Aluno 168
Reescrita
Eu tenho um amigo teimoso. Ele sempre foi assim, desde a infância. Teimava que o certo era chamar a chimia de geleia, só porque estava escrito assim na embalagem. Teimava que eu estava trapaceando quando jogávamos videogame. Ele se acha o dono da razão, e não aceita se discordarem dele.
Me lembro de um dia em que eu estava na casa dele de manhã, pois havia dormido lá no dia anterior. Tomamos café-da-manhã e nos preparamos para ir à escola. Foi aí que eu percebi que ele não havia amarrado os tênis.
– Tu não sabe amarrar o tênis, Matheus? – Perguntei, legitimamente curioso.
– Claro que sei, né. – Respondeu ele, meio prepotente como de costume.
– Então por que não amarra?
– Porque é coisa de bebê, os guris da oitava série não amarram.
– Tá bom, então. – Terminei, para não prolongar a conversa.
Eu sabia que era perigoso deixar o tênis desamarrado, mas eu sabia também que ele se irritaria se eu continuasse insistindo nisso. Ele queria muito parecer descolado para se enturmar com os guris mais velhos da escola. O pior é que ele nem colocava os cadarços para dentro do tênis pelos lados, como alguns fazem. Os cadarços ficavam soltos por aí, esperando para serem pisados por ele. Ah! Como eles adorariam ver Matheus se espatifando no chão, seria hilário! Com certeza isso o ensinaria a ser menos teimoso.
Mais tarde naquele dia, estávamos voltando para casa. Como moramos perto um do outro, sempre voltamos juntos.
– Quer jogar videogame depois? – Perguntei.
Não tive chance de escutar sua resposta. Matheus tropeçou nos cadarços dos seus tênis e caiu no chão! Assim, do nada mesmo. Minha primeira reação foi involuntária: eu comecei a rir dele. No fundo eu achava que ele merecia alguma punição pela história dos cadarços. No entanto, não demorou para eu perceber que ele havia se machucado feio. Estava chorando bem alto, tanto que uma vizinha o escutou e veio prontamente ver o que havia acontecido. Enquanto eu o ajudava a se levantar, ela foi chamar a mãe dele. Mais pessoas se reuniram, curiosas. Imaginei o quão constrangedora a situação estava sendo para ele.
– Meu filho! Como é que isso aconteceu? – Exclamou a mãe de Matheus, chegando desesperada.
Ela chamou uma ambulância. Eu não sabia bem o que dizer, fiquei apenas olhando a preocupação dos vizinhos e a aflição da mãe de Matheus. Eu não queria que algo assim acontecesse comigo.
Quando chegou a ambulância, duas mulheres saíram dela. Deitaram Matheus em uma maca, o levaram para dentro da ambulância, onde entrou também a mãe dele, e partiram para o pronto-socorro. Depois disso, me restou apenas ir para casa pensando em tudo que havia ocorrido.
No final das contas, Matheus só sofreu esse acidente devido à teimosia dele. Eu o avisei do perigo, mas ele preferiu deixar os cadarços desamarrados para se enturmar com os meninos mais velhos na escola. Eu prefiro muito mais amarrar os meus tênis e parecer brega do que correr o risco de me acidentar. É sempre bom tomar precauções, mesmo que as pessoas te julguem por isso. A opinião dos outros não deve importar. Pelo menos depois desse acidente, eu sei que algo assim nunca aconteceria comigo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário