Aluno 158
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A leitura sempre foi algo que desperta meu interesse, desde muito nova me lembro de gostar de ler, e escrever também, porém meu gosto literário era muito limitado, sempre os mesmo livros com o mesmo tipo de história, outras coisas não me chamavam atenção. Isso mudou quando eu estava no ensino médio, entre tantas leituras obrigatórias para a aula de literatura que eu reclamava uma em específico me chamou atenção e mudou totalmente minha maneira de ver essa arte.
Lembro de ler meus primeiros livros com mais ou menos dez anos de idade, livros que não fossem aqueles infantis de sete páginas no caso, e era certo que quando eu começasse a ler só pararia ao terminar, clamando pelo próximo. Ficção, livros infantis e juvenis, pequenos romances com linguagem nada rebuscada, não passava disso. Eu via a leitura apenas como algo para me distrair, ler uma história ligeiramente banal e previsível, isso durou até os meus 15 anos mais ou menos. É normal para uma criança/ adolescente achar determinadas leituras chatas, mas dificilmente nos mostram, nessa idade, a beleza de um clássico brasileiro, por exemplo.
Com 15 anos, odiando literatura na escola, reclamando o quão chato era e escapando de ler os livros, certamente isso refletiria na minha nota. Assim, precisando de uma nota absurda para aprovação, fui obrigada a ler o livro exigido daquele ultimo bimestre: Terras do Sem Fim, Jorge Amado. A leitura não se encaixava com minha realidade, tinha uma linguagem bem mais difícil da que eu estava acostumada e além de longo era um livro dos quais nunca leria por vontade própria. Ainda assim, me apaixonei por cada página, por cada desavença entre Horácio e os Badarós, cada descrição da mata Sequeiro Grande.
Em A Importância da Leitura na Construção do Conhecimento, Rottava (2000) a autora destaca que a leitura constrói o conhecimento e deve provocar no leitor uma reação. Assim, finaliza o texto:
Acredito que a leitura deve provocar no leitor uma reação. Essa, por sua vez, permitirá que sejam emitidas opiniões, pois aceitar ou recusar um tema ou um assunto é, muitas vezes, o ponto de partida para a construção do conhecimento.
Com essas palavras destaco que a minha leitura até os 15 anos era apenas para a distração, lia histórias com enredos muito parecidos e nada me desafiava a opinar, concordar ou discordar, o que não é errado, porém a leitura, literatura e qualquer texto em geral têm muito para oferecer a nós leitores, além do lazer. Perceber isso na prática mudou minha visão de maneira que, a partir dali, tudo aquilo que eu lia conseguia ver um objetivo, um aprendizado, qualquer que fosse.
Infelizmente isso não nos é mostrado, nem quando crianças nem quando adultos, a leitura sempre nos é imposta como obrigatória para determinada atividade, sendo levada como chata e monótona. Na escola não aprendemos como um livro pode nos encantar, como aquela história pode ser interpretada e o conhecimento que dela pode se tirar, nem mesmo como uma revista ou jornal pode ser matéria para concordarmos e discordarmos daquilo ali escrito, desenvolvendo nosso conhecimento de mundo. Temos que ler o livro porque a prova será sobre ele e temos que ler as revistas e jornais para entender o que esta acontecendo na sociedade, ou seja, automaticamente concordar com o que está ali escrito.
Rottava explora a idéia de que a escola faz de seus alunos apenas alfabetizados (ensina a decodificar textos) e não letrados (ler e escrever com freqüência e participar de atividades relacionadas). Compreendo muito bem essa realidade, porém, como destaca ela, não é apenas papel da escola de influenciar a leitura, mas também da família e da sociedade em geral. A realidade do leitor deve ser levada em conta também, de nada adiantaria ler algo além de minha compreensão. Entretanto, não significa que se deve apenas ler aquilo que já compreendemos.
Terras do Sem Fim me mostrou a realidade do Brasil (Bahia mais precisamente) no início do século XX, pois como admiradora também de história suscitou-me interesse. Entendi que uma trama para ser boa e emocionante não precisa ser entre adolescentes americanos apenas. Que a natureza, que tanto admiro, pode ser descrita de maneira a encantar o leitor, que personalidades tão fortes de personagens podem me mostrar uma maneira nova de ver as pessoas as quais convivo.
Nada disso me foi ensinado, com sorte eu percebi na prática, até porque a leitura não deve ser algo a ser explicado tão precisamente, apenas incentivando. Minha maneira de ler mudou, junto da de escrever, aprender e ver tudo que em mim gera alguma reação. Um curso de Letras na faculdade, que determinaria tudo que amo e tudo que quero realizar, foi decidido devido a um livro escrito 54 anos antes do meu nascimento, retratado seu enredo em um estado o qual nunca estive, com personagens totalmente diferentes de mim. A leitura a partir dali me mostrou todas as realidades que eu poderia viver, provocando em mim a melhor reação possível, infinitude, pois a terra da leitura com certeza não tem fim.
Referências:
ROTTAVA, Lúcia. A importância da leitura na construção do conhecimento. Revista Espaços da Escola, Ijuí, Editora UNIJUI, a.9, n.35, jan-mar. 2000, p11-16
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