1ª
Versão
Por Aluno 3
Por mais ineficiente que se
configure a Educação brasileira enquanto instituição de importância fundamental
para a formação intelectual dos jovens estudantes do país, é bastante louvável
a ideia de um ensino laico e científico que, ao menos hoje, define a proposta
básica do Ensino Médio de uma significativa parcela das nossas escolas
privadas. Preocupante, no entanto, é o fato de algumas das disciplinas inclusas
no nosso modelo padrão de plano de ensino serem, de fato, opostas aos
princípios educacionais previamente citados. Dentre tais disciplinas, talvez a
mais destoante em relação às propostas fundamentais do Ensino Médio privado do
Brasil seja a da Literatura.
Justamente por evocar o
subjetivismo, característica essencial de toda e qualquer arte, a Literatura de
forma alguma poderia ser parte constituinte de uma seleção qualquer de
abordagens teóricas do conhecimento humano embasada na ciência e na
objetividade, o que é bastante óbvio. Aí encontramos o nosso primeiro problema:
ora, se o nosso sistema educacional é baseado em uma visão científica do mundo,
tendo como principal objetivo instruir nossos estudantes através de tal
perspectiva, por que plausíveis motivos estaria uma disciplina tal como a
Literatura inserida nos currículos escolares?
A visão subjetivista de mundo proveniente
do estudo da Literatura e da Filosofia enquanto disciplinas independentes nas
escolas não é relacionável às propostas básicas de ensino vigentes, e são por
demasiado quantitativamente insignificantes frente ao muito maior número de
disciplinas relativas ao ensino das ciências, não tendo influência curricular
suficiente para atuar como contrapeso
à visão de mundo objetiva tão enfaticamente explorada em sala de aula.
Quando questionada sobre o tema aqui
discutido, a estudante E. W. do Ensino Médio, 16 anos, apresentou algumas
respostas de certa forma interessantes às perguntas direcionadas a ela através
de um processo de entrevista: afirma ela que considera “qualquer tipo de texto não jornalístico literatura”, e, logo após,
diz que a Literatura a ela ensinada pela escola aborda somente “as leituras obrigatórias da UFRGS”
(leituras requisitadas dos alunos relativas ao vestibular da Universidade
Federal), ou o cânone literário. Essas afirmações indicam a seguinte situação:
o ensino da Literatura se dá, no âmbito escolar, através de uma metodologia
extremamente imediatista, que tem como maior objetivo não o real estudo das
diversas obras literárias e da arte escrita, mas sim a aprovação dos alunos em
uma prova de seleção. De nada serve uma educação baseada em uma memória a curto prazo; quando é
apresentado ao estudante qualquer matéria de estudo sob o pretexto de que ela
nada mais serve do que para que se efetue a sua aprovação em um teste que nada
mais é do que um breve momento de transição entre o ambiente do colégio e o da
universidade, consequentemente se cria a ideia de que tal disciplina tem a sua
relevância limitada a esse nível de complexidade: a Literatura foi feita para
ser aprendida de maneira rasa, de modo a cumprir imediatos objetivos, e logo mais
esquecida, pois não tem quaisquer maiores importâncias.
Também foi mencionada a relação
entre obras literárias “que podem gerar
bons debates sobre a nossa realidade”, o que poderia ser usado como um
falso argumento para contrariar o desenvolvimento de raciocínio anterior: se
são analisadas obras através de um olhar filosófico, o ensino não é
imediatista, mas sim relativo a uma formação intelectual a longo prazo. O problema
que representa essa afirmação da nossa entrevistada, no entanto, é de outra
natureza.
Bem, de fato é bastante relevante
essa característica da Literatura em se configurar tão facilmente como matéria
interdisciplinar às disciplinas de Filosofia, História, Sociologia, Línguas
Materna e Estrangeira, mas pensemos prática e logicamente quanto a tal
situação: se, nas aulas do Ensino Médio, ao menos da rede privada de ensino,
como nos confirmam os resultados da nossa entrevista, a Literatura abordada por
si só, sem relação explícita com quaisquer outras disciplinas, configura uma
aula extremamente fútil e regida por objetivos imediatistas, como vimos
anteriormente, e apenas se desvencilha desse ensino pouco prestativo ao
desenvolvimento intelectual do aluno quando relacionada a outras disciplinas
quaisquer, então por que concedemos uma independência
curricular à Literatura? A relação entre uma específica leitura e as aulas
de Filosofia poderia, muito certamente, ser desenvolvida dentro destas mesmas
aulas de Filosofia; leituras de obras literárias em aulas de História muito
certamente auxiliariam os professores da disciplina a chamarem a atenção dos
alunos em relação à matéria ensinada. Pode-se até mesmo dizer, talvez, que seja
impossibilitada essa verdadeira utilização de leituras dentro dessas
disciplinas justamente porque é concedido um espaço único na grade curricular
das escolas à disciplina de Literatura. Um argumento talvez digno de reflexão.
Não está aqui sendo defendida a
ideia de que o estudo da Literatura é, por si só, inútil ou não recomendável
aos jovens estudantes do nosso país (tal afirmação não teria qualquer sentido
ou coerência), mas sim que o modo como se configuram as aulas relativas à
disciplina é completamente incoerente e irrelevante (à formação intelectual dos
alunos). Jamais será incentivada a leitura e o estudo das obras literárias por
um sistema de educação que organiza de maneira tão irracional os seus
currículos escolares, e que tão desrespeitosa e injustamente trata essa área de
estudo.
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