domingo, 31 de maio de 2015

A cidade dos meus sonhos

Aluno 57
Reescrita


Chegaram as férias, talvez as mais esperadas de toda a minha vida. Foram meses de preparação. Enfim conheceria a cidade dos meus sonhos. Foram anos e anos de namoro em frente as telas de cinema, admirando a elegância da língua, da cultura, sempre inimaginável para mim. Sou apaixonada por cinema e para um cinéfilo que se preze conhecer essa terra é uma questão de honra.  Pisar no solo de Godard e Truffaut  sempre esteve em meus planos, mesmo quando nem imaginava da onde tiraria dinheiro para tanto.
As malas? Prontas a dias! Roteiro na mão. Cada lugar da cidade, cada bairro, cada monumento, tudo planejado meticulosamente. Eu sabia exatamente a onde ir, o que conhecer, o que comer, as ruas por onde andar. Já me via andando pelos mesmos caminhos e praças que envolveram Ethan Hawke e Julie Delpy em “Antes do Pôr do Sol”.
Chegou o grande dia. Eu estava a algumas horas de concretizar um de meus sonhos mais antigos. Foi a corrida de táxi mais longa da minha vida, nunca o Salgado Filho demorou tanto a chegar. Já no avião, a ansiedade a mil e uma única certeza, eu não conseguiria dormir.
Depois de assistir a todos os filmes do catálogo, ler todas as revistas, me acomodar, desacomodar, brigar com o travesseiro de pescoço e apertar o braço do meu marido a cada solavanco, começaram os procedimentos de decida. O frio na barriga, que já é comum nas descidas de avião, triplicou. Comecei a perceber umas luzinhas lá embaixo. Nuvens cinzas passavam enquanto as luzinhas aumentavam, aumentavam, aumentavam. Começaram a aparecer os telhados, um misto de bege e cinza, os telhados da música do Nei. Pouco a pouco foi ficando tudo claro, as pontes, o rio, as ilhas, Montmartre ao alto. E apertando muito o pobre braço do meu marido, eu chorei, chorei copiosamente quando, da janelinha minúscula de um avião, eu vi a cidade de Paris pela primeira vez.

Parecer_Aluno57

Aluno 57, teu texto não está de fato narrando um acontecimento que lhe causou um aprendizado. Após ler o texto, a sensação que dá é que falta alguma coisa, que você ia contar uma história, mas mudou de ideia. Para evitar isso, você usa das qualidades discursivas como o questionamento e objetividade. A partir da objetividade, por exemplo, você explora a capacidade narrativa: informa ao leitor tudo que é necessário saber sobre a relação que você, como personagem, tem com esse sonho de ir para Paris. Você pode fazer isso informando desde quando tem esse sonho, por exemplo. E como ele começou. E claro, sempre cuidando para que essas informações sejam concretas, e não apenas uma lista.
Já no questionamento, você tem que causar um conflito no texto. Como a proposta é um fato que lhe causou um aprendizado, é interessante no texto ter um contraste da pré-aprendizado e do pós: como você era antes dele acontecer, como você ficou depois. Qual foi esse aprendizado e como ele se deu. Foi em Paris? Foi ter visto Paris? O que isso te ensinou? Quanto isso mudou a tua vida?
Além de tudo isso, procure recortar e definir o tema. O que você quer narrar: a deixada da casa para a viagem? A arrumação de malas? A viagem de táxi até o aeroporto? A viagem de avião? A chegada em Paris? A estada em Paris? Você fala de tudo isso um pouco, mas não fala nada de nenhum. Observe. E veja, que se escolheres entre um, dá para fazer um belo texto. Mas além disso, lembre-se do esquema que a professora fez no quadro: o tema é viajar para Paris. Aí você pode falar de todos aqueles tópicos relacionados, pois todos eles fazem parte da viagem.
A forma que você escolher narrar esse texto é opcional sua, mas o importante é você deixar claro o que o texto vai contar; determinar o fato que lhe marcou entre tudo isso e mostrar o que ele lhe ensinou.

