Aluno 142
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Foi na primeira série do ensino médio que tive meu primeiro contato, ainda que sem saber, com o problema da leitura no ensino língua portuguesa. A tarefa era simples: responder as questões referentes a um texto do livro didático e entregá-las no dia seguinte. Ao receber a tarefa corrigida, percebi que havia errado justamente a questão cujo enunciado era “o que você compreendeu do texto? ”. Quando perguntei a professora o porquê de a resposta estar errada a explicação foi a seguinte: “o que tu compreendeu do texto não condiz com o que o livro espera que tu entenda sobre ele ” e logo em seguida como se sanasse todas as minhas dúvidas, ela me mostrou a resposta da questão que estava no livro do professor. Ou seja, eu estava errada porque o texto permitia apenas uma compreensão. Esse tipo de atitude revela uma prática bem comum acerca das concepções de leitura na década de setenta que restringiam o processo a decodificação de signos, limitando a interpretação do texto a si mesmo. Isso implica diretamente na exclusão dos demais envolvidos no ato de ler: o leitor e o autor. Por mais que as pesquisas na área de linguística aplicada tenham se desenvolvido ao longo dos anos, os estudos ainda não foram incluídos no contexto de sala de aula.
A partir do texto Abordagens de leitura de Angela Kleiman, observa-se que o livro didático ainda é o maior reflexo do desequilíbrio existente entre a pesquisa e a prática de leitura exercida em sala de aula. De acordo com Kleiman (2004, p.16) as abordagens didáticas podem ser percebidas através dos livros didáticos “pois, apesar do seu descrédito na comunidade acadêmica, ele é instrumento fundamental do professor, provavelmente o que mais influi no planejamento de suas atividades didáticas. ”
O aluno no processo de construção de sentido imprime ao texto suas próprias concepções que são determinadas pela sua visão de mundo e não se pode dizer ao aluno que a sua concepção de mundo é errada. Rottava (2000, p.5) afirma que:
“O conhecimento de mundo abrange desde o domínio que um especialista tem de determinado tema até o conhecimento que é adquirido informalmente, por meio de nossas experiências e do convívio em uma sociedade. Esse conjunto de conhecimentos deve interagir para que realmente a construção dos sentidos se concretize. ”
Por isso, é importante que a formação do docente inclua contato com os diferentes tipos de textos e suas possibilidades, para que o mesmo tenha a capacidade de discernir entre o certo e o errado em sala de aula compreendendo as particularidades de cada aluno. Sendo assim, deve-se ter a noção de que o livro didático não pode ser utilizado como único instrumento na construção do conhecimento, pois prejudica o desenvolvimento das habilidades cognitivas dos discentes e traz uma concepção errônea sobre leitura. Por fim, podemos resumir o que foi dito com o seguinte trecho do trabalho apresentado por Paulo Freire na abertura do Congresso Brasileiro de Leitura, em 1981, sobre a importância do ato de ler:
“A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. ” (FREIRE, 2011, p. 19)
Constitui-se, assim, a importância das experiências positivas dos alunos com a leitura, pois essa determina a leitura do indivíduo sobre o mundo.
Referências:
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se complementam. São Paulo: Cortez, 2011. 102p.
KLEIMAN, A. (2004) Abordagens de leitura. Scripta, Belo Horizonte, v.7, n. 14, p 13-22, 2003.
ROTTAVA, Lucia. A importância da leitura na construção do conhecimento. In: X FEIRA DO LIVRO INFANTO-JUVENIL DA ESCOLA DE 1º E 2º GRAUS FRANCISCO DE ASSIS.
1999. Ijuí: Editora Unijuí, 2000, p. 11 -16.
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