Aluno 166
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Lembro como se fosse hoje os finais de noite em minha casa. Antes de dormir minha mãe pegava um de seus romances, ajeitava seu travesseiro, deitava em sua cama e lia atentamente cada palavra escrita como, se naquele momento, elas significassem o mundo para ela. Recordo-me de observar atentamente essa cena e tentar repetir seus gestos e inclusive sua leitura. Porém, com a idade que tinha – 3 ou 4 anos – ainda não entendia o que o amontoado de palavras reunidos naquelas páginas queria dizer.
Logo entrei para escola e comecei meu processo de alfabetização ganhei meu primeiro livro, um exemplar de “O Pequeno Príncipe” o qual eu e minha mãe líamos juntas todas as noites e ela, com toda a paciência que só uma mãe consegue ter, me ensinava palavra por palavra, que a junção das letras r a p o s a significava raposa e r o s a formavam a palavra rosa. Lenta e gradativamente a leitura se seguia todas as noites até que terminamos o livro. Ao final da leitura já sabia juntar as letras e formar palavras.
Aos poucos, conforme o processo de letramento ia acontecendo na escola me aventurava em ler minhas próprias histórias, ficções e fantasias para começar: Percy Jackson, Harry Potter e um pouco de Shakespeare, mas não muito... No ensino médio algumas leituras obrigatórias passaram a ser cobradas para ajudar no processo de formação e encaminhamento para o vestibular: Memórias Póstumas, Contos Gauchescos, Iracema e uma porção de livros os quais eu não tinha muito foco para ler.
Me tornei uma leitora preguiçosa e dava todo tipo de desculpas por não conseguir terminar as obras, elas iam desde falta de tempo até indisponibilidade da obra, porém o que me faltava era o interesse. Quando resolvi cursar a faculdade de letras sabia que teria de me esforçar muito mais e recriar hábitos de leituras como aqueles que eu adquiri lá na infância, tive um pouco de receio porque logo as leituras começaram a aparecer e eu com os olhos e a mente fora de forma acabava atrasando as leituras, desde as obras até os textos teóricos, e apelando aos famigerados resumo e resenha.
Foi quando, na metade do semestre, em uma aula de Leituras Orientadas ouvi um conselho que me fez repensar meu hábitos, deixar a preguiça de lado e voltar a treinar minha mente: “Literatura não se decora, se aprende.”
No texto Rottava/2012, um estudo realizado sobre a leitura no contexto acadêmico é citado algo o qual acredito se aplica aos meus antigos hábitos de leitura, ou a falta deles: “Muitas dessas dificuldades podem derivar da pouca familiaridade por parte dos alunos com práticas de leitura recorrentes em contexto acadêmico.” Resumos e resenhas não suprem uma obra inteira, talvez possam ser usados como um complemento, um material de apoio da leitura em si, já que contextualizam as obras e alguns pontos específicos.
Usarei um outro trecho desse texto, Rottava/2012, que descreve minha atual relação com a leitura: “Acima de tudo, o conhecimento não está pronto e finalizado, mas em continua transformação. A leitura, portanto é o caminho para a construção de parte de todo e qualquer conhecimento”. E aqui o meu memorial de leitura não se encerra e sim se inicia pois, aos poucos estou reconstruindo meus hábitos de leitura e construindo novas formas de compreensão dos textos e obras sugeridas, não por uma “obrigação” imposta pelo curso, mas por uma vontade minha em adquirir conhecimento necessário para aprender o que cada uma das obras e professores tem a passar
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