Boa reescrita!

A viagem dos Sonhos

Aluno 57
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Chegaram as férias, talvez as mais esperadas de toda a minha vida. Foram meses de preparação. Muitos roteiros, muitas dicas de amigos, muita coisa para conhecer em tão pouco tempo. As malas? Prontas a dias, eu sempre fui adiantadíssima, imagina para essa viagem. Cada lugar da cidade, cada bairro, cada monumento, tudo planejado meticulosamente. Eu sabia exatamente a onde ir, o que conhecer, o que comer, as ruas por onde andar. A viagem dos sonhos começa nos preparativos. No mínimo dez folhas de roteiros, que nem a metade será percorrida. Já me via andando pelos mesmos caminhos e praças que envolveram Ethan Hawke e Julie Delpy em “Antes do Pôr do Sol”.
Tudo pronto, hora de deixar o apartamento, dar uma última olhada nos gatos e seguir o sonho. Foi a corrida de táxi mais longa da minha vida, nunca o Salgado Filho demorou tanto a chegar. Já no avião, a ansiedade a mil e uma única certeza, eu não conseguiria dormir. Tudo bem, sou insone mesmo, assim tenho tempo para decorar umas frases, na língua que virou minha paixão, mas que até agora não consegui aprender.

Depois de assistir a todos os filmes do catálogo, ler todas as revistas, me acomodar, desacomodar, brigar com o travesseiro de pescoço e apertar o braço do meu marido a cada solavanco, começaram os procedimentos de decida. O frio na barriga, que já é comum nas descidas de avião, triplicou, eu conheceria a cidade dos meus sonhos. Comecei a perceber umas luzinhas lá embaixo. Nuvens cinzas passavam enquanto as luzinhas aumentavam, aumentavam, aumentavam. Começaram a aparecer os telhados, um misto de bege e cinza, os telhados da música do Nei. Pouco a pouco foi ficando tudo claro, as pontes, o rio, as ilhas, Montmartre ao alto. E apertando muito o pobre braço do meu marido, eu chorei, chorei copiosamente quando, da janelinha minúscula de um avião, eu vi Paris pela primeira vez.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Vai dar, não vai dar

