sexta-feira, 21 de julho de 2017

Leitura de diário

Aluno 170
Reescrita


Em uma viagem para o Rio de Janeiro há cerca de dois anos – eu tinha dezenove –, visitei uma exposição em uma galeria de arte que me chamou muito a atenção. Era sobre pessoas com doenças psicológicas, e em um canto de uma sala haviam alguns diários. Lembro de passar horas sentada, sozinha, os folheando.
Um dos diários me tocou em especial. O autor, em todas as páginas, ilustrava algo e, a seguir, escrevia o que aquele desenho significava para ele. Algumas representações poderiam ser consideradas “bobas”, como por exemplo o desenho de uma árvore, em que logo abaixo a palavra árvore estava escrita, não possuindo nenhuma relação de codependência entre elas. Mas para mim significou muito. Ele tentava passar de todas as maneiras para o papel o que estava sentindo em seu interior, e até pode ser que ele de fato não conseguisse transmitir a mensagem real, mas ele queria. E tentava. Página por página.
Britto (2012), em seu texto intitulado “Leitura: Acepções, sentidos e valor” discorre sobre o fato de existir diferentes intérpretes diante de um mesmo texto, estes podendo chegar a conclusões completamente distintas – e muitas vezes opostas –, sendo impossível afirmar que um estaria mais de acordo com o sentido da informação proposta pelo autor do que o outro. Pensando na escrita de um diário, o escritor provavelmente não possui expectativa alguma frente a seus leitores, até porque ele não espera que tais leitores efetivamente existam.
Com efeito, aquele diário que folheei era extremamente pessoal. E não há como ter a certeza de que alguém tenha captado a mensagem que ele estava transferindo para o papel, pois esta vinha do interior do autor e tinha como remetente ele próprio. Talvez com o propósito de conhecimento de si mesmo, ou organização de pensamentos, não há como saber. Apenas pode-se realizar distintas interpretações a partir das linguagens que ali estavam colocadas. As necessidades, nessa perspectiva, mudam e é nisso que fixamos a nossa leitura, nos fazendo capazes de decifrar códigos e trazer a leitura para contextos e vivências próprios.
Britto ainda afirma que “A mediação com o real se fez pela apresentação de outro real, imediatamente vinculado ao fato objetivo.” (BRITTO, 2012) O uso dos dois tipo de linguagem no diário daquele autor se fez para isto, apresentar o texto de distintas maneiras, a fim de um único objetivo: o melhor entendimento. A linguagem não-verbal, desta forma, em um mesmo plano que a verbal, está sendo usada como complemento da outra, portanto, elas não possuem relações de dependência, mas sim andam juntas. As linguagens, neste caso, devem indicar igual sentido e estão sendo usadas para representação de um mesmo tema.
Diante das inúmeras representações de leitura percebe-se que ler, compreender e codificar o que está sendo passado por outro indivíduo é sempre de grande importância para um conhecimento pessoal. Assim sendo, observo que diários são fatores de grande importância no meu desenvolvimento interior. Creio, também, que as distintas significações encontradas neles são como uma forma de ressignificação, tendendo a serem ótimas para qualquer leitor, assim como aquele diário fora para mim.
REFERÊNCIAS

BRITTO, Luiz Percival Leme. Leitura: Acepções, sentidos e valor. In: Nuances: estudos sobre educação. V.21, n. 22, p. 18-32, jan./abr. 2012.
KLEIMMAN, Angela B. Abordagens da leitura. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 7, n. 14, p. 13-22, 1o sem. 2004

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