Aluno 57
Reescrita
Chegaram as férias, talvez as mais esperadas de toda a minha vida. Foram meses de preparação. Enfim conheceria a cidade dos meus sonhos. Foram anos e anos de namoro em frente as telas de cinema, admirando a elegância da língua, da cultura, sempre inimaginável para mim. Sou apaixonada por cinema e para um cinéfilo que se preze conhecer essa terra é uma questão de honra. Pisar no solo de Godard e Truffaut sempre esteve em meus planos, mesmo quando nem imaginava da onde tiraria dinheiro para tanto.
As malas? Prontas a dias! Roteiro na mão. Cada lugar da cidade, cada bairro, cada monumento, tudo planejado meticulosamente. Eu sabia exatamente a onde ir, o que conhecer, o que comer, as ruas por onde andar. Já me via andando pelos mesmos caminhos e praças que envolveram Ethan Hawke e Julie Delpy em “Antes do Pôr do Sol”.
Chegou o grande dia. Eu estava a algumas horas de concretizar um de meus sonhos mais antigos. Foi a corrida de táxi mais longa da minha vida, nunca o Salgado Filho demorou tanto a chegar. Já no avião, a ansiedade a mil e uma única certeza, eu não conseguiria dormir.
Depois de assistir a todos os filmes do catálogo, ler todas as revistas, me acomodar, desacomodar, brigar com o travesseiro de pescoço e apertar o braço do meu marido a cada solavanco, começaram os procedimentos de decida. O frio na barriga, que já é comum nas descidas de avião, triplicou. Comecei a perceber umas luzinhas lá embaixo. Nuvens cinzas passavam enquanto as luzinhas aumentavam, aumentavam, aumentavam. Começaram a aparecer os telhados, um misto de bege e cinza, os telhados da música do Nei. Pouco a pouco foi ficando tudo claro, as pontes, o rio, as ilhas, Montmartre ao alto. E apertando muito o pobre braço do meu marido, eu chorei, chorei copiosamente quando, da janelinha minúscula de um avião, eu vi a cidade de Paris pela primeira vez.
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