Aluno 150
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Tenho certeza que você já ouviu a frase: “só aprendemos algo no momento que isso acontecer com nós mesmos”. Entretanto, é estranho e assustador imaginar que tenhamos que passar por tudo para tirar algum ensinamento disso. E tal aprendizado pode ser tão significativo, escutando histórias de outras pessoas, ou analisando-as, quanto vivendo elas.
Numa quarta-feira eu estava voltando da aula e passando por uma praça em Porto Alegre, decido parar para assistir à uma peça de teatro que estava sendo realizada ali. Admirada com o espetáculo, não notei que uma moça se aproximava. Ao ver ela percebi que era alta, cabelos castanhos com uma franja curtinha, vestia roupas bem largas, uma sacola de pano atravessada no corpo e por suas feições pude notar que não talvez não fosse brasileira. Em suas mãos carregava um alicate e um pedaço de arame.
Quando chegou perto de mim perguntou meu nome, respondi, e só com essa pergunta pude confirmar minhas suspeitas: pelo seu sotaque, de fato não era daqui. Começou a trabalhar no arame, logo percebi que estava “tramando” meu nome. Enquanto trabalhava me contou parte da sua história. Ela era do Chile. Sua cadelinha, pela qual tinha muito amor e carinho, estava prenha e doente. E ela não tinha condições de pagar um tratamento para o bichinho. Apesar de eu não saber muito bem espanhol, pude entender boa parte do que me falava, e aí já ouvia com atenção o que me falava.
Ela decidiu vir para o Brasil procurar ajuda, e não fazia muito tempo que estava aqui. Encontrou uma veterinária que faria o tratamento necessário e cobraria apenas a metade do valor. O que eu pensei ser uma atitude muito boa da médica, e foi exatamente o que a chilena disse depois que me veio esse pensamento. Interrompe um momento para perguntar do que eu mais gostava: livros, música ou fotografia, respondi livros. Assim que volta a trabalhar no arame, retoma sua história.
Disse que abordava pessoas na rua para mostrar sua arte a elas. Então me entrega um pedaço do arame, no qual eu via meu nome e pude identificar como um marca páginas. Completa falando que não estipula valor para aquilo, que ela fazia de boa vontade e se a pessoa quisesse dar alguma contribuição ela ficaria muito feliz. Após dizer isso deu as costas e foi se afastando. Procurei na minha mochila por alguma nota que pudesse pagar o preço que aquela história significou para mim.
Quando enfim encontrei, chamei ela que se virou com um sorriso no rosto. Entreguei o dinheiro e ela disse: “Muito, muito obrigada. Você não tem ideia do quanto isso é importante para mim. Cada quantia, de cada pessoa que ouve minha história e admira meu trabalho faz com que eu chegue mais perto de pagar o tratamento dela”. Dito isso ela vai embora e eu fico pensando no quanto eu me identifiquei, apesar de não ter passado exatamente pela mesma coisa. Entendia a importância que aquela cadelinha tinha para ela, porque eu também tenho meus bichinhos que não acho apropriado chamar “de estimação”, mas sim “da família”.
Naquela tarde, que eu pensei que seria como outra qualquer, conheci a história dessa moça, que nem o nome pude perguntar de tão interessada que estava em ouvi-la. Tudo isso que aconteceu com ela me ensinou a não me deixar abalar por todo e qualquer problema e apenas me conformar com tal. Porque mesmo sendo difícil, quase impossível solucionar o problema dela lá no Chile, ela não desistiu. Veio até aqui e com o melhor que pôde, com o seu trabalho artesanal está lutando para conseguir atingir seus objetivos.
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