segunda-feira, 7 de julho de 2014

A irrelevância do ensino da Literatura ao aluno do Ensino Médio brasileiro nos seus moldes atuais (em colégios privados)

1ª Versão
Por Aluno 3


            Por mais ineficiente que se configure a Educação brasileira enquanto instituição de importância fundamental para a formação intelectual dos jovens estudantes do país, é bastante louvável a ideia de um ensino laico e científico que, ao menos hoje, define a proposta básica do Ensino Médio de uma significativa parcela das nossas escolas privadas. Preocupante, no entanto, é o fato de algumas das disciplinas inclusas no nosso modelo padrão de plano de ensino serem, de fato, opostas aos princípios educacionais previamente citados. Dentre tais disciplinas, talvez a mais destoante em relação às propostas fundamentais do Ensino Médio privado do Brasil seja a da Literatura.
            Justamente por evocar o subjetivismo, característica essencial de toda e qualquer arte, a Literatura de forma alguma poderia ser parte constituinte de uma seleção qualquer de abordagens teóricas do conhecimento humano embasada na ciência e na objetividade, o que é bastante óbvio. Aí encontramos o nosso primeiro problema: ora, se o nosso sistema educacional é baseado em uma visão científica do mundo, tendo como principal objetivo instruir nossos estudantes através de tal perspectiva, por que plausíveis motivos estaria uma disciplina tal como a Literatura inserida nos currículos escolares?
A visão subjetivista de mundo proveniente do estudo da Literatura e da Filosofia enquanto disciplinas independentes nas escolas não é relacionável às propostas básicas de ensino vigentes, e são por demasiado quantitativamente insignificantes frente ao muito maior número de disciplinas relativas ao ensino das ciências, não tendo influência curricular suficiente para atuar como contrapeso à visão de mundo objetiva tão enfaticamente explorada em sala de aula.
            Quando questionada sobre o tema aqui discutido, a estudante E. W. do Ensino Médio, 16 anos, apresentou algumas respostas de certa forma interessantes às perguntas direcionadas a ela através de um processo de entrevista: afirma ela que considera “qualquer tipo de texto não jornalístico literatura”, e, logo após, diz que a Literatura a ela ensinada pela escola aborda somente “as leituras obrigatórias da UFRGS” (leituras requisitadas dos alunos relativas ao vestibular da Universidade Federal), ou o cânone literário. Essas afirmações indicam a seguinte situação: o ensino da Literatura se dá, no âmbito escolar, através de uma metodologia extremamente imediatista, que tem como maior objetivo não o real estudo das diversas obras literárias e da arte escrita, mas sim a aprovação dos alunos em uma prova de seleção. De nada serve uma educação baseada em uma memória a curto prazo; quando é apresentado ao estudante qualquer matéria de estudo sob o pretexto de que ela nada mais serve do que para que se efetue a sua aprovação em um teste que nada mais é do que um breve momento de transição entre o ambiente do colégio e o da universidade, consequentemente se cria a ideia de que tal disciplina tem a sua relevância limitada a esse nível de complexidade: a Literatura foi feita para ser aprendida de maneira rasa, de modo a cumprir imediatos objetivos, e logo mais esquecida, pois não tem quaisquer maiores importâncias.
            Também foi mencionada a relação entre obras literárias “que podem gerar bons debates sobre a nossa realidade”, o que poderia ser usado como um falso argumento para contrariar o desenvolvimento de raciocínio anterior: se são analisadas obras através de um olhar filosófico, o ensino não é imediatista, mas sim relativo a uma formação intelectual a longo prazo. O problema que representa essa afirmação da nossa entrevistada, no entanto, é de outra natureza.
            Bem, de fato é bastante relevante essa característica da Literatura em se configurar tão facilmente como matéria interdisciplinar às disciplinas de Filosofia, História, Sociologia, Línguas Materna e Estrangeira, mas pensemos prática e logicamente quanto a tal situação: se, nas aulas do Ensino Médio, ao menos da rede privada de ensino, como nos confirmam os resultados da nossa entrevista, a Literatura abordada por si só, sem relação explícita com quaisquer outras disciplinas, configura uma aula extremamente fútil e regida por objetivos imediatistas, como vimos anteriormente, e apenas se desvencilha desse ensino pouco prestativo ao desenvolvimento intelectual do aluno quando relacionada a outras disciplinas quaisquer, então por que concedemos uma independência curricular à Literatura? A relação entre uma específica leitura e as aulas de Filosofia poderia, muito certamente, ser desenvolvida dentro destas mesmas aulas de Filosofia; leituras de obras literárias em aulas de História muito certamente auxiliariam os professores da disciplina a chamarem a atenção dos alunos em relação à matéria ensinada. Pode-se até mesmo dizer, talvez, que seja impossibilitada essa verdadeira utilização de leituras dentro dessas disciplinas justamente porque é concedido um espaço único na grade curricular das escolas à disciplina de Literatura. Um argumento talvez digno de reflexão.

            Não está aqui sendo defendida a ideia de que o estudo da Literatura é, por si só, inútil ou não recomendável aos jovens estudantes do nosso país (tal afirmação não teria qualquer sentido ou coerência), mas sim que o modo como se configuram as aulas relativas à disciplina é completamente incoerente e irrelevante (à formação intelectual dos alunos). Jamais será incentivada a leitura e o estudo das obras literárias por um sistema de educação que organiza de maneira tão irracional os seus currículos escolares, e que tão desrespeitosa e injustamente trata essa área de estudo. 

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