ensino Médio. É na escola, pois, que somos ensinados a enxergar a leitura “como simplesmente o ato de decodificar o que um texto apresenta, ou decifrar as palavras que são colocadas num determinado texto” (ROTTAVA, 2000, p. 2). Essa leitura minuciosa, atenta somente à análise estrutural, quase custou-me uma experiência maravilhosa. Não fosse o sentimento de proximidade com tudo que Werther (ou será Goethe?) narrava, eu teria abandonado a obra.
Após renunciar à mera decifração do texto, e colocar-me, também, no papel de construtora de significado, a narrativa fluiu de maneira muito mais proveitosa. Eu risquei todo o meu exemplar de Os Sofrimentos do Jovem Werther. Risquei tanto que não precisava mais de marcador de páginas, uma caneta bastava. Seja no prédio de aulas da Letras, seja no ônibus, as pessoas passavam por mim com os olhos arregalados quando espiavam as páginas do romance. Ora, aquela leitura foi tão prazerosa, cada página virada uma frase me chocava, eu precisava marca-las. Algumas porque concordava deveras e me identificava, outras pois discordava copiosamente. A questão é que, como afirma Rottava, eu formava opiniões e aprendia coisas novas no decorrer da minha leitura. “[...] pois aceitar ou recusar um tema ou assunto é, muitas vezes, o ponto de partida para a construção do conhecimento” (ROTTAVA, 2000, p. 6).
Já não me bastava ler sozinha. Eu tinha de comentar com meus amigos sobre o enredo, os personagens, as minhas passagens preferidas. Desse modo, aprendi como Os Sofrimentos do Jovem Werther foi a primeira prosa romântica, como a natureza simboliza os sentimentos do personagem título, como a história é conhecida por possivelmente ter causado uma onda de suicídios na Alemanha. Enfim, não apenas a interação com o texto me suscitou diversas reflexões sobre a vida, a morte e o amor, mas também a interação com outros leitores ajudou na construção de conhecimento.
Referências Bibliográficas:
GOETHE, Johann Wolgang. Os Sofrimentos do Jovem Werther. Porto Alegre: L&PM Pocket. 2001
ROTTAVA, Lucia. A importância da leitura na construção do conhecimento. Revista Espaços da Escola, Ijuí, Editora UNIJUI, a.9, n.35, jan-mar. 2000, p11-16
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