sexta-feira, 1 de maio de 2015

Sem Título

Aluno 56
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Chamo-me João Victor Schroeder Kuhn, tenho dezoito anos e estudo Letras na UFRGS e Direito na PUCRS. “Escolhi” estudar ambos os cursos justamente por ser incapaz de escolher, mas também porque, desde o início da adolescência, cultivo um profundo gosto pelas palavras, sobretudo aquelas mais raras e mais inusitadas. Tudo começou no ano de dois mil e nove, quando tinha treze anos. Era o início de uma tarde de outubro, quando estava saindo da escola onde então estudava, em Lajeado, para voltar com minha mãe para a cidade onde morava e onde ainda gosto de pensar que moro, Arroio do Meio. Ao entrar no carro, fui recebido por um belíssimo e laranja dicionário Houaiss da língua portuguesa, enorme, pesado e cheio de informações que viriam a preencher uma paixão que começava a se desenhar em mim. Mal podia esperar para mergulhar naquele monstro e retirar dele as mais obscuras entradas, somente para, depois, poder, com elas, tornar meus textos ilegíveis.
Para mim, naquela época, escrever bem era escrever difícil. Já as primeiras incursões que fiz aos confins do meu enorme dicionário transformaram a forma como eu me expressava. Passei a me esforçar para incluir aqueles vocábulos misteriosos em qualquer contexto, dizendo, por exemplo, que a estrutura da célula humana é simplesmente “hipocrênica”, que a idade média havia sido um período “prenhe de prélios” e que “o imo telúrico é de formação pristina”. No entanto, além de congestionar meus textos, o trato com o dicionário me fez perceber a riqueza do nosso idioma, o que, por sua vez, me fez cogitar que talvez a linguagem em si é que fosse a fonte da riqueza (TALVEZ). Aos poucos comecei a perceber que as palavras que eu usava eram difíceis porque poucos as usavam, porque tinham origens eruditas. E, assim, minha paixão por itens léxicos exóticos se espalhou, passando a abrigar a linguística, a filologia, a literatura e a história.
Em algum ponto do meu ensino médio, percebi, com uma professora de redação a quem sou imensamente grato, que enfeitar meus textos com palavras complicadas que há muito tempo dormiam nas páginas do meu Houaiss laranja talvez não fosse o melhor jeito de me expressar e que escrever bem poderia ir além disso. Essa feliz descoberta, no entanto, não suprimiu aqueles interesses que minha “verborrágica ignorância” havia trazido consigo, de modo que, aproximando-se o vestibular, quis contemplar minhas afinidades, e decidi tentar cursar duas faculdades (DIZER QUAIS) que me permitiriam fazê-lo. Por isso estou aqui, felizmente podendo dizer estar “ledo com a escolha que aviei”, digo, feliz com a escolha que fiz.

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