Aluno 166
Reescrita
“Faz parte do senso comum que “ler é bom”. É esse um valor bem estabelecido na cultura ocidental.” Com esta citação de Britto em seu texto Leitura: acepções, sentidos e valor surge em minha memória uma importante lembrança de minha infância: os finais de noite em minha casa Antes de dormir minha mãe costumava pegar um de seus romances, ajeitar-se na cama em seu travesseiro e ler atentamente cada palavra escrita naquelas páginas como se naquele momento elas significassem o mundo para ela. Recordo-me de observar atentamente esta cena, ela a fazia de forma a parecer tão prazerosa que eu tentava repetir seus gestos e principalmente sua leitura. Porém, com a idade que tinha – 3 ou 4 anos – ainda não entendia o que o amontoado de palavras reunidos naquelas páginas queria dizer.
Logo entrei para escola e comecei meu processo de alfabetização ganhei meu primeiro livro, um exemplar de “O Pequeno Príncipe” o qual eu e minha mãe líamos juntas todas as noites e ela, com toda a paciência que só uma mãe consegue ter, me ensinava palavra por palavra, que a junção das letras r a p o s a significava raposa e r o s a formavam a palavra rosa. Lenta e gradativamente a leitura se seguia todas as noites até que terminamos o livro. Ao final da leitura já sabia juntar as letras e formar palavras. Aventurei-me começar a fazer minhas leituras sozinha. E assim, aquela mesma cena de toda noite se repetia, minha mãe deitada em sua cama com seu romance em mãos e eu ao lado imitando seus gestos, porém, desta vez, lendo e entendendo de verdade o que as páginas queriam transmitir e me dei conta de que ler realmente era uma coisa boa e o sentimento de prazer que minha mãe transmitia conseguia agora sentir com a minha própria leitura.
A leitura tomou grande parte de minha infância e adolescência, lia gibis e livros de ficção-fantasia sem pausa. Logo terminava um já começava outro. A lista só crescia e quanto mais eu lia, mais tinha vontade de ler. Percy Jackson, Harry Potter, A Maldição de Tigre, livros da autora Agatha Christie eram títulos que apareciam com frequência em minhas mãos e ocupavam grande parte de minha prateleira. Lia todos com muita vontade e muito prazer.
Logo entrei no ensino médio e uma nova “amiga” apareceu: a preguiça. Quando, no primeiro ano do ensino médio, comecei a ter as aulas de literatura e me vi coagida a deixar meus livros de lado para ler os livros passados em aula, foi quando me tornei uma leitora preguiçosa e dava todo tipo de desculpas por não conseguir terminar as obras, elas iam desde falta de tempo até indisponibilidade da obra, mas o que me faltava mesmo era o interesse. E junto dessa minha indisposição a leitura fui apresentada ao mundo da internet e das resenhas, o que só contribuiu ainda mais para alimentar minha amiga, a preguiça. Mas veja bem, não é que os títulos e obras fossem ruins, porém, naquela época, não eram histórias as quais me agradavam e prendiam.
Quando decidi que queria cursar a Faculdade de Letras sabia que teria de me esforçar muito para deixar minha amiga preguiça de lado. Sabia que teria de abandona-la no caminho. Precisava recriar meus hábitos de leituras, retomar o gosto, como aquele que eu tinha lá na infância e adolescência. No começo tive um pouco de receio e dificuldade porque logo as leituras começaram a aparecer e eu com os olhos e a mente já fora de forma acabava atrasando as leituras – obras literárias e textos teóricos – por fim acabava novamente cedendo aos famigerados resumo e resenha. Resumos e resenhas não suprem uma obra inteira, aprendi isso da pior maneira possível. Talvez possam ser usados como um complemento, um material de apoio da leitura em si, já que contextualizam as obras e alguns pontos específicos.
Na faculdade conheci professores incríveis e foi na metade do semestre, em uma dessas aulas com um desses professores que ouvi um conselho que me fez repensar meus hábitos, deixar a preguiça de lado e voltar a treinar minha mente: “Literatura não se decora, se aprende.”.
No texto Rottava/2012, um estudo realizado sobre a leitura no contexto acadêmico é citado algo que se aplica aos meus antigos hábitos de leitura, ou a falta dele “Muitas dessas dificuldades podem derivar da pouca familiaridade por parte dos alunos com práticas de leitura recorrentes em contexto acadêmico”. Eu não tinha um conhecimento prévio no assunto, logo, as obras não me prendiam por esse motivo, pela falta de informação e até de interesse em ir buscar estas informações.
Ainda no texto Rottava/2012 a autora diz que “Acima de tudo, o conhecimento não está pronto e finalizado, mas em continua transformação. A leitura, portanto é o caminho para a construção de parte de todo e qualquer conhecimento” e esta situação, descrita pela autora é como se dá minha atual relação com a leitura: em busca de informação para construção de parte do meu conhecimento através da leitura.
E aqui o meu memorial de leitura não se encerra e sim se inicia, pois, aos poucos estou reconstruindo meus hábitos de leitura e construindo novas formas de compreensão dos textos e obras. Hoje, não o faço como uma “obrigação” imposta pelo curso, mas sim por uma vontade minha em adquirir conhecimento necessário para aprender o que cada uma das obras e histórias contadas nelas tem a passar. E posso afirmar que sim, ler é bom, desde que a leitura seja feita no nosso tempo e, principalmente, com vontade de ler.
REFERÊNCIAS:
BRITTO, Luiz Percival Leme; Leitura: acepções, sentidos e valor. Nuances: estudos sobre Educação. Ano XVIII, v. 21, n. 22, p. 18-32, jan./abr. 2012
ROTTAVA, Lucia; A Importância da Leitura na Construção do Conhecimento. Palestra proferida em 28 de maio de 1999, na X Feira do Livro Infanto-Juvenil da Escola de 1º e 2º Graus Francisco de Assis (EFA; Ijuí, RS).
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