quarta-feira, 26 de julho de 2017

As Leitoras de Iracema

Aluno 131
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Acredito que a mania de mexer em livros foi o que me aproximou da leitura, num primeiro momento, pois, sempre me senti confortável em ambientes cheios de livros. Durante o ensino fundamental achava a biblioteca da escola enorme, e como não havia um horário específico para a retirada de livros, quando a aula estava chata, eu escapava. Ficava olhando as prateleiras altas, demorava ali. Andando pelos corredores reconhecia alguns títulos, olhava as capas, encontrava outros e através de cinco minutos, conheci José de Alencar. Aliás, uma versão de Alencar, leitora inexperiente que era, mal sabia o que estava por vir. Pouco tempo depois, ele se tornaria o autor da primeira de muitas outras leituras frustrantes.
Verdes mares bravios de minha terra natal onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba”. Desta forma, começa o clássico da virgem dos lábios de mel. Bravios, jandaia, frondes, carnaúba. Como podes ver, decorei a primeira frase, porque, em vão, comecei a leitura diversas vezes, sem nunca chegar ao fim. Recomeçava e sempre acabava não muito além das notas de rodapé. Neste sentido, Freire (1989) ressalta que “[...] a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto é feita no sentido de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala”. Sendo assim, a leitura obrigatória e mecânica deste livro, neste momento do meu processo de formação como leitora, não acrescentou saberes, pelo contrário, por haver uma falta do que Kleiman (1995) denomina conhecimento prévio, a leitura tornou-se difícil, cansativa e descontextualizada.
Continuando esta saga, no primeiro dia de literatura brasileira na faculdade, lá na lista de leituras obrigatórias da disciplina, estava Iracema novamente. Ah! Paciência, se não foi no médio, agora vai, pensei. E para minha surpresa, a leitura aconteceu muito naturalmente. Parecia outro livro, outra história, outro José de Alencar. Contudo, era o mesmo e Iracema também. Eu que me tornara outra leitora, agora não mais apaixonada pelo Mr. Darcy de Austen ou pelas aventuras de Sherlock Holmes.
Assim, é possível perceber que estas leituras estavam muito mais próximas de mim, naquele contexto, envolvendo a adolescência o ensino médio, etc. Deste modo, Brito (2012) ressalta que: “[...] Em termos claros, só faz sentido aprender a leitura do texto se for para ampliar as formas de ser e de perceber o mundo”. Por este viés, foi interessante notar esta mudança no tocante à leitura, não só do texto e sua interpretação, mas também na escolha dos textos. Evidencia que os estágios da leitura passam por um processo de amadurecimento do leitor que resulta em certa criticidade diante do texto.

Referências

BRITTO, Luiz Percival Leme. Leitura: Acepções, Sentido e Valor. Nuances: estudos sobre educação. Ano XVIII, v. 21, n.22, p.18-22, janeiro/abril 2012.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989.

KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. São Paulo: Editora Pontes, 4ª edição, 1995.

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