1 Versão
Aluno 167
A minha relação com a leitura começou antes mesmo de eu aprender a ler, através da minha mãe e irmã. Na nossa casa sempre existiram muitas revistas de história em quadrinhos – essas bastante conhecidas com histórias da Turma da Mônica e Pato Donald, por exemplo – e tenho lembranças fragmentadas de pedir várias vezes para que lessem para mim. Isso não acontecia antes de dormir, como geralmente acontece com parte das crianças em geral. Relatam-me que bastava a minha vontade de ouvir uma história para ir atrás delas pedindo para que me contassem. Nessa fase eu ainda não tinha nenhum livro para chamar de meu e eu devia ter em torno de uns dois ou três anos.
Aos meus quatro anos foi o grande acontecimento: ganhei meu primeiro livro. O presente foi de um tio e o livro era da coleção do Silvio Santos – hoje nem existe mais essa coleção – com a história da Chapeuzinho Vermelho. O livro acompanhava um CD com a narração da história. E, é claro, eu fiquei por horas e dias ao lado do rádio ouvindo a história e observando meu livro. Não sei dizer exatamente em quanto tempo isso aconteceu, no entanto sei que em um certo dia eu já havia decorado toda a história, onde começava e terminava a fala de cada personagem e até o momento de virar a página.
Minha mãe, ao ver meu grande interesse pelo livro, resolveu comprar outros livros para mim. Dessa vez foi uma coleção de contos e fábulas infantis, eram doze livros com histórias bem curtas. Hoje, observando esse ato dela, percebo que foi o primeiro passo em relação ao grande papel que a família exerce nessa situação, como afirma Rottava (2000):
[...] a família também não deve deixar somente para a escola o papel de despertar, incentivar e motivar a leitura. Grande parte dessa responsabilidade é também dos pais, que devem proporcionar aos seus filhos o acesso às publicações e incentivá-los à leitura. (ROTTAVA, 2000, p. 13)
Nesse período, eu ainda não havia aprendido a ler, então minha relação com esses livros era apenas pela leitura de outrem e de minha observação das figuras.
Por volta dos seis ou sete anos, finalmente aprendi a ler, ou mais especificamente, a decodificar a língua. Nesse momento, a leitura não era, como afirma Britto (2012, p. 29): “para deleite pessoal, fruição, entretenimento, como quando se pega um livro ou uma revista e deixa-se que o pensamento flua sem compromisso ou objetivo além do prazer de ser e de experimentar situações, ambientes, acontecimentos”. A leitura possuía o propósito de aprender a língua, ou seja, não era livre para estimular a imaginação e explorar emoções; se detinha apenas em aprender os verbos, pronomes, substantivos e outras classes gramaticais. Isso fez com que eu perdesse o interesse pela leitura porque eu não sabia que existiam outras possibilidades para ela.
Esse desgosto pela leitura durou anos. Quando tinha aproximadamente treze anos aconteceu o meu reencontro com a leitura: ganhei três livros românticos escritos por Nicholas Sparks. Muitos o julgam, mas eu o agradeço por me fazer retornar a ter vontade de ler algo e adentrar esse universo da leitura. A partir desse instante, comecei a ler os gêneros mais variados; fui de Nicholas Sparks e Agatha Christie até Machado de Assis, por exemplo.
Concluí duas coisas com esse reencontro: a primeira foi que é possível ter prazer na leitura, aproveitar cada frase ou verso sem um propósito fundamentalmente escolar; e a segunda, e não menos importante, foi que algo sempre está sendo aprendido durante o ato de ler, não é porque tal livro não foi pedido pela escola que ele é inútil. Hoje, já eliminei todo e qualquer trauma em relação aos processos de leitura e, consequentemente, tento absorver e aproveitar ao máximo mesmo daquele livro/artigo obrigatório e maçante.
REFERÊNCIAS
BRITTO, Luiz Percival Leme. Leitura: acepções, sentidos e valor. Nuances: estudos sobre educação, São Paulo, v. 21, n. 22, p. 18-32, jan/abr. 2012.
ROTTAVA, Lúcia. A importância da leitura na construção do conhecimento. Revista Espaços da Escola, Ijuí, Editora UNIJUÍ, a. 9, n. 35, p. 11-16, jan/mar. 2000.
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