Reescrita
Aluno 129
Com base em diversas pesquisas podemos perceber que o hábito de leitura – contrariando o que a maioria das pessoas pensam – está aumentando no Brasil, porque elas estão criando consciência de que a leitura é necessária não somente para adquirir conhecimento, e que pode sim tornar-se algo voltado para seu entretenimento. De acordo com Britto (2012) a sociedade já enraizou em seu senso comum que “ler é bom”, e julga aqueles que praticam esse hábito nas suas vidas como sendo mais “sábios” do que os outros.
Desde muito cedo, o hábito da leitura pode proporcionar às crianças o estímulo imaginativo, desenvolver a criatividade e até mesmo ajudá-las a aprimorar a aquisição da sua linguagem. Esse exercício se torna prazeroso quando a partir da leitura a criança consegue conectar-se com o seu mundo através dessas experiências literárias – seja imaginando-se no lugar de um personagem ou simplesmente recriando os cenários na sua mente; sobre isso lê-se em Freire:
Ao ir escrevendo este texto, ia "tomando distância” dos diferentes momentos em que o ato de ler se veio dando na minha experiência existencial. Primeiro, a “leitura” do mundo, do pequeno mundo em que me movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo de minha escolarização, foi a leitura da “palavramundo”. (FREIRE, 1989, p. 9).
Minha experiência com a leitura começou quando eu tinha mais ou menos seis anos – prática na qual aprendi sozinha – com apenas um gibi da Turma da Mônica e minha batalha contra aquelas letras que confundiam a minha cabeça. Logo após esse aprendizado, eu queria explorar mais o novo mundo que a literatura poderia me proporcionar, então passei a frequentar a biblioteca da escola. Porém, o meu gosto pelos livros e o desejo de querer ler cada vez mais foi algo que “nasceu” espontaneamente dentro de mim, de forma inata, ao contrário da maioria das crianças que foram incentivadas pelos pais; incentivo no qual é muito importante para a formação do conhecimento da criança, de acordo com Rottava em:
De outra perspectiva, a família também não deve deixar somente para a escola o papel de despertar, incentivar e motivar a leitura. Grande parte dessa responsabilidade é também dos pais, que deve proporcionar aos seus filhos o acesso às publicações e incentivá-los à leitura. (ROTTAVA, 2000, p.13).
Então, em pouco tempo já tinha me tornado frequentadora assídua da biblioteca, passando a ser conhecida por lá e até mesmo amiga dos bibliotecários – um deles era pai de um dos meus colegas de classe – e eu ficava conversando com eles no período que estava lá. Lembro-me também de ficar horas e horas naquele lugar, entre as prateleiras, folheando páginas e procurando aquele livro que seria o meu companheiro da semana – admirada com a variedade de obras e com aquelas capas bem desenhadas e coloridas.
A leitura foi como uma válvula de escape para minha vida, e esse processo de ler para me distanciar da realidade vivida é uma coisa que faço desde aquela época em que eu passava muito tempo na biblioteca; por ter poucos amigos e a falta de alguém pra conversar, acabei muitas vezes me isolando e dedicando meu tempo a essa atividade que pode parecer simples mas pra mim é algo muito importante. O período em que eu mais li foi quando minha mãe estava internada no hospital por causa da depressão pós parto – quando minha irmã nasceu – nessa época morei com meus avós mas não possuía uma relação muito próxima com eles; então a leitura foi a maneira que encontrei para suprir o sentimento de vazio causado pela ausência da minha mãe.
Uma obra muito importante para mim como leitora foi “O pequeno príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry – li esse livro no início da adolescência mais para me divertir mesmo e após um tempo reli-o – na primeira leitura não compreendi muito bem a mensagem do livro, mas depois que fiz a releitura de forma mais detalhada pude perceber uma filosofia que estava escondida ali naquelas páginas que eu não tinha “enxergado” quando lera outrora.
Uma das funções da leitura é proporcionar o desenvolvimento do pensamento crítico, e a partir da minha experiência com “O pequeno príncipe” pude modificar a leitura de mundo que eu possuía antes de conhecer a obra. Segundo Freire:
A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura
desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. (FREIRE, 1989, p. 9).
O desfecho dessa obra me proporcionou uma reflexão imensa, porque “julgando o livro pela capa” achei que se tratava de um mero livro infantil, mas estava completamente enganada pois “O pequeno príncipe” abrange grandes ensinamentos sobre diversos temas, e um deles é o verdadeiro significado do amor. Então, da mesma maneira que a rosa foi cativada pelo príncipe, também me sinto responsável pelas leituras que passaram até o presente momento pela minha trajetória e que por mim foram cativadas.
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REFERÊNCIAS:
BRITTO, Luiz Percival Leme. Leitura: Acepções, sentido e valor. In Nuances: estudos sobre Educação. Ano XVIII, v. 21, n.22, p. 18-32, jan./abr. 2012
ROTTAVA, Lucia. A Importância da Leitura na Construção do Conhecimento. Espaços da Escola, Ijuí, Editora UNIJUÍ, a. 9, n. 35, jan.-mar. 2000, p. 11-16.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados: Cortez. (Coleção polêmicas do nosso tempo; 4).
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