Reescrita
Aluno 53


Sete e cinco. Preciso chegar ao centro da cidade até as sete e vinte, ou vou me atrasar. E eu não posso me atrasar. Hoje é, possivelmente, o dia mais importante da minha existência: serei brilhante na entrevista marcada há exatos seis meses, três semanas e dois dias, serei promovida e, finalmente, ocuparei o cargo para o qual me preparei durante aqueles árduos – porém divertidos – anos de faculdade. Isso se eu chegar a tempo.
Será que vai dar tempo? Vai dar. Tem que dar. E o engarrafamento? O engarrafamento sempre começa a se formar por volta das sete. Droga. Não vai dar tempo. Malditos cinco minutos! Maldita mania de pensar que “só mais cinco minutinhos de sono não vão fazer diferença”. Pois os cinco minutinhos sempre fazem diferença! Em cinco minutos, uma criança pode nascer, uma vida pode ser salva, uma bomba pode explodir e destruir cidades inteiras. Portanto, é óbvio que, por cinco minutos, eu não vou conseguir evitar o engarrafamento. Já consigo ver o aglomerado de veículos. Olha lá, tudo parado!  
Sete e sete. Droga. Não vai dar tempo. Parei atrás de um Gol vermelho, de placa IDA 0202. Andou. Parou de novo. Que placa legal! Deve ser fácil de memorizar: IDA 0202. Qual é a minha placa, aliás? IHE? IBD? ITV? E o número? Não sei qual é a minha placa! E agora? E se um guarda me parar e perguntar qual é a minha placa? É guarda que para motoristas no trânsito? Ou é fiscal? Ou brigadiano? Qual é a minha placa? Será que todos os motoristas sabem as placas dos seus carros? Provavelmente. Droga.
Sete e dez. Andou! Estou quase chegando, vai  dar tempo. Parou. Droga. Será que consigo alcançar o documento do carro no porta-luvas? Preciso saber qual é a placa do meu carro. Será que o documento ainda está no porta-luvas? Tirei ontem, mas recoloquei li. Recoloquei? Preciso checar. Não, não vou arriscar. Vai que um guarda, fiscal, brigadiano ou sei lá o que percebe que estou desatenta e me para. E nem a placa do carro eu sei! Não. Mãos no voltante, cara de séria. Ninguém precisa saber que eu estou atrasada, com pressa, ansiosa, com sono e não sei nem a placa do meu carro. Não. Faz cara de boa motorista, de motorista atenta ao trânsito. Faz cara de quem vai ser promovida hoje. Sorria. Não, para de sorrir. Parece uma louca, sorrindo sozinha. Séria é melhor.
Sete e doze. E não anda. Droga! O cara do carro ao lado parece irritado. Começou a buzinar. Não consegue ver que está tudo parado, amigo? Buzinar não adianta. Não consigo entender essas pessoas que insistem em buzinar nos engarrafam... ah, andou! Até que enfim. Parou de novo. Mas que inferno! Não vai dar tempo. Malditos cinco minutos! Nunca mais vou me deixar levar pela tentação de dormir mais um pouquinho, nunca mais. Os cinco minutos não valem a eternidade nesse congestionamento! Esperei por essa entrevista por seis meses, três semanas e dois dias, e agora vou perder minha grande oportunidade por causa de cinco minutos. Seria irônico, se não fosse trágico.
Sete e quatorze. Sete e quinze. Sete e dezesseis. Sete e dezessete. Andou. Agora vai! Ah, que bom, o apressadinho buzinador sem noção do carro ao lado resolveu furar a minha frente. E sem dar sinal! Tua mãe não te deu educação, não? Primeiro as damas, lembra? E que pressa! Esse tá mais atrasado que eu. Mas dirige bem, o infeliz. Olha lá. Aposto que ele sabe a placa do carro dele. Será que perguntam placas de carros em entrevistas? Não, claro que não. Ninguém liga se eu sei ou não a placa do meu carro. Não, né? Não, claro que não... Vai dar tempo. Tem que dar, estou quase chegando.
Cheguei.
Sete e vinte. Tem fila, mas vai dar. É só entrar no estacionamento, torcer para encontrar uma vaga decente, correr para dentro do prédio, checar a maquiagem e o cabelo no espelho do elevador – ir ao banheiro não é uma opção – e aguardar o chefe na sala de espera, com uma revista qualquer em punho, como se estivesse tudo sob controle.
Está tudo sob controle. Vai dar tempo. Cheguei à cancela. Estou vendo o flanelinha. É flanelinha que atende em entrada de estacionamento? Ou flanelinha só guarda carros na rua? Tá, entrar. Entrar. Encontrar vaga. Estacionar. Correr. Elevador. Vai dar tempo.
- Bom dia, moço. Tô atrasada, ainda tem vaga para estacionar?
- Tem sim, moça. Ali na frente. Só me diz aí a placa do teu carro pra eu anotar aqui, por favor.

