Aluno 149
1 Versão
O ato de ler sempre esteve presente em minha vida. Desde pequena, fui introduzida ao universo mágico das palavras, um mundo extremamente encantador que fez com que eu me transportasse para histórias fascinantes, caminhando de mãos dadas com inúmeros personagens a caminho de seus destinos. Através das palavras, pude conhecer a mim mesma e ao mundo que me rodeava, e entrei fundo nos sentimentos que ficam guardados na alma. Mesmo que muitas das leituras que fiz na infância tenham me marcado profundamente, duas delas foram aquelas que realmente deixaram seus rastros em minha memória literária. A primeira foi a leitura do conto “O Aniversário”. Lembro-me que o conto de uma maneira maravilhosa, fez mudar minha visão sobre literatura, já que com treze anos eu ainda estava acostumada a ler livros e textos extremamente juvenis, romances quase bobos, histórias sem relevância. Ao ler o conto, me senti impactada pela história de uma mulher que se mata por amor. Sentada no velho sofá da pequena sala de minha casa, folheava cada uma das páginas, relendo-o diversas vezes até praticamente decorar cada palavra. Poderia até ser uma história simples, mas a narrativa foi tão forte e inovadora em certos pontos que me deixou completamente extasiada. A partir disso, ler tornou-se para mim algo de valor inestimável, e através da literatura, comecei a refletir e compreender o ato de ler como um processo de formação social e de identificação, criando sujeitos que através da leitura interpretem o mundo, dando a ele seus significados, pois segundo BRITTO (2012, pág. 24) “toma-se “mundo” como universo significativo a ser desvendado pela projeção subjetiva, sendo todas as expressões manifestações de ações interpretativas do sujeito. ”
A segunda leitura que me marcou foi a do livro “Lolita”. Quando li o livro integralmente tinha por volta de catorze anos, e adorei-o tão intensamente que na época acabou tornando-se meu livro favorito. Por não ter uma visão literária crítica, ainda não entendia muito bem que o livro tratava a questão da pedofilia de modo extremamente escancarado, problema que hoje, depois de quase dez anos, percebo claramente. Quando o li primeiramente, acreditei tratar-se de uma história de amor entre um homem e uma menina que se vê só no mundo, e por isso, detalhes como esse não chamavam minha atenção. Na adolescência, a leitura significava nada mais que entretenimento, era minha maneira de fugir dos problemas que enfrentava e de certa maneira, encontrar nas palavras minha própria liberdade.
“Lê-se para deleite pessoal, fruição, entretenimento, como quando se pega um livro ou uma revista e deixa-se que o pensamento flua sem compromisso ou objetivo além do prazer de ser e de experimentar situações, ambientes, acontecimentos. “ (BRITTO, 2012, pág 29).
As leituras de “O Aniversário” e “Lolita” foram determinantes na minha formação como leitora. Os personagens, suas falas, seus dilemas, acabaram por me incentivar a ler vorazmente e cada vez mais. Ainda que hoje meus gostos literários tenham mudado, sendo livros sobre cinema e história minhas grandes paixões, essas leituras marcaram não só minha adolescência, mas igualmente fizeram-me perceber a capacidade que o ato de ler possui em mudar nossa concepção da vida e do mundo.
O gosto não é a manifestação de determinações biológicas ou genéticas nem fruto de uma aprendizagem autodirigida e imanente; gosto se aprende, se muda, se cria, se ensina. Trata-se de um a questão delicada e tensa, uma vez que ninguém tem a verdade do gosto e do bom, as escolhas e as avaliações são sempre processos conflituosos, com múltiplas dimensões [...] (BRITTO, op. cit. , pág 31).
REFERÊNCIAS
BRITTO, Luiz Percival Leme. Leitura: acepções, sentidos e valor. Nuances: estudos sobre Educação, São Paulo, Ano XVIII, v. 21, n. 22, p. 18-32, jan./abr. 2012. Disponível em: <http://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/view/1619/1555>. Acesso em: 12 jul. 2017.
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