quarta-feira, 26 de julho de 2017

Uma Terra Sem Fim:

Aluno 158
Reescrita


Com 15 anos, eu odiava literatura na escola, reclamava o quão chato era e escapava de ler os livros, certamente isso iria refletir na minha nota. Assim, precisando de uma nota absurda para aprovação, fui obrigada a ler o livro exigido daquele último bimestre: Terras do Sem Fim, Jorge Amado. A leitura não se encaixava com minha realidade, tinha uma linguagem bem mais difícil da que eu estava acostumada e além de longo era um livro dos quais nunca leria por vontade própria. Ainda assim, me apaixonei por cada página, por cada desavença entre Horácio e os Badarós, cada descrição da mata Sequeiro Grande.
   Durante toda minha infância até ali, a leitura sempre fez parte de mim. Entretanto, não pensava que essa atividade poderia ser algo tão importante em minha vida como é hoje. Jorge Amado mostrou para uma adolescente que uma literatura brasileira, cheia de regionalidades, pode ser algo encantador. Aquele final de bimestre deixou de ser estressante no momento que entrei naquele livro, fiquei completamente tomada pelo enredo.  Percebi que todos os livros, até mesmo aqueles que eu nunca escolheria sozinha, como esse, tem muito a me oferecer.
    Não fiquei apenas distraída ao ler o livro, me dispensando das provas de final de ano, achei informações sobre a história do Brasil, parte que tanto gosto de estudar. Me vi questionando a sociedade daquela época e analisando  as diferenças de hoje. Admirei a partir dali cada belo cantinho da natureza que as descrições do livro me mostraram. Analisei personalidades tão fortes de personagens, que me deram uma maneira nova de ver as pessoas as quais convivo.
   Em A Importância da Leitura na Construção do Conhecimento, Rottava (2000) a autora destaca que a leitura constrói o conhecimento e deve provocar no leitor uma reação. Assim, finaliza o texto:
                                               Acredito que a leitura deve provocar no leitor uma reação. Essa, por sua vez, permitirá que sejam emitidas opiniões, pois aceitar ou recusar um tema ou um assunto é, muitas vezes, o ponto de partida para a construção do conhecimento.
     Com isso, após terminar Terras do Sem Fim, percebi na prática o quanto a leitura pode me suscitar, além da nota máxima no boletim, claro. Então, comecei a ler os mais diversos títulos: clássicos de Machado de Assis, poemas de Cecília Meireles, Stephen King e Shakespeare. Todos despertaram em mim interesse, questionamento e conhecimento, graças a uma nota baixa na prova, não planejada, em 2012. Jorge Amado teria passado despercebido por mim se não fosse aquela prova, e, consequentemente, os demais livros que tanto gosto hoje.
  Com 18 anos li novamente Terras do Sem Fim, e devo admitir que após tantos livros lidos, me encantei novamente. Talvez fosse a lembrança de ter descoberto uma parte tão importante de mim ou talvez porque é realmente muito legal ver duas famílias brigando incessantemente. Enfim, a prova final de 2012 foi gabaritada e muito elogiada pelo professor, e agora até um panfleto em minhas mãos começou a ser lido como uma grande obra.
   Não tenho duvidas de que outro livro em outro tempo poderia despertar em mim essa visão sobre a leitura. No entanto, gosto de acreditar que um deslize de uma adolescente preguiçosa que não queria estudar para a prova foi o motivo. Que uma obra brasileira desgostada pela maioria dos jovens foi o motivo e que o elogio de um professor de literatura no meu texto sobre a obra foi o motivo.
  A leitura sempre foi algo que desperta meu interesse, desde muito nova me lembro de gostar de ler, e escrever também, porém meu gosto literário era muito limitado, sempre os mesmo livros com o mesmo tipo de história, outras coisas não me chamavam atenção. Terras do Sem Fim não é meu livro favorito em conteúdo, mas é com certeza meu preferido em significado.
  Eu fui ligeiramente forçada a ler-lo, os resumos da internet não funcionaram com ele, como com as outras obras que eu deveria ter lido. Dom Casmurro, Os Sertões e O Ateneu, eu fiz questão de ler eles devidamente após escapar nos três últimos bimestres que garanti a nota raspando e digo que me arrependo muito de ter perdido aquele ano de leituras.
   Minha maneira de ler mudou, junto da de escrever, aprender e ver tudo que em mim gera alguma reação. Um curso de Letras na faculdade, que determinaria tudo que amo e tudo que quero realizar, foi decidido devido a um livro escrito 54 anos antes do meu nascimento, retratado seu enredo em um estado o qual nunca estive, com personagens totalmente diferentes de mim. A leitura a partir dali me mostrou todas as realidades que eu poderia viver, provocando em mim a melhor reação possível, infinitude, pois a terra da leitura com certeza não tem fim.


Referências:

ROTTAVA, Lúcia. A importância da leitura na construção do conhecimento. Revista Espaços da Escola, Ijuí, Editora UNIJUI, a.9, n.35, jan-mar. 2000, p11-16



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