Parecer_Aluno53


Primeiramente, seu texto está muito bom. Pude perceber a sucessão de pensamentos e mesmo assim ler claramente o que a autora quis passar. Apesar disso, seria interessante que você utilizasse mais conectivos gramaticais, para elencar uma frase a outra, pois assim o leitor não se perde em meio a tantas linhas de pensamento em um engarrafamento, assim você mantém a coesão e a coerência. Nessa mesma perspectiva pode ser difícil para você manter o divertimento da narrativa se retomar frases, visto que é uma estética perceptível em seu texto manter frases curtas e diretas, mesmo assim será interessante retomar e assimilar algumas frases e situações para não perder o leitor, portanto, empenhe-se nisso.
Além disso, é importante delimitar a noção de espaço da narrativa, pois perceba que o leitor apenas sabe que você tem que chegar do outro lado da cidade em 15 minutos, mas não sabe exatamente onde você quer chegar nem o por quê de não poder se atrasar. Também visualize que quando você chega no local esperado, surge uma fila, um estacionamento, uma cancela e um flanelinha, mas ainda não se sabe onde você se encontra: a caminho do trabalho, da escola, das compras, etc. É fundamental explicitar os motivos de se escrever essa narrativa, assim não carece o questionamento nem a concretude.
Por fim, também sugiro que descreva mais detalhadamente o seu aprendizado com o acontecimento, pois percebe-se que você aprendeu a não dormir mais cinco minutinhos, mas poderia ter sido mais aprofundado. Vale ressaltar que você pode usar outra pontuação além do ponto final, seja para expressar raiva, surpresa ou desapontamento.
Boa reescrita!

Vai dar, não vai dar

1 Versão
Aluno 54


Sete e cinco. Preciso chegar ao limite da cidade até as sete e vinte, ou vou me atrasar. Vai dar tempo. Tem que dar tempo. E o engarrafamento? O engarrafamento sempre começa a se formar por volta das sete. Droga. Não vai dar tempo. Malditos cinco minutos. Maldita mania de pensar que “só mais cinco minutinhos de sono não vão fazer diferença”. Os cinco minutinhos sempre fazem diferença. Em cinco minutos, uma criança pode nascer, uma vida pode ser salva, uma bomba pode explodir e destruir cidades inteiras. É óbvio que, por cinco minutos, eu não vou conseguir evitar o engarrafamento. Já dá para ver o aglomerado de veículos. Olha lá, tudo parado.  
Sete e sete. Droga. Não vai dar tempo. Parei atrás de um Gol vermelho, de placa IDA 0202. Andou. Parou de novo. Que placa legal. Deve ser fácil de memorizar: IDA 0202. Qual é a minha placa, aliás? IHE? IBD? ITV? E o número? Não sei qual é a minha placa! E agora? E se um guarda me parar e perguntar qual é a minha placa? É guarda que para motoristas no trânsito? Ou é fiscal? Ou brigadiano? Qual é a minha placa? Será que todos os motoristas sabem as placas dos seus carros? Provavelmente. Droga.
Sete e dez. Andou. Estou quase chegando a Porto Alegre, vai  dar tempo. Parou. Droga. Será que consigo alcançar o documento do carro no porta-luvas? Preciso saber qual é a placa do meu carro. Será que o documento ainda está no porta-luvas? Tirei ontem, mas recoloquei li. Recoloquei? Preciso checar. Não, não vou arriscar. Vai que um guarda, fiscal, brigadiano ou sei lá o que percebe que estou desatenta e me para. E nem a placa do carro eu sei. Não. Mãos no voltante, cara de séria. Ninguém precisa saber que eu estou atrasada, com pressa, com sono e não sei nem a placa do meu carro. Não. Faz cara de boa motorista, de motorista atenta ao trânsito. Sorria. Não, para de sorrir. Parece uma louca, sorrindo sozinha. Séria é melhor.
Sete e doze. E não anda. Droga. O cara do carro ao lado parece irritado. Começou a buzinar. Não consegue ver que está tudo parado, amigo? Buzinar não adianta. Não consigo entender essas pessoas que insistem em buzinar nos engarrafam... ah, andou! Até que enfim. Parou de novo. Mas que inferno. Não vai dar tempo. Malditos cinco minutos. Nunca mais vou me deixar levar pela tentação de dormir mais um pouquinho, nunca mais. Os cinco minutos não valem a eternidade nesse congestionamento. Parada. Atrasada. Sem nada para fazer. Devia ter trazido uma revista de palavras cruzadas.
Sete e quatorze. Sete e quinze. Sete e dezesseis. Sete e dezessete. Andou. Agora vai. Ah, que bom, o apressadinho buzinador sem noção do carro ao lado resolveu furar a minha frente. E sem dar sinal. Tua mãe não te deu educação, não? Primeiro as damas, lembra? E que pressa. Esse tá mais atrasado que eu. Mas dirige bem, o infeliz. Olha lá. Aposto que ele sabe a placa do carro dele. Tá, vai dar tempo. Vai ter que dar. Tô quase chegando.
Cheguei.
Sete e vinte. Tem fila, mas vai dar. É só entrar no estacionamento, torcer para encontrar uma vaga decente e correr para dentro do prédio. Vai dar tempo. Cheguei à cancela. Estou vendo o flanelinha. É flanelinha que atende em entrada de estacionamento? Ou flanelinha só guarda carros na rua? Tá, entrar. Entrar. Encontrar vaga. Estacionar. Correr. Vai dar tempo.
- Bom dia, moço. Tô atrasada, ainda tem vaga para estacionar?
- Tem sim, moça. Ali na frente. Só me diz aí a placa do teu carro pra eu anotar aqui, por favor.

