terça-feira, 18 de julho de 2017

Um Faz de Contas que Acontece

Aluno 166
Reescrita


Quando era pequena costumava deitar ao lado de minha mãe na cama e imitar seus gestos costumeiros de toda noite: cabeça apoiada no travesseiro, perna direita cruzada para o alto por cima da esquerda, um de seus antigos romances na mãe – daquelas coleções de revistaria – e o cenho franzido, mostrando sua concentração. Eu seria sua perfeita copia, não fosse o livro segurado de cabeça para baixo e o fato de eu não entender absolutamente nada do que estava escrito ali. Enquanto a espiava lendo seu livro concentrada, tentava entender o que a prendia tanto e o que aquele amontoado de letras sem sentido tinha de interessante.
Logo entrei na ‘escolinha’ e comecei meu processo de alfabetização que, se deu como o da maioria das crianças. Sentada na cadeirinha colorida, olhando as letras com imagens associadas e as soletrando. Aprendi a combinar as letras para formar as palavras e juntar as palavras para formar as frases, a principio pequenas como “o gato mia e o cachorro late” e, em seguida, vieram os livros. Ganhei minha primeira coleção de livros infantis por volta dos 5 anos. Aquela altura, mas com certa dificuldade, já conseguia compreender o que estava escrito e a cena das noites se repetia: Eu, imitando a postura de minha mãe deitada na cama, porém, agora, realmente concentrada no que aquele grande número de letras, palavras e frases queriam dizer. Conseguia agora compreender o que tanto a fascinava nos livros, nas palavras, nas histórias.
O contato com a leitura, com as histórias me fizeram ter vontade de crias as minhas próprias, criar o meu mundo encantado onde tudo era possível e viver as aventuras por mim mesma, mesmo que fosse apenas na minha imaginação. Quando finalmente ganhei meu primeiro caderno de “gente grande”, aqueles de folhas pautadas, anotava toda e qualquer coisa que eu sonhava que podia ser e criava minhas histórias em torno disso. Um dia eu era uma princesa em apuros, no outro eu era a princesa que salvava o príncipe. Eu podia correr, voar e até com os animais falar... Com aquele caderno e um lápis na mão, me teletransportava para vários lugares e vivia minhas próprias aventuras.
Enquanto escrevia minhas aventuras naquele ‘caderno mágico’ e criava minhas histórias ficava imaginando minha mãe deitada como de costume na sua cama à noite, com o cenho franzido e concentrada nas palavras que lia, mas dessa vez lendo as minhas histórias e vivendo as minhas aventuras.

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