1 Versão
Aluno 132
“Ao ensaiar escrever sobre a importância do ato de ler, eu me senti levado – e até gostosamente – a “reler” momentos fundamentais de minha prática, guardados na memória, desde as experiências mais remotas de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da importância do ato de ler se veio em mim constituído.” (FREIRE, 1989)
Assim como Freire, me vi tocada a revolver minha memória para conseguir um momento de minhas vivências que fosse significativo para explicar minha experiência de leitura. Com isso, cheguei ao meu primeiro ano do Ensino Médio: pela primeira vez eu teria Literatura como uma disciplina na escola, e, por consequência teria um contato maior com texto que eu já admirava.
Nesse ano me descobri uma leitora atenta e curiosa quanto aos aspectos dos textos literários. O primeiro livro proposto pela professora foi Hamlet, uma obra que já me gerara alguma curiosidade, principalmente pela grandiosidade de seu autor, Shakespeare, e que acabou por me mostrar um mundo interpretativo muito além daquilo que eu tinha como bagagem aos 14 anos.
Minha professora, Ana Charão, fez questão de nos mostrar o intenso conflito moral que há na peça, e a necessidade da personagem principal de reestabelecer a ordem em um ambiente completamente corrompido. Ela nos fez ver além das palavras que estavam grafadas no papel, nos incentivou a olhar o âmago do desespero de Hamlet, e trazer isso para as nossas vidas, em um movimento de autoconhecimento e de autoquestionamento.
A atitude da professora foi algo além daquilo que eu estava acostumada, assim como consta em “A importância da leitura na construção do conhecimento” (2000), de Lucia Rottava: “Nesta (na escola), acreditou-se, por muito tempo, e não mais persiste essa ideia, que alfabetizar é sinônimo de ensinar a ler; dito de outro modo, a alfabetização não significa saber ler.”, e foi justamente esse ponto mostrado a mim depois de anos de simples decodificação de letras em papeis.
A alteração no modo de ver a leitura, de analisar aquela história que estava sendo dada, mudou completamente meus parâmetros de mundo, afinal de contas, naquele momento eu estava aprendendo a ler o mundo, eu estava conseguindo enxergar dúvidas e questionamentos que antes eram escusos e rasos. Pensamentos a respeito da loucura fingida de Hamlet para poder encontrar em seus parentes um vestígio de um crime, me fez indagar até onde vai a ação humana para conseguir aquilo que se tem como verdade, para se provar algum ponto que se acredita.
Essa mudança de pensamento que passou da simples leitura para uma interpretação maior das entrelinhas presentes na obra literária causou uma reação, uma vontade grande de me constituir leitora assídua e analítica de cada mísero parâmetro presente nas obras que a partir daquele momento me fossem apresentadas. Esse tipo de reação pode ser melhor exemplificado com a citação do texto de Rottava já antes mencionado: “[...] acredito que a leitura deva provocar no leitor uma reação. Essa, por sua vez, permitirá que sejam emitidas opiniões, por aceitar ou recusar um tema ou um assunto é, muitas vezes, o ponto de partida para a construção do conhecimento.”
Hamlet, assim como a professora Ana, não foi somente mais um acontecimento em minha vida, mas sim o ponto de partida que me fez querer alcançar níveis maiores de compreensão de textos literários, e que após me incentivou a seguir essa trajetória em minha caminhada universitária. A leitura da peça foi o início de uma jornada permeada por lindos textos que me ajudam a entender melhor o mundo a minha volta e as questões que me intrigam.
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