O RESGATE DA TURMA DO BAIRRO

Reescrita
Aluno 54


      Todas as tardes de sábado nos reuníamos na calçada em frente à minha casa para brincar. Ela era o ponto intermediário para o nosso grupo. Ficava bem centralizada na rua que era inundada por grandes pinheiros dos dois lados, o que dava às casas aparência de pequenas cabanas. Todos caminhavam mais ou menos a mesma distância para chegar até ela, exceto eu, que tinha vantagem nesse quesito: andava só alguns passos e sentava na escada pela qual acessava a rua, aguardando os outros.
      Assim que todos chegavam sentávamos na escada da minha casa.  O Lucas lembrava de pegar a bola de futebol, o Vini escolhia o jogo de tacos e a Nicole colocava à disposição a bola de volêi para o três cortes; já eu, sugeria sempre o esconde esconde ou pega pega porque assim não teríamos a chance de perder nossas bolinhas no pátio da senhora que morava em frente a minha casa. Ela tinha a mania de dificultar o resgate dos nossos objetos. Mantinha a casa fechada, mas ao mesmo tempo parecia estar nos vigiando, como um sentinela, escondida atrás do maior pinheiro da rua, o qual ficava no seu terreno.
      Em um fatídico sábado de sol, em setembro de 2008, resolvemos jogar futebol. Pintamos com tinta branca dois gols sobre o paralelepípedo cinza velho e disforme. Seis pra cada lado e depois um cara ou coroa pra ver quem começaria. A euforia de criança era tanta no início do jogo que a rua tinha se transformado em um estádio lotado em final de copa do mundo. O primeiro chute era do time adversário ao meu. O Matheus se afastou bem da bola parada no meio de campo e correu... E então, chutou a bola tão forte e tão torta, que ela foi parar direto no terreno da vizinha. O estádio calou e se transformou em um coliseu, com a tensão coletiva de um pré combate.
      O pensamento comum naquela hora sem dúvida devia ser: por que justo aquela vizinha? Tínhamos que recuperar a bola o mais rápido possível. Assim, silenciosamente, voltamos para o reduto seguro que era o portão da minha casa para planejar o resgate. Com uma concentração de profissionais agentes da polícia resolvemos que, enquanto duas pessoas iriam vigiar as esquinas da rua, outras quatro vigiariam as janelas da casa para garantir que a senhora não estava percebendo a movimentação, outras cinco pessoas ficariam brincando de se pegar para manter as aparências e a outra seria nosso Ulisses: pularia o portão com incrível habilidade, jogaria a bola de volta para a rua e tentaria se salvar depois de salvar o nosso sábado de sol.
      Depois de decididas as posições, colocamos o nosso elmo imaginário na cabeça, como verdadeiros guerreiros, e começamos a executar o plano. Fiquei no grupo responsável pela distração, mas entre fugir e tentar pegar os outros mantinha os olhos na janela, só esperando o tenso momento em que a senhora nos pegaria no flagra. O Carlos foi o escolhido como herói. Após uma rápida preparação física e emocional, pulou a cerca e caiu no pátio. Como o terreno dela era um pouco abaixo do nível da rua não tínhamos boa visão da situação. Por cinco minutos ele não retornou à rua então a tensão começou a contagiar nosso grupo. Nossas funções foram definidas em vão já que paramos elas e permanecemos na expectativa, só imaginando se o Carlos estaria num calabouço cheio de outras bolas, acorrentado e sofrendo por causa da tentativa, ou se ela o havia pego e ambos tinham se envolvido em uma disputa corporal.
      Após esse breve momento de tensão a bola voou por cima do portão, seguida por quem a tinha resgatado. O alívio cobriu nossos corpos e por aqueles poucos minutos que pareceram uma eternidade quase vimos a nossa rotina de sábado ser destruída. Seguimos o jogo como se nada tivesse acontecido, mas nunca mais deixamos o Matheus dar o chute inicial.

