domingo, 9 de julho de 2017

Eterno

Aluno 178
1 Versão


este poema
é para
um rato morto
na calçada

.

 Por três dias,
um atrás
do outro,
passei
por um rato
morto
na calçada. 

 Seu corpo duro 
estava ao lado 
de uma ciclovia
colorida de um
 vermelho vivo
assim como seu sangue.

 O rato 
não virou
comida de gato
ou
adubo 

 Nenhum lixeiro
ou agente sanitário
recolheu ele.

 Sua morte
foi apenas
a morte
de um rato,

mais 
uma
morte

mais
um
rato

apenas
a vida
estatelada na calçada.

 Muitos 
olharam 
para ele 
com nojo

outros já preferiram
nem olhar

alguém
deve ter
sentido pena.

 Escrevo 
para sua 
morte
não ser
completamente
ignorada

  - ele
  acaba de
  ganhar
  um poema -

 e agora ele 
tem um nome.
 Adônis,
na mitologia grega,
um deus belo
que conquistou
Afrodite e Perséfone.

 Adônis, o rato morto
na calçada
torna-se
poesia

e agora ele também
tem passado.


 Viu
o primeiro beijo
de Flávio e Nicole,
que estiveram
secretamente
apaixonados
por muito
tempo,

fugiu da bola
de futebol
que Clarice,
filha de Matias e Jonas,
chutou
em sua direção,

brigou
intensamente
 com outro rato
   - sem nunca
    descobrir que 
    eram filhos
    da mesma mãe -
 por um
naco
de carne.
 Conquistou
sua janta pelo
preço da vida
do irmão,
que da luta saiu com
a pata ferida
e, sem força para
correr,
morreu
embaixo da roda
de um carro
que acelerava
para passar no
sinal amarelo.










 Depois de
alguns meses
novamente triunfou 
e foi o primeiro
rato
a entrar
na confeitaria
da dona Julieta
sem ser notado.
 Comeu diversas migalhas
da comida cara
que os clientes
endinheirados pagavam.
 Como era um pequeno ser,
   - precisava e se contentava
  com pouco -
encheu o bucho
de graça.

 Nada se sabe sobre
sua morte, apenas
que viveu dois anos
e três meses.

 Todos os dias
de sua vida, por nós,
humanos, 
seriam considerados
uma aventura,
mas para um rato,
até que eram
bem comuns.

 Espero que agora
pensem nele.
 Sintam sua falta,
sua luta invisível. 

 A morte
só é lamentada
quando o passado
da vida que 
acabou
é conhecido






de qualquer
forma,
no fim,
no plano geral,
é só
um rato
morto 
na calçada.
 Talvez nenhum poema
mude isso.

 Assim como
as nuvens
não apagam
o sol,
só o escondem 
no céu,
meu poema
é uma ilusão.

 Mas se de todos
os ratos mortos nas calçadas
de Porto Alegre, 
eu puder eternizar um,
que assim seja.
 Que o agora 
eterno rato Adônis
possa servir de exemplo
para salvarmos
tantos outros
carentes de nomes, 
de poemas 
e
de importância.


Nenhum comentário:

Postar um comentário