terça-feira, 24 de junho de 2014

Minha não-leitura

1ª Versão
Por Aluno 11


“A família também não deve deixar somente para a escola o papel de despertar, incentivar e motivar a leitura.” (ROTTAVA, 2000, p. 13). Percebes a importância da família no papel de agente incentivador ao hábito de ler? Dou início a este memorial desta maneira, convidando-te a refletir sobre o papel da família com relação à leitura.
Lembro-me de achar bonito o hábito de leitura, e embora não saiba explicar exatamente o porquê desta impressão que tinha quando criança, sei que sempre que via alguém sentado em uma praça lendo um livro, revista ou até mesmo o velho jornal companheiro de todos os dias, eu ficava a admirar e observando pensava o quão inteligente aquele leitor ou leitora poderia ser. A idade que tinha não me recordo com precisão, mas estou falando de um “piazito”, com 9 ou 10 anos de idade, que sabia ler e escrever como se espera de uma criança de tal idade. Nesta época eu sempre buscava fazer coisas que apenas os adultos da minha família faziam, então eu sentava e lia o jornal, fato que se dava de maneira toda desengonçada e atrapalhada, com um jornal que era quase do meu tamanho e que, após a minha “leitura”, terminava todo amassado e fora de ordem. Na maior parte das vezes eu lia apenas palavras isoladas e ficava assim, a passar os olhos pelas largas folhas acinzentadas, como se estivesse entendendo alguma coisa, e logo enjoava da brincadeira de ser adulto e ia fazer qualquer outra coisa.
Minha família nunca teve o hábito de ler, liam apenas aquilo que era necessário para “sobreviver” durante o dia, como anúncios, placas, rótulos, jornais e revistas. Assim os anos foram se passando e minha relação com a leitura era tão rasa que eu tinha dificuldades em ter fluência ao ler. É difícil explicar, mas mesmo não lendo eu adorava a ideia de ler um bom livro, mas o incentivo na escola era pouquíssimo, uma vez que até o último ano do ensino fundamental eu não havia tido aulas de literatura, e as aulas de português resumiam-se em aulas de gramática mal ensinadas. Porém, a deficiência do sistema de ensino não foi a total responsável pela minha falta de intimidade com a leitura, mas sim divide uma boa parcela desta responsabilidade com a falta de incentivo e exposição à literatura que minha família me proporcionou. Segundo Rottava “ler e escrever são particularmente indissociáveis” (2000, p. 14), logo, eu que mal sabia ler, também tinha dificuldades com a escrita em plena véspera de ensino médio.
Foi então que fui morar com meus avós, a fim de cuidar dos mesmos que estavam passando por um período de doença, e essa simples mudança de uma casa para outra mudou completamente a minha ralação com a leitura. Meu avô, que por muitos anos ministrou aulas de português, passou a me ensinar tudo o que ele podia sobre a língua e suas possibilidades de construção. Eu aproveitava as tardes estudando com ele e aprendi mais do que nuca. Enquanto cursava o ensino médio, despertei minha paixão pela língua e pela leitura que estivera adormecida por muito, mas que graças à exposição ao hábito de ler pude tornar-me um daqueles leitores que eu mesmo me colocava a observar quando ainda criança.

Por fim, a leitura, dentre as suas inúmeras funções, veicula conhecimento e transforma a realidade de um leitor, mas é um hábito que deve ser incentivado, despertado por alguém. Não há dúvidas de que a escola tem o papel de expor os alunos a obras literárias e ser um agente ativo nesta construção, mas a família tem um importante papel nesta formação também. Se o interesse dos alunos pela leitura vier de berço, a escola apenas terá o papel de lapidar e edificar este apreço pela leitura, gerando uma formação mais eficaz e aprofundada em termos de conhecimento.

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