sábado, 8 de julho de 2017

União

Reescrita
Aluno 127


Na primeira semana das férias escolares de julho, no ano do meu nono aniversário, fiquei sobre os cuidados do meu primo Gabriel em sua morada. Durante esse rápido passeio, junto dele, aprendi algo que mudou não só a minha vida como também a de uma vizinhança inteira.
Nessa semana, como de costume, Gabriel levantou cedo, preparou o nosso café da manhã, incluindo o de Tigre, seu gato, e, após terminada a refeição, saindo de casa para trabalhar, deixou as tigelas habituais de ração e leite para os gatos que circundam a rua, que, aliás, são muitos, desde filhotes recém-nascidos a velhos de andar manco, ao lado do muro. Ao findar da noite, enquanto retornava, cumprimentou a gata branca caolha da vizinha, a protetora que os moradores está sempre a vigiar, e recolheu as tigelas vazias com prazer. Já no quarto, antes de dormir, ficamos um curto período de tempo ouvindo miados, guerras entre gatos, corridas para lá e gemidos para cá em cima do telhado a rir juntos. Assim como quando pais cantam para os filhos dormirem, os gatos o faziam. Adormecemos.
No anoitecer seguinte, enquanto novamente retornava do trabalho, entretanto, não viu a gata branca, recolheu a tigela de leite pela metade e com um olhar de preocupação estampado no rosto, entrou em casa. Porém, ainda mais estranho foi o momento em que, deitados, não ouvimos um ruído exterior sequer, apenas Tigre miando perto da janela, deixando o sono mais difícil de se chegar e a noite mais comprida.
Por esses motivos, além de uma perturbação inquieta, no próxima dia ele resolveu sair antes do expediente acabar e, visualizando o contorno de sua casa de uma distância razoável, viu a silhueta de um homem em frente ao seu portão, que, ao perceber sua chegada, adentrou correndo em uma casa próxima. A desconfiança já existia, mas agora quando recolhera a tigela de leite ainda mais cheia que no dia anterior, se tornara certeza. Era o vizinho da frente que estava adulterando o leite com veneno para ratos. Gabriel não escondeu isso de mim e contou logo que soube para a vizinhança também, em que, trabalhando sem hesitar e em união, montaram uma assembleia.
Cada vizinho fazia sua parte, ligava para a polícia e Ongs denunciando-o, tirava satisfação com o tal homem continuamente e incessantemente, cada qual trazendo um amigo ou familiar para a causa, até que, no final de dois dias, a vizinhança inteira estava a ajudar. O homem não aguentando a pressão e temendo represálias, desapareceu, evaporou-se, mudou-se não sabe-se para onde. Portanto, após esse dia, a vizinhança e todas as pessoas que a compunham não mais eram apenas estranhos que moravam perto um do outro, mas pessoas que criaram um laço de confiança perante as adversidades. E eu, mesmo que por pouco tempo, aprendi quão forte  pode se tornar uma comunidade quando unida para fazer jus a algo que ama, neste caso os felinos, cujas melodias ainda hoje presentes me fazem dormir com mansidão e lembram-me desta efêmera semana de aprendizados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário