Aluno 146
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Jamais esqueci esse ocorrido que vitimou um dos meus melhores amigos. E tão notório é o fato que, em qualquer reunião onde estão presentes os que estavam naquele dia, sempre temos que relembrar esse momento, seja pela cena cômica que nos faz rir, seja pelo aprendizado que tiramos disso.
Na calçada em frente ao espaço que jogávamos futebol, no condomínio em que eu e meus amigos nos criamos, sempre passava acompanhado de sua mãe ou de seu pai um garoto que, não sei por que motivo, nós teimávamos em encará-lo ou fazer caretas para ele. Por motivo de zombaria, talvez, esse era o modo que nos portávamos toda vez que ele andava na calçada.
Eu comecei a notar a partir de um dia que o menino não virava mais o rosto quando ríamos dele, e sim nos encarava e gesticulava para sua mãe que nós estávamos debochando para provocá-lo. Tão logo me certifiquei da denúncia dele a sua mãe, passei a evitar as afrontas quando ele passava, mas meus amigos não. Certo dia, cansados já da situação incômoda, o menino e a mãe dele pararam após mais uma das provocações; eu saí correndo e me escondi, e ela pediu a meus amigos que parassem de encará-lo, pois não havia ele feito nada para nós.
Não houve resultado aquela advertência, e quis o destino que essa situação tivesse término da maneira mais humilhante possível para um dos meus amigos. Numa noite, o garoto que meus comparsas teimavam em encarar e provocar estava pedalando sua bicicleta na calçada que se estende do prédio dele ao meu. No estopim que daria fim às injúrias sofridas pelo menino, um dos meus amigos, mais exaltado, teve a audácia de desafiá-lo a descer da bicicleta e o enfrentar numa briga, mano a mano.
Acabou que todos os que estavam presentes naquele dia saíram portão afora e foram ver se o desafiado retornaria e brigaria realmente com o meu amigo. Para a surpresa de todos, o menino foi "voando" com a sua bicicleta até o portão da prédio dele, desceu dela, e retornou correndo, a pé, numa fúria tamanha que todos que o provocaram (eu ainda mais) trataram de se esconder e assistir a "briga final" por detrás dos portões.
Meu amigo levou uma coça. Nunca mais encaramos o menino, tampouco houve pedidos de desculpa da parte dele. Também não foi necessária, pois ele devia estar de saco cheio daquela situação toda, e de certa forma compreendíamos sua raiva. O aprendizado desse ocorrido? Eu nunca mais tratei de provocar, denegrir a imagem de alguém, sem antes me perguntar: "e se fosse eu nessa situação, será que eu gostaria de passar por isso, me sentiria bem?". A empatia, sentimento que põe no lugar de outra pessoa, é exercido por mim desde aquele fatídico dia.
22/04/2017
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