sexta-feira, 21 de julho de 2017

Aprendizado tardio?

Aluno 169
Reescrita


Minha experiência com leitura teve início há 3 anos. Parece estranho dizer que eu não tenha lido antes, mas quando me refiro à palavra leitura, eu quero explicitar o fato de que eu deva, obrigatoriamente, tirar algum proveito dessa ação, ou seja, eu preciso adquirir conhecimento sobre as informações e estar ciente sobre o que estou lendo. Conforme Britto (2012, p. 24), ''só faz sentido aprender a leitura do texto se for para ampliar as formas de ser e de perceber o mundo''.
Antes de 2014, minhas ''leituras'' baseavam-se apenas em textos de materiais relacionados às matérias da minha escola, em que eu apenas lia para extrair o conteúdo necessário para realizar as provas com sucesso. Entretanto, esse era um conhecimento desperdiçado, porque assim que eu terminava as avaliações, essas informações eram excluídas da minha mente. De acordo com Britto:

O simples hábito de ler descomprometido, sem a reflexão aguda do sentido das coisas, numa condição em que a pessoa é levada pelas circunstâncias e motivada por interesses pragmáticos [...] se caracteriza como uma situação de alienação. O que é alienado é automatizado, é feito mecanicamente, sem consciência dos processos de significação e, portanto, sem capacidade de ampliação de horizontes de vida. (BRITTO, 2012, p.30).

Eu consegui compreender essa situação porque naquele mesmo ano, eu me vi provocado a comprar um livro sobre alguma banda de rock. Esse interesse me foi despertado porque eu havia começado a ouvir músicas desse gênero e, consequentemente,  tive vontade de conhecer a história das bandas que eu gostava de escutar. Por isso, achei que seria interessante comprar meu primeiro livro sobre um grupo musical que eu já tivesse familiaridade, pois sabia que eu não acharia entediante, afinal, a história a ser contada seria de algo que eu mesmo tive o interesse em descobrir. Segundo Rottava (2000, p.11), ''A leitura como construção do conhecimento, portanto, deve ser autêntica, ou seja, vincular-se à realidade do leitor, responder a sua necessidade, suscitar-lhe interpretações livres e liberdade de aprendizado da língua''.
No decorrer daquele ano, eu me mantive fiel ao mesmo gênero do meu primeiro livro: ''Metallica: All That Matters''; biografias de bandas, e acabei por ler mais 5 obras nesse modelo. Entretanto, no ano seguinte, me vi obrigado a mudar um pouco esse estilo, pois iniciei os estudos para prestar vestibular, e os gêneros das leituras obrigatórias para a prova de literatura da UFRGS eram bem diversificados. Ao descobrir que eu deveria ler 12 livros para realizar a prova, me senti desesperado, pois novamente eu teria que tomar conhecimento de algo, ''por obrigação'', para ser testado em uma avaliação.
Contudo, assim que abri e li as primeiras páginas de Dom Casmurro, eu me questionei sobre o porquê de eu não ter dado chance a esse gênero textual naquele mesmo dia em que comprei o livro biográfico. Desta vez, não era um livro sobre um assunto que eu gostasse e já tivesse conhecimento; era uma novidade para mim, mas me senti como se estivesse lendo algo familiar, pois fiquei fascinado com a linguagem fácil e com a forma como me prendeu à história. Era uma sensação que me instigava a continuar lendo, pois havia um motivo grandioso para querer chegar até o fim da narrativa, afinal, Capitu havia ou não traído Bentinho?
Apenas no ano de 2015, portanto, eu inseri a leitura na minha vida, sem rejeitar outros tipos de gêneros, pois percebi que nem sempre um tema de leitura ao qual não estamos acostumados ou entusiasmados para ler, signifique que não será uma experiência proveitosa. Percebi que no momento em que decidi comprar um livro biográfico, este foi o que me abriu as portas para o mundo da leitura, de fato, pois foi a partir dele que pude ter o entendimento de uma leitura em que absorvi o conhecimento que eu esperava.
Foi muito importante eu ter iniciado a ler com um conteúdo que eu sabia que gostaria, pois, de outra forma, eu continuaria sem evoluir culturalmente, como eu - não - fazia ao estudar na escola: ler, ler, e não absorver nada de proveitoso. Conforme Rottava (2000, p. 15), ''O conhecimento textual compreende o conjunto de noções e conceitos sobre os textos e, por essa razão, a pouca familiaridade com determinado assunto pode causar incompreensão''.
Para Britto:

Lê-se para deleite pessoal, fruição, entretenimento, como quando se pega um livro ou uma revista e deixa-se que o pensamento flua sem compromisso ou objetivo além do prazer de ser e de experimentar situações, ambientes, acontecimentos.[...] lê-se, ainda, para instruir-se sobre coisas práticas ou interessantes ou em busca de ampliação de conhecimento, seja sobre história, ciência, cultura; e pode-se, também, ler como forma de autoconhecimento ou aprimoramento pessoal. (Britto, 2012, p. 29).

Portanto, mesmo que a verdadeira leitura tenha entrado na minha rotina de forma tardia, ela me trouxe conhecimentos consideráveis acerca daquilo que busquei descobrir e que, mais tarde, precisei absorver por motivos específicos. Afinal, além de entretenimento momentâneo, adquiri um aprimoramento pessoal, como é citado no trecho de Britto, que dessa forma me possibilitou ter o entendimento da importância da leitura, simplesmente me utilizando do ato de praticá-la.

Referências:
BRITTO, Luiz Percival Leme. Leitura: Acepções, sentidos e valor. In: Nuances: estudos sobre educação. V.21, n. 22, p. 18-32, jan./abr. 2012.

ROTTAVA, L. A importância da leitura na construção do conhecimento. Espaços da Escola, Ijuí, Editora UNIJUÍ, a. 9, n. 35, jan./mar. 2000, p. 11-16.

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