quarta-feira, 26 de julho de 2017

O meu Mundo de Sofia

Reescrita
Aluno 174


- Pense em tudo o que aconteceu no decorrer de um único dia. Concentre-se num único dia de sua própria vida e pense em tudo o que você vê e experimenta. [...]
- Acontece que muitas pessoas colecionam coincidência como essas. Elas colecionam experiências misteriosas ou inexplicáveis, extraídas da vida de alguns milhões de pessoas, que depois são reunidas num livro e apresentadas ao leitor como farto material de prova. E este material cresce a cada dia. (GAARDER, 1995. p. 498)
Minha mãe tinha um tal livro. Ele me encarava da estante e eu o olhava com aquela curiosidade de criança. Para uma menina de 6 anos, ele era enorme, suas mais de quinhentas páginas me deixavam impactada. Será que um dia eu conseguiria ler esse livro tão grande e entendê-lo? Na sua capa, um fundo azul com pontinhos brancos e uma imagem no meio que trazia cartas, um óculos, um globo, livros e um relógio. Tudo nele era um grande mistério, inclusive o seu título e o nome meio esquisito do autor. Minha mãe percebia que eu gostava dele e me mostrava às vezes contando um pouco do que estava escondido ali.
Grande parte dessa responsabilidade é também dos pais, que devem proporcionar aos seus filhos o acesso à publicações e incentivá-los à leitura. (Rottava, 2000)
Cresci um pouco e o livro parecia cada vez menos intimidador, porém não deixava de ser interessante e atrativo. Havia chegado a hora que eu me aventuraria por suas páginas e foi o que aconteceu. 'O Mundo de Sofia' abriu suas portas para mim e lá eu estava. Na Noruega junto com Sofia aprendendo filosofia e tentando desvendar o mistério das cartas e cartões postais. Outro universo se abriu e eu vi que minha vida com os livros não pararia por aí. Já havia percebido isso antes com meu amor pela Eva Furnari, porém a literatura de “gente grande” se apresentou ainda mais atraente.
Algo surpreendente sobre esse livro foi a forma que ele me fez pensar em tudo o que eu poderia conhecer e a quantidade de conhecimento que podia adquirir através deles. Sempre fui uma entusiasta do conhecimento, tentando ao máximo aprender tudo o que eu podia e esse livro me mostrou a primeira possibilidade de fazer isso sozinha. Foi o primeiro livro que me desafiou intelectualmente. Ele me induzia a questionar tudo o que eu vivia e experimentava com as próprias questões apresentadas a protagonista da história.
De onde vem o mundo?
Não faço a menor ideia, pensou Sofia. Mas também ninguém sabe! E apesar disso Sofia achou a pergunta pertinente. Pela primeira vez em sua vida ela pensava que era praticamente impossível viver num mundo sem ao menos perguntar de onde ele vinha. (GAARDER, 1995. p. 17-18)
É claro que como a própria capa diz é um 'Romance da história da filosofia', então fazia sentido que eu ficasse tão impressionada. As teorias filosóficas me foram apresentadas e isso não havia acontecido antes. Pensando em como um conhecimento que eu nunca havia sido apresentada auxiliou na minha formação intelectual, Rottava escreve sobre a ajuda da leitura e o seu foco no texto A Importância da Leitura na Construção do Conhecimento:
[...] antes de tratar da importância da leitura para a construção do conhecimento, fazer uma reflexão mostrando que a leitura é uma habilidade que perpassa de maneira transversal o conhecimento de maneira geral, contribuindo para a construção do conhecimento de várias áreas, tais como a matemática, a história e as ciências. (ROTTAVA, 2000)
Nesse caso, foi a filosofia que trouxe uma grande contribuição para o meu conhecimento. Aprender sobre os grandes pensadores da filosofia e me questionar sobre o mundo foi realmente incrível para a minha experiência com a leitura, me fez crescer. Foi o primeiro livro “grande” que eu li e demorei umas duas semanas para ler. Eu lia com um dicionário ao lado para conseguir acompanhar. Kleiman (1995) escreve sobre a forma que o leitor utiliza os seus conhecimentos já adquiridos na leitura e como a mesma é considerada um processo interativo justamente por isso, pela junção dos diversos níveis de conhecimento, nesse caso priorizando o linguístico, para conseguir absorver o conteúdo do texto:
[...] pode ser que a compreensão desse texto ainda esteja comprometida pelo desconhecimento, por exemplo, de um dos conceitos que as palavras [...] codificam. (KLEIMAN, 1995)
Era o meu caso, os termos filosóficos deixavam a minha cabeça meio confusa, mas ainda assim era bom. Parecia que eu estava encarregada do meu próprio conhecimento, não era mais como na escola que as professoras me diziam o que significava, desta vez eu teria que ir atrás se eu quisesse saber e compreender realmente o texto.  
Deste livro, eu também tirei várias pequenas coisas que fazem parte de coisas que eu adoro hoje em dia, como cartas, uma certa fixação pela Noruega e livros enigmáticos como vários outros de Jostein Gaarder. Foi uma leitura que trouxe para o meu mundo mil e uma possibilidades, além da vontade de conseguir ler todas as histórias já escritas, principalmente as que trazem um toque de conhecimento a mais junto. O texto quebrou barreiras dentro de mim, a grande barreira que questiona se você terá capacidade para entender o livro e tudo o que vem junto, algo que na minha mente era tão grandioso. Descobri que sim e isso se tornou um marco na minha experiência com a leitura. Eu criei um elo tão grande que o livro se tornou O meu Mundo de Sofia. Quando o vejo nas prateleiras e estantes sempre sinto uma sensação boa e é como se ele direcionasse para mim, com suas histórias e mistérios. Hoje em dia, quando penso em leitura, muitas vezes me pego pensando em O Mundo de Sofia.
Referências Bibliográficas:
- GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da história da filosofia. tradução João Azenha Jr. – São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
- ROTTAVA, Lucia. A Importância da leitura na Construção do Conhecimento. In: Espaços da escola, Ed. Unijuí, Ano 9, nº35, p. 11-16 Jan/Mar,2000
- KLEIMAN, Angela. TEXTO E LEITOR: Aspectos Cognitivos da Leitura. 4ª Edição. Ed. Campinas, SP: Pontes, 1995 p. 13-27

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