quarta-feira, 26 de julho de 2017

Porque eu gostei de ler Til e Terras do Sem Fim

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Aluno 128


Eu sempre ouvi falar de Paulo Freire, mas pouco conhecia de seu trabalho. Quando li A importância do ato de ler, fiquei encantada com a capacidade que ele possuía de expor suas ideias, fazendo conceitos bastante complexos se tornarem acessíveis e agradáveis de compreender, comprovando seu talento como pedagogo. Lembro que, no artigo em questão, Freire comenta a maneira como a leitura serve de apoio para perceber o mundo, repensá-lo e adquirir conhecimentos, usando as próprias vivências para exemplificar isso.
O depoimento de Paulo Freire fez com que eu relembrasse a experiência que tive com as obras Terras do Sem Fim, de Jorge Amado e Til, de José de Alencar. De certa forma, tais livros estão relacionados com estes momentos iniciais da minha vida acadêmica, porque que o primeiro conheci como leitura obrigatória para o vestibular da UFRGS e o segundo li para escrever um ensaio, já cursando Letras. Ambos os livros, embora produzidos em diferentes épocas e contextos, têm em comum o efeito que causaram em mim: a cada página folhada havia a alegria em avançar na história, descobrir o destino de cada personagem, torcer por alguns e malquerer outros, mas havia também uma angústia por me aproximar, pouquinho a pouquinho, do final da leitura. Era a mesma sensação que me acometia na adolescência no momento em que eu terminava de ler algum dos livros de Harry Potter, da escritora J. K. Rowling.
O diferencial nessas duas obras que conheci pelo contato com a universidade foi a maneira como foi possível a mim entender o perfil dos personagens, compreendê-los e enxergar o enredo através dos olhos deles. O ambiente das obras, repleto da natureza e dos mistérios da selva intocada, foram descritos com tamanha sensibilidade pelos autores que era como se eu pudesse pressentir os perigos que existiam na mata, ouvir o ruído dos animais e enxergar a luz do sol através das folhas das árvores. Vi-me no lugar de Ester, temendo o bote da serpente que se alimentava com os sapos de uma várzea próxima a sua casa. Corri com Berta pela relva para impedir a tocaia de Jão Fera, que pretendia assassinar Luís Galvão. Torci pela morte de Horácio e já quase acreditava que ele engarrafara o demônio debaixo de sua cama quando ele sobreviveu à febre.
Ainda me impressiono com o quanto fiquei imersa nessas duas histórias e de como tal imersão fez com que eu refletisse sobre aspectos da minha própria vida. Pensei todas as vezes que julguei alguém precipitadamente ou que agi de maneira passional. Comparei a beleza selvagem da natureza descrita nos livros com os tons cinzentos que a substituíram e que compõem o plano de fundo de nossa sociedade. Pensei até mesmo em como alguns perfis pessoais apresentados no livro se assemelham a outros que conheço na vida real.
No momento em que li as palavras de Paulo Freire sobre a ressignificação do mundo através da leitura, imediatamente recordei essas belas obras. Com elas refleti sobre a complexidade psicológica da qual somos dotados e compreendi que nem sempre nossos atos dizem tudo sobre nós. Tudo isso foi a ressignificação de Paulo Freire acontecendo na prática, parágrafo a parágrafo e com imenso gosto da minha parte.

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