segunda-feira, 10 de julho de 2017

Um presente

Reescrita
Aluno 115


Olhando pela janela de minha casa, observava a cada mês a família Rosa se preparar para a chegada de sua nova filha. Os moradores da rua falando a respeito, acumulavam expectativas sobre a criança – ia ser mais parecida com o pai? Agitada como a irmã? Inteligente como a mãe? Assim junto a família comemoramos as etapas da gestação: a descoberta da gravidez, o chá de fraldas. Mas quando o nascimento chegou foi diferente.
         O que eles fizeram para merecer isso? - Lamentavam todos ao saberem do nascimento de Maísa. Minha casa estava de luto, tentávamos nos convencer de que aquilo não era real, quem sabe um engano médico ou um boato? Questionamentos como o que Maísa poderia ou não fazer, povoavam nossas cabeças. Isso ocorreu há dois anos e hoje me pergunto o porquê de termos reagido dessa forma. Afinal, se aguardamos o nascimento de uma vida, e essa, de fato chegou, por que não comemorar?
         Em 2015 eu, assim como muitos ainda pensam, temia passar algum dia pela situação da família Rosa. Sim, há dois anos meu pensamento era medieval, alguns encaravam o fato como um castigo de Deus sobre a família, outros não disfarçavam a tristeza ao saber da recém-nascida. Encontrar uma resposta para aquele ocorrido, angustiou-me durante algum tempo.
         Foi ouvindo os relatos de minha vizinha que tive meu grande aprendizado. “Sua filha tem Síndrome de Down” disse rispidamente, a médica logo após o nascimento. O choro inevitável das mães ao verem seus pequenos pela primeira vez, não tinha, em parte, o mesmo sentido pra mãe de Maísa. Ao chegarem em casa da maternidade, choraram abraçados os pais do bebê, e se questionaram o porquê daquilo acontecer com eles. Nos primeiros dias a casa estava sempre cheia, eram amigos e familiares que se acaso, não tivessem respostas para trazer, uniam-se a eles em busca delas.
         Esta empreitada felizmente chega ao fim quando eles recebem a visita de um pastor de sua igreja. Esse é o responsável por satisfazer seus questionamentos e nos dar a grande lição. Deus os havia confiado um presente porque eram capazes e fortes o bastante para merecê-lo. A partir de então, não vimos mais aquele acontecimento como um fardo na vida de meus amigos, e sim como um presente, um presente tão grande que eles dividem com todos ao redor: Maísa é um presente para todos.
         A menininha mais simpática que conheço, sempre que me vê, ela abana do portão e sorri. Se a porta está aberta, pode ter certeza que em pouco tempo ela vai entrar e pedir minhas pelúcias para brincar. É uma criança que se apega a qualquer pessoa, sem contar que é muito criativa na hora de aprontar.  Sim, Maísa tem Síndrome de Down, mas isso não faz a menor diferença.

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