Parecer_Aluno54

A sua criatividade é definitivamente o que dá vida à narrativa. Você não só injeta nas cenas narradas a sua própria emoção de expectadora do episódio, como também as descreve como sendo praticamente épicas, a partir das metáforas que usa. Há, além disso, um mesmo eixo temático em torno do qual o texto se desenvolve e visivelmente há bastantes subsídios (as próprias metáforas, por exemplo, se encarregam disso) para que o leitor analise o que lê e assim estabeleça uma interlocução com o texto.
Ao reescrever seu texto, portanto, você deve apenas considerar algumas alterações de ordem mais formal. Atente para o emprego da crase em algumas circunstâncias em que, no seu texto, ela foi esquecida. Além disso, tome cuidado com o ponto-e-vírgula, pois em alguns casos ele pode ser substituído por um sinal de pontuação que se adeque melhor à função.


O RESGATE DA TURMA DO BAIRRO

1 Versão
Aluno 54


      Todas as tardes de sábado nos reuníamos na calçada em frente a minha casa para brincar. Ela era o ponto intermediário para o nosso grupo. Ficava bem centralizada na rua que era inundada por grandes pinheiros dos dois lados, o que dava às casas aparência de pequenas cabanas. Todos caminhavam mais ou menos a mesma distância para chegar até ela, exceto eu, que tinha vantagem nesse quesito: andava só alguns passos e sentava na escada pela qual acessava a rua, aguardando os outros.
      Assim que todos chegavam sentávamos na escada da minha casa.  O Lucas lembrava de pegar a bola de futebol; o Vini escolhia o jogo de tacos; a Nicole colocava a disposição a bola de volêi para o três cortes; já eu, sugeria sempre o esconde esconde ou pega pega porque assim não teríamos a chance de perder nossas bolinhas no pátio da senhora que morava em frente a minha casa. Ela tinha a mania de dificultar o resgate dos nossos objetos. Mantinha a casa fechada, mas ao mesmo tempo parecia estar nos vigiando, como um sentinela, escondida atrás do maior pinheiro da rua, o qual ficava no seu terreno.
      Em um fatídico sábado de sol, em setembro de 2008, resolvemos jogar futebol. Pintamos com tinta branca dois gols sobre o paralelepípedo cinza velho e disforme. Seis pra cada lado e depois um cara ou coroa pra ver quem começaria. A euforia de criança era tanta no início do jogo que a rua tinha se transformado em um estádio lotado em final de copa do mundo. O primeiro chute era do time adversário ao meu; o Matheus se afastou bem da bola parada no meio de campo e correu... E então, chutou a bola tão forte e tão torta, que ela foi parar direto no terreno da vizinha. O estádio calou e se transformou em um coliseu, com a tensão coletiva de um pré combate.
      O pensamento comum naquela hora sem dúvida devia ser: por que justo aquela vizinha? Tínhamos que recuperar a bola o mais rápido possível. Assim, silenciosamente, voltamos para o reduto seguro que era o portão da minha casa para planejar o resgate. Com uma concentração de profissionais agentes da polícia resolvemos que, enquanto duas pessoas iriam vigiar as esquinas da rua, outras quatro vigiariam as janelas da casa para garantir que a senhora não estava percebendo a movimentação, outras cinco pessoas ficariam brincando de se pegar para manter as aparências e a outra seria nosso Ulisses: pularia o portão com incrível habilidade, jogaria a bola de volta para a rua e tentaria se salvar depois de salvar o nosso sábado de sol.
