Aluno 121
Reescrita
Na minha família existiu uma personagem que, mesmo sem eu a ter conhecido, me transformou totalmente e cuja história serve como uma profunda reflexão sobre a simplicidade da vida. Seu nome era Jaluza, irmã de minha bisavó. Minha vó contava histórias dela para mim e para meus primos desde que éramos pequenos. De como fora uma criança problemática, sempre ranzinza com as irmãs. Em geral estava sempre de mau humor, reclamava de tudo, se achava injustiçada pela vida por não ser dotada de grande beleza e nem de grande inteligência e, talvez por isso, vivia num mundo só seu.
Contudo, mesmo contra todas as expectativas, arranjou namorado, noivou, casou e teve dois filhos. O marido era um santo e padeceu nas mãos dela. Por isso teria morrido cedo de problemas no coração. De qualquer forma, Jaluza teve uma vida tranquila, vivia muito bem com a pensão e as rendas que recebia pela morte do marido. Ocasionalmente viajava. Sozinha. Frequentava restaurantes finos. Sozinha. Se vestia bem e não fazia questão de convidar parente algum para visitá-la.
O grande evento de sua vida só veio a ocorrer apenas por volta dos setenta anos. Jaluza adoeceu. Aos poucos foi ficando apática, sem entusiasmo para interagir com os outros, até que mal tinha condições para realizar as tarefas básicas do dia a dia. Devido ao elevado nível de isolamento que ela desenvolvera, agia quase como um robô e por isso precisou ser hospitalizada. Viveu seus últimos meses numa cama de hospital.
A sua triste realidade, no entanto, tornou-se transformadora. Para surpresa dela mesma, tanto as irmãs, como sobrinhos e sobrinhas se revezavam nos cuidados com ela. Seus familiares não pensaram duas vezes em lhe socorrer da forma como conseguiam. Traziam seus doces favoritos, livros e se disponibilizavam a passar tardes e noites com ela. Mesmo impossibilitada de sair da cama do hospital, aos poucos Jaluza começou a se sentir melhor. O simples contato e a singela interação com seus familiares provocou nela uma sensação de felicidade que há muito tempo ela não experimentava.
Então ela se deu conta de como tinha passado seus últimos anos. De como tinha se aprisionado num universo extremamente egoísta. Não conseguia acreditar que não refletira minimamente sobre a bondade dos outros. Percebeu que passara a sua vida de forma solitária e nos seus últimos dias pediu perdão à família por não ter demonstrado seu amor.
Ouvindo as histórias de tia Jaluza e refletindo sobre seu final de vida trágico percebi que no meu próprio convívio dentro de casa eu não valorizava a bondade dos meus familiares. Principalmente a da minha mãe. Mesmo eu tendo uma relação bastante forte com ela, fui esquecendo da individualidade dela, que mesmo trabalhando o dia inteiro indo de um lado para o outro, pois ela é professora particular, ela fazia de tudo para trazer leveza para o dia a dia da família. Percebi a importância de retribuir toda a disponibilidade que ela arranjava para mim, seja dando um minuto de atenção que normalmente eu não oferecia ou ajudando nas tarefas de casa.
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