quarta-feira, 26 de julho de 2017

Memórias Através das Palavras

Reescrita
Aluno 149


O ato de ler sempre me acompanhara durante minha vida. Desde a infância, adentrei neste universo mágico das palavras, um mundo encantador, que me transporta para inúmeros lugares e épocas apenas virando as páginas de uma boa leitura, embarcando junto com os personagens em suas jornadas, acompanhando seus passos e seus destinos, criando um elo especial com eles. Através das palavras, pude conhecer a mim mesma e ao mundo que me rodeava, e entrei fundo nos sentimentos que ficam guardados na alma. Embora a quantidade de leituras realizadas na infância tenha me causado enorme impacto, especialmente uma tem uma marca profunda em minha memória literária.
Foi a leitura do conto “O aniversário”. Tenho viva em minha memória as palavras desta história. Foi a partir da leitura desta obra que minha visão sobre literatura mudou completamente, já que aos treze anos, estava acostumada a ler histórias bobas, muito genéricas e sem importância para a contribuição da minha formação como leitora. Sentada no velho e aconchegante sofá da pequena sala da minha casa, folheava cada página e relia várias vezes até decorar cada palavra daquela história em minha memória. Embora esta história possa ser considerada muito simples, a narrativa foi tão forte, e em determinados pontos, inovadora, que senti durante a leitura um profundo êxtase.
Um texto curto, de linguagem de fácil compreensão, mas, que me marcou profundamente com as imagens criadas em minha cabeça com as descrições da autora: a noite chuvosa, o amante que dá a devastadora notícia que vai abandonar a mulher que o ama intensamente por estar apaixonada por outra, a presença obscura do quadro O aniversário, de Marc Chagall, que dá o título do texto e ganha um significado peculiar, pois a mulher que é abandonada por seu amante deseja que os dois sejam apaixonados e sempre fiquem juntos, como o quadro da pintura. E, ao final, quando ela comete suicídio, o sangue respinga na obra de arte inteira, que ela tanto amava, assim como seu amante. Foi com a leitura desta história, que descobri que um texto, quando bem escrito, é capaz de formar imagens em nossa mente a partir da nossa interpretação da história, criando nossa própria forma de leitura:
Não há dúvida de que a imagem “fala” (às vezes, uma imagem vale mais que mil palavras) e que em muitas situações discursivas contemporâneas interage de forma estrita com o texto. A imagem não é a fala codificada, a não ser no caso de escritas pictográficas ou ideogramáticas, situação em que efetivamente se está diante de uma escrita. (BRITO, 2012, p. 26)

A partir daqui, ler se tornou algo essencial em minha vida, pois através da literatura, pude conhecer e questionar mais sobre minha própria pessoa, podendo assim, entender o ato de ler como um processo de formação social e de identificação, criando sujeitos que através da leitura interpretem o mundo, dando a ele seus significados, pois segundo BRITO (2012, p. 30): “Disso se pode concluir que promover a leitura seria promover uma forma de pertencimento crítico ao mundo. Um valor, portanto. Um valor que carrega um princípio de humanidade e que implica, mais que o simples hábito, uma atitude. ”
A leitura do conto “O aniversário” foi determinante na minha formação como leitora. Os aspectos desta história me incentivaram a ler intensamente e constantemente. Embora, minhas preferências literárias tenham mudado com o tempo, sendo a leitura de livros sobre Cinema e História minhas grandes paixões, esta leitura que fiz em minha adolescência não marcou só esta época que vivi, mas também me fez compreender a leitura como um ato que muda nossa visão sobre a vida e o mundo.
Ler o contexto, ler a mão, ler o jogo, ler o mundo, ler um quadro, ler um filme são ações culturais e intelectivas diferentes de ler o texto, com maiores ou menores aproximações. De fato, ao pôr-se como sujeito diante do mundo, a pessoa, na busca da compreensão dos fatos, realiza múltiplas ações, quase sempre de modo articulado. Ler é uma delas. (BRITO, op. cit., p. 28)




REFERÊNCIAS

BRITTO, Luiz Percival Leme. Leitura: acepções, sentidos e valor. Nuances: estudos sobre Educação, São Paulo, Ano XVIII, v. 21, n. 22, p. 18-32, jan./abr. 2012. Disponível em: <http://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/view/1619/1555>. Acesso em: 12 jul. 2017.

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