      Depois de decididas as posições, colocamos o nosso elmo imaginário na cabeça, como verdadeiros guerreiros, e começamos a executar o plano. Fiquei no grupo responsável pela distração, mas entre fugir e tentar pegar os outros mantinha os olhos na janela, só esperando o tenso momento em que a senhora nos pegaria no flagra. O Carlos foi o escolhido como herói; após uma rápida preparação física e emocional, pulou a cerca e caiu no pátio. Como o terreno dela era um pouco abaixo do nível da rua não tínhamos boa visão da situação. Por cinco minutos ele não retornou a rua então a tensão começou a contagiar nosso grupo. Nossas funções foram definidas em vão já que paramos elas e permanecemos na expectativa, só imaginando se o Carlos estaria num calabouço cheio de outras bolas, acorrentado e sofrendo por causa da tentativa, ou se ela o havia pego e ambos tinham se envolvido em uma disputa corporal.
      Após esse breve momento de tensão a bola voou por cima do portão, seguida por quem a tinha resgatado. O alívio cobriu nossos corpos e por aqueles poucos minutos que pareceram uma eternidade quase vimos a nossa rotina de sábado ser destruída. Seguimos o jogo como se nada tivesse acontecido, mas nunca mais deixamos o Matheus dar o chute inicial.

APRESENTAÇÃO (IN)DIRETA

Reescrita
Aluno 54


       Era o meu primeiro dia de aula da vida. Minha mãe me acompanhou até a escola que ficava perto da minha casa: ela era grande e verde, pareceria uma floresta não fossem as pichações que a circundavam. Ela aguardou até que o sinal de entrada soasse às 13:30 para me deixar então sozinha naquele lugar estranho. Pressentindo que seria abandonada, chorei como um bebê recém nascido e não como um prestes a entrar em um sala de aula. O uniforme do colégio, que era azul marinho, realçava ainda mais minhas bochechas vermelhas e os olhos lustros que pareciam mais gritar “socorro, me tirem daqui!’’. Entrei – contra a minha vontade – pelo corredor principal da escola o qual ficou estreito com tantas crianças e, ainda chorosa, com uma lancheira azul do Ursinho Pooh em uma mão, abanei com a outra para dar tchau à minha mãe.
       Após tanto sofrimento precipitado no pré aula saí muito feliz pelo mesmo corredor que havia entrado, também com a rosto vermelho, mas agora de tanto correr e brincar com os meus novos colegas. Aos meus seis anos de idade, depois desse primeiro dia de aula, conheci o diferencial da minha personalidade apesar de não saber nomear naquela época. A intensidade com a qual vejo o mundo sempre esteve muito presente; ao ter medo de “abandonar” minha mãe ou de ser “abandonada”, percebi sensivelmente aquela situação, como se a sentisse com toda a intensidade possível, cogitando a maior proporção a ser tomada. Intensidade que talvez faça parte da infância para muitos, e que continuou firme e forte como um palanque para mim.
       Atualmente na faculdade não vou ter medo de abandonar minha mãe ou de ser abandonada, muito menos vou sair correndo a brincar com os meus colegas; ainda sim, torno pequenos acontecimentos muito intensos. Confesso que me emociono quando chego na universidade e encontro um dos cachorros que por ali vivem pedindo carinho e abanando o rabo como simples indicador de amor, ou que trato a sequência da fila do restaurante universitário quase como uma questão bélica. Uma nota C pode me deixar profundamente triste, e para superar esse grande problema provavelmente eu abuse do açúcar – e sinta remorso por isso –  comendo uma trufa de cereja após a aula. Um grande drama digno de novela das nove, alguns podem pensar, mas a sensível intensidade para ver o mundo me encanta e é inerente a minha pessoa.

