Aluno 170
Reescrita
Não que estivesse chovendo muito, tampouco frio ao ponto de se usar botas e cachecóis, mas era uma manhã chuvosa de inverno e Sofia saía de casa vestindo sua capa de chuva vermelha. Naquele dia ela teria uma reunião importante, da qual não poderia se atrasar, e me encontraria logo após, em uma cafeteria em frente ao seu trabalho. Ao chegar à parada de ônibus, avistou um homem falando ao telefone. Parecia eufórico e nervoso. Carregava um guarda chuva e olhava para os lados como se estivesse procurando por alguém. E foi nesse momento que ele enxergou Sofia, como se esperasse por aquilo há certo tempo. Minha amiga, então, um pouco confusa com a felicidade que ele demonstrava estar ao caminhar em sua direção, tentou agir com naturalidade, até o homem a questionar sobre algo que a causou certo estranhamento.
— Qual é a cor disto? perguntou o homem, ao apontar para o objeto que carregava em suas mãos. À primeira vista, o guarda chuva parecia ter uma coloração puxada para verde água. Quem sabe um pouco mais escuro? A confusão de Sofia foi tamanha que ela sequer pensou nas possibilidades. —Por quê? o questionou, rapidamente.
Ainda com o celular na orelha, agora o homem falava em um tom mais grave. — Espera, ela já vai me responder. Eu não acredito que saí com o seu guarda chuva de casa. Avisei para você que seria estranho. E caminhava inquieto de um lado ao outro.
— Qual é a cor desse guarda chuva? Ele é de homem ou de mulher? Olhava para Sofia um tanto impaciente, reforçando a pergunta. É provável que o homem não estivesse com o seu guarda chuva, tendo que sair de casa com o de alguma mulher que morava consigo (sua esposa, ou filha) e isso estaria lhe deixando em certo impasse: será o acessório próprio para homem, por ser de um tom claro?
Nesse momento o ônibus de Sofia chegou — É da cor que você quiser! ela gritou, e correu em direção a sua condução. A preocupação em se atrasar, no momento, era para ela maior do que o questionamento do homem e, assim, foi para a sua reunião deixando-o novamente sozinho na rua, falando ao telefone.
Horas depois, minha amiga me contou acerca dessa rápida troca de frases que tivera com o desconhecido pela manhã. Porém, como nosso tempo era curto, não nos detalhamos nesse acontecimento, passando quase que despercebido em meio a todos os assuntos que tínhamos.
Em casa, no entanto, refleti sobre essa história e sobre as generalizações que, enraizadas na sociedade, reforçam o preconceito referente a cores para diferenciação de gêneros. Conclui que, na verdade, as cores não possuem gênero, e que seja rosa, púrpura ou preto, mas que o guarda chuva seja usado. Por todos.
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