Aluno 134
Reescrita
Ter medo de aranha é bem comum, e mais comum ainda são as piadas que as pessoas fazem com um medo “tão bobo”. Minha família sempre foi dessas pessoas meio metidas a valentes, portanto eu também me fazia de corajosa, além de mim, uma amiga da minha mãe -a Tita- era uma dessas pessoas que pensava que era ridículo ter medo de um bicho tão pequeno -no caso de aranhas que encontramos em nossos apartamentos e casas. Qual seria o mal que um animal daquele tamanho poderia fazer a um “gigante” como nós humanos, por que qual seria o medo de uma pessoa de 1,70cm contra um bichinho de menos de 5cm?
Ela trabalhava em uma lancheria famosa no bairro, este localizado na parte nobre da cidade, onde uma porção de fritas com refrigerante poderia custar mais de 30 reais, um exagero no meu ver. Seu trabalho era especificamente na parte da cozinha. Fazia hambúrgueres deliciosos, sempre bem recheados e suculentos, além de pratos do dia que sempre vinham com tempero a mais, porque era assim que Tita era, uma cozinheira dedicada e de “mão cheia. Tita nunca teve medo de aranhas, insetos ou coisa do tipo, para ela era uma bobagem, “era só esmagar que já matava”.
Até que certo dia no trabalho tudo estava ocorrendo bem, mesmo movimento de clientes saindo e entrando a todo momento, seu chefe a apressando e seus colegas conversando enquanto ela preparava mais um dos seus famosos hambúrgueres. Sentiu uma coisa cair na sua mão, era uma pequena aranha marrom, ela parecia ser comum, porém seu marrom não era diferente, era acinzentado, sem vida, sem brilho. Sem hesitar balançou a mão de um lado para outro para que o bicho saísse e pudesse continuar seu trabalho. No momento não sentiu nada, porém ao passar das horas sua mão começou a ficar vermelha do local da então “despercebida picada” para os extremos junto com um inchaço que não parava de aumentar, preocupada e em estado de alerta, Tita achou melhor ir no hospital verificar o que havia acontecido.
Chegando no hospital, Tita logo foi atendida, não só rapidamente, mas com urgência e até então ela não entendeu o porquê, mas a notícia que iria receber nunca passaria por sua cabeça. Aquela pequena aranha era venenosa, mas não de um jeito que se tomasse remédio passaria, era um veneno que necrosa a nossa pele e se não tratado poderia levar a perda de membros ou até mesmo a morte. Seu tratamento foi iniciado imediatamente, teve que ser internada e receber atenção constante, para observar se o veneno não havia se espalhado para outra parte de seu corpo. Foram meses de desespero e dificuldades para Tita, para haver uma recuperação total de sua mão, que ora melhorava ora piorava. Cheguei a ir no hospital visitar Tita com minha mãe mais de uma vez, se havia uma pessoa arrependida por não acreditar no perigo que aranhas podem causar, aquela pessoa era Tita. Ela estava mudada, dava até sermões de como tínhamos que ser mais cautelosos no dia a dia, de como nada era tão insignificante assim. O meu “eu” corajoso e pomposo foi desaparecendo ao longo das visitas e relatos dela.
Tita ficou com sua mão boa depois do final do tratamento e pode parecer uma história boba, mas me trouxe grande aprendizado. Nenhum medo pode ser considerado bobo, porque nunca sabemos o que se esconde por trás -ou por dentro de um “veneno”. Que as aparências e tamanhos podem enganar, como uma pequena aranha demonstrou. Ninguém precisa ser valente com tudo e ter medo de aranhas é normal e mais do que aceitável.
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