terça-feira, 18 de julho de 2017

Leitura: uma evolução na construção de sentidos

1 Versão 
Aluno 141

A leitura é um processo de atribuição de sentidos que vai além da simples decodificação de símbolos. Como muito bem colocado por Britto (2012), faz parte do imaginário popular a concepção de que a leitura é um processo benéfico. Isso ocorre por causa da importância da leitura para a formação do "conhecimento de maneira geral, contribuindo para a construção do conhecimento de várias áreas, tais como a matemática, a história e as ciências" (ROTTAVA, 2000, p. 12).
Devido a relevância do ato de ler, é necessário que os familiares se engajem no incentivo a leitura, não deixando somente para a escola essa tarefa. Segundo Rottava, a "responsabilidade é também dos pais, que devem proporcionar aos seus filhos o acesso as publicações e incentivá-los à leitura" (2000, p. 13). Nesse sentido, minha experiência pessoal reflete esse posicionamento, por ter tido em casa pais que nutriam o hábito de leitura diário. Além disso, por mais que minha vontade de ler fosse maior do que a possibilidade de adquirir os livros, não tive dificuldades em acessar a literatura que desejava. A escola funcionava como uma importante facilitadora do processo de habituação à leitura, disponibilizando uma biblioteca repleta de livros voltados para os leitores iniciantes. Além disso, uma vez por semana uma biblioteca móvel frequentava meu bairro, tornando o acesso aos livros ainda mais fácil.
Frente ao constante estímulo à leitura nos ambientes familiar e escolar, ainda durante o processo de alfabetização, resolvi me empenhar na minha primeira experiência literária com o livro "Harry Potter e a Pedra Filosofal", de J.K. Rowling. Segundo Kleiman (1995), para atingir a compreensão de um texto, o leitor necessita ativar uma série de conhecimentos linguísticos, textuais e enciclopédicos que o auxiliarão na significação do escrito. O livro, voltado para um público infanto-juvenil, não exigia conhecimentos de mundo que não faziam parte do meu conhecimento prévio. Além disso, diante do caráter fantástico do seu conteúdo, muitas das informações necessárias eram trazidas pela própria obra, objetivando criar seu universo particular. Mesmo assim, demorei cerca de um mês para ler o livro de pouco mais de duzentas páginas. Por mais que eu tivesse, como leitora, engajado meu conhecimento de mundo para realizar a leitura, faltou conhecimentos linguísticos e textuais para estruturar a formação de significação, o que demonstra a necessidade da utilização de diferentes saberes no ator de ler.
A próxima dificuldade na leitura de um livro ocorreu nos meus doze anos, momento em que precisei elaborar um roteiro para um curta metragem baseado na peça Romeu e Julieta, de Shakespeare. Na primeira leitura, não consegui me apropriar do texto suficientemente para usá-lo de base para elaborar o meu próprio roteiro. Dessa vez, eu tinha os conhecimentos linguísticos e textuais para compreender o texto, porém faltava conhecimento de mundo no meu eu ainda criança para compreender as intrincadas relações de amor e ódio desenvolvidas no drama. Encontrei na releitura da obra uma possibilidade de apreender melhor seu conteúdo, bem como na comparação de sua estrutura com uma adaptação cinematográfica. Conforme Rottava (2012), dificuldades na leitura podem ser contornadas por estratégias diversificadas, entre elas a releitura e a comparação.
Essas investidas literárias dificultosas me ensinaram mais sobre a minha habilidade leitora do que muitos livros que lia facilmente. Se a leitura é um "ato social entre dois sujeitos – leitor e autor – que interagem entre si, obedecendo a objetivos e necessidades socialmente determinados" (KLEIMAN, 1995, p. 10), então eu não conseguia, aos doze anos, dialogar com Shakespeare por meio das páginas de sua peça. Esse é um fato, contudo, que parece bastante natural, tendo em vista que leitura é um processo interativo que exige o uso ativo de diferentes conhecimentos, alguns que ainda nos faltam durante a infância. Como ressalva, eu poderia levantar a importância da escola solicitar a leitura de livros condizentes com o conhecimento prévio do aluno. Entretanto, hoje, ao revisitar as páginas do mesmo livro cuja leitura foi exigida pela minha professora, a história ainda me parece familiar e a escrita antes pouco amigável se tornou muito mais convidativa. Mesmo com as dificuldades para construir os sentidos do texto, aquele livro e estilo de escrita passaram a fazer parte do meu conhecimento prévio, sendo natural que hoje não enfrente dificuldades parecidas nas minhas novas leituras.
     
Referências
KLEIMAN, Angela. Texto e Leitor: Aspectos Cognitivos da Leitura. 4ª ed. Campinas, SP: Pontes, 1995. p. 01-27.
ROTTAVA, Lucia. A importância da Leitura na Construção do Conhecimento. Espaços da Escola, jan-mar, nº35. Editora Unijuí, 2000.
ROTTAVA, Lucia. A Leitura em Contexto Acadêmico: O processo de construção de sentidos de alunos do primeiro semestre do curso de letras. Santa Cruz do Sul, v. 37 n.63, p. 160-179, jul.-dez., 2012.
BRITTO, Luiz P. L. Leitura: Acepções, sentidos e valor. Nuances: estudos sobre Educação. Ano XVIII, v. 21, n. 22, p. 18-32, jan./abril. 2012.
        

Nenhum comentário:

Postar um comentário