Aluno 117
Reescrita
Talvez não exista pessoa em sã consciência que não coma pipoca no cinema; deliciosíssimo o barulho que ela faz, o crec das paredes do seu corpinho quebrando da mesma forma que as paredes de um velho prédio despencam em sua demolição. Pena que nem todos apreciam a sinfonia de Beethoven das pipocas e, logo pedem para você engolir a pipoca no mais tenro silêncio do fundo da sua garganta, caso contrário eles (os seus inimigos cinéfilos) o farão por você. Antes que seu vizinho, possivelmente assassino, faça-te engolir um pacote de pipocas, ensinarei-te a comê-las, e, antes, a escolher uma pipoca adequada para seu filme, pois pipoca não é qualquer acessório vulgar ou fast fashion existente.
A escolha da pipoca é tão importante quando a escolha do filme que seus olhos verão: Para um docílimo encontro com possível final amargo, recomendo as doces variadas: chocolate, caramelo, morango. Quanto mais açúcar em sua boca, mais açucarado seus lábios e, assim, mais doce será o encontro de lábios ao meio do filme; Já os filmes de utópica aventura com movimentos mega impossíveis e indesejáveis no seu dia a dia, tem-se a pipoca salgada, salgadíssima como água que os peixes navegam, maravilhosa é a necessidade que seu corpo precisa de água ao digerí-la, como se você estivesse em ação no meio do deserto; A última opção é a amanteigada: aquela que deve ser deixada para os filmes com nome na agenda, os excepcionais, supra sumo de todos os que já viste.
Entrada no cinema, o bilhete na mão, a localização do seu corpo ao assento e, agora, o início do filme. Antes de colocar a primeira pipoca na boca, olhe ao seu redor, veja se tem alguém olhando-te, imagine um cenário de guerra, pois realmente é. A cada pipoca que sua boca comerá é uma bomba que a Inglaterra atinge em solo Alemão.
Sua boca já saliva por uma pipoca, portanto pegue a pipoca em sua mão, mas não a aperte, ela é frágil, segure-a apenas com o indicador e polegar, como uma pedra preciosa. Em seguida, balance sua mão como uma bailarina russa faria, estenda-a até o máximo sem deixar a pipoca cair. Pronto. Ela está pronta para a fase dois.
Ainda com apenas o polegar e indicador segurando a pipoca, num movimento muito sutil, jogue-a para o alto, porém não o apenas alto, jogue-a tão alto que faça-a encostar no teto. Prepare-se, logo ela cai e você tem que pegá-la. Torne seu pescoço para trás e abra a boca, rápido, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um, a pipoca jaz dentro de sua boca.
Ainda não a morda. Espere. O ciclo ainda não está completo. Devemos terminar o nosso como começamos. Suba em sua cadeira, isso mesmo suba em sua cadeira; agora com a pipoca na boca faça um plié, flexione seus joelhos, sobre sua poltrona. Não se engasgue, caso contrário teremos que começar tudo novamente. Agora, desça da poltrona e se prepare para o gran finale da primeira pipoca, corra até o final da sua fileira e quando estiver acabando de um salto, um grand jetés, estique suas pernas o máximo que puder, enquanto pula, ignore os olhares, apenas pule. Quando seu pé encostar no chão abra sua boca e amasse a pipoca, escute o crec, se delicie com aquele árduo momento que foi conquistado. Pronto. A primeira pipoca de cento e quarenta e uma foi comida.
Chegou o momento da segunda pipoca, portanto pegue a pipoca em sua mão, mas não a aperte, ela é frágil, segure-a apenas com o indicador e polegar, como uma pedra preciosa. Em seguida, balance sua mão como uma bailarina russa faria, e é nesse momento que o espetáculo acontece, anteriormente era apenas um ensaio, os tambores começam a rufar, clamam por atenção, em seguida uma trombeta anuncia que a segunda pipoca vai ser digerida, a tensão fica no ar conforme a música se aprofunda, o violino aparece e destrói qualquer clima de paz que tinha no momento, a única coisa que deves fazer é atirar ao alto a pipoca; feito isso e todas as etapas anteriores, as clarinetas anunciam o fim do filme e nisso sobra você com cento e quarenta pipocas.
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