quarta-feira, 26 de julho de 2017

DE TRAJETÓRIAS E RECOMEÇOS

Reescrita
Aluno 167


Ao considerar minha trajetória de experiência com a leitura posso ressaltar os três principais pontos que a marcaram: o primeiro contato, a aprendizagem de fato e o reencontro. Acredito que essas são as partes que melhor retratam e resumem o meu percurso porque foi através dessas que fui formada como a leitora que sou hoje.
Eu tinha em torno de quatro anos de idade quando ocorreu meu primeiro grande contato com a leitura: ganhei meu primeiro livro. O presente foi de um tio e era da coleção do Silvio Santos com a história da Chapeuzinho Vermelho. Ele acompanhava um CD com a narração e, é claro, eu fiquei por horas e dias ao lado do rádio ouvindo a narrativa e observando as figuras. Eu levava uma cadeira para perto de uma estante baixa que tinha em minha casa, onde ficava o rádio, apoiava o livro sobre ela e passava a ouvir o conto e folhear as páginas.  Não sei dizer exatamente em quanto tempo isso aconteceu, no entanto sei que em um certo dia eu já havia decorado toda a história, onde começava e terminava a fala de cada personagem e até o momento de virar a página.
Minha mãe, ao ver meu grande interesse, resolveu comprar outros livros para mim. Dessa vez foi uma coleção de contos e fábulas infantis, eram, ao todo, doze historinhas sobre temas diversos. Hoje, observando esse ato dela, percebo que foi o primeiro passo em relação ao grande papel que a família exerce nessa situação, como afirma Rottava:
[...] a família também não deve deixar somente para a escola o papel de despertar, incentivar e motivar a leitura. Grande parte dessa responsabilidade é também dos pais, que devem proporcionar aos seus filhos o acesso às publicações e incentivá-los à leitura. (ROTTAVA, 2000, p. 13)
Nesse período, eu ainda não havia aprendido a ler, então minha relação com esses livros era apenas pela leitura de outrem e de minha observação das figuras.
Por volta dos seis ou sete anos, finalmente aprendi a ler, ou mais especificamente, a decodificar a língua. Nesse momento, a leitura não era, como afirma Britto (2012, p. 29): “para deleite pessoal, fruição, entretenimento, como quando se pega um livro ou uma revista e deixa-se que o pensamento flua sem compromisso ou objetivo além do prazer de ser e de experimentar situações, ambientes, acontecimentos”. A leitura possuía o propósito de aprender a língua, ou seja, não era livre para estimular a imaginação e explorar emoções; se detinha apenas em aprender os verbos, pronomes, substantivos e outras classes gramaticais.
E dos meus sete anos em diante, durante um considerável tempo de escola, todos os dias eram praticamente iguais: chegar na escola, abrir o livro, copiar um texto, responder alguns exercícios de gramática; chegar em casa e fazer as tarefas que eram as mesmas que fazia durante as aulas. Isso fez com que eu perdesse o interesse pela leitura porque eu não sabia que existiam outras possibilidades para ela.
Esse desgosto pela leitura durou anos. Quando tinha aproximadamente treze anos aconteceu o meu reencontro com a leitura: ganhei três livros românticos escritos por Nicholas Sparks. Muitos o julgam, mas eu o agradeço por me fazer retornar a ter vontade de ler algo e adentrar esse universo da leitura. A partir desse instante, comecei a ler os gêneros mais variados; fui de Nicholas Sparks e Agatha Christie até Machado de Assis, por exemplo.
Concluí duas coisas com esse reencontro: a primeira foi que é possível ter prazer na leitura, aproveitar cada frase ou verso sem um propósito fundamentalmente escolar; e a segunda, e não menos importante, foi que algo sempre está sendo aprendido durante o ato de ler, não é porque tal livro não foi pedido pela escola que ele é inútil. Hoje, já eliminei todo e qualquer trauma em relação aos processos de leitura e, consequentemente, tento absorver e aproveitar ao máximo mesmo daquele livro/artigo obrigatório e maçante.
REFERÊNCIAS
BRITTO, Luiz Percival Leme. Leitura: acepções, sentidos e valor. Nuances: estudos sobre educação, São Paulo, v. 21, n. 22, p. 18-32, jan/abr. 2012.
ROTTAVA, Lúcia. A importância da leitura na construção do conhecimento. Revista Espaços da Escola, Ijuí, Editora UNIJUÍ, a. 9, n. 35, p. 11-16, jan/mar. 2000.

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