A CAPITAL MAIS ACOLHEDORA DO MUNDO

Reescrita
Aluno 50


As ruas de Porto Alegre nunca me pareceram muito convidativas, mas quando li no Zero Hora uma matéria a respeito do aniversário da “capital mais acolhedora do mundo” fui acometido por certo otimismo. E atesto a afirmação do jornal: anda-se pelas ruas, logo aparece alguém a fim de acolher celulares, carteiras, abraçar bem apertado as moças... Não existem limites pra esse tipo de amor.
Posso dizer que, de todas as lembranças de vezes em que fui acolhido pelo grande coração da cidade, uma em particular possui lugar exclusivo na minha memória. Lembro que era uma tarde muito quente e de céu totalmente limpo. Eu voltava da universidade entre uma axila suada e um aglomerado de massa quase disforme que supostamente vestia algo tigrado – o calor que fazia dentro do ônibus não me permitiu definir. No ar pairava o bálsamo do povo trabalhador, eu mesmo contribuindo para tal com a camiseta ensopada.
Sair daquele forno foi um alívio. Senti-me tão tranquilo que nem parecia que andava na orla do parque da Redenção, contudo, desconfiado que sou, não deixei de atentar minha retaguarda de quando em quando. Todo meu redor estava vazio de gente; mas eis que surge muito provavelmente brotado da terra um homem às minhas costas, o qual só fui notar ao ter ele se anunciado.
– Passa carteira e celular.
Mesmo tendo me virado não pude assimilar o sujeito. Fiquei nervoso, a visão meio enegrecida. As únicas coisas que notei a princípio foram uma faca ou canivete que o homem segurava com o braço direito e, nesse mesmo braço, uma tatuagem que não consegui identificar. Em todo caso, não houve hesitação: logo entreguei o que o assaltante me havia pedido. Ele me deu um empurrãozinho nas costas e me mandou em direção contrária a que eu ia.
– Te manda, e não olha pra trás.
Foi o que fiz. Segui de cabeça baixa, com as pernas meio trêmulas e a visão ainda escurecida. Só ao recobrar totalmente os sentidos, de volta à parada de ônibus onde eu desembarcara, foi que me atrevi a olhar o sujeito que já estava longe, fazendo ele o mesmo caminho que eu faria. Vestia boné e bermuda brancos, e uma camiseta preta e vermelha, listrada, com um número grande nas costas (provavelmente de algum time de futebol). As roupas eram batidas pelo que pude notar. Calçava chinelos.
Geralmente esse tipo de assalto é rápido. Só assimilei o que havia acontecido depois de me encontrar recobrado na parada. Consternado, desviei minha rota passando por dentro do campus do centro. O que se seguiu em mim foi uma onda de raiva e indignação: tinha que matar bandido mesmo, descer a porrada nesses vagabundos. E o policiamento, onde estava? Num acesso de fúria, tirei do bolso meus fones de ouvido e os atirei para a rua, e apressei o passo. Queria chutar a cara do marginal (ele que nem tinha cara, só meu pé nela), chutar a polícia, os carros, o muro, os postes pelos quais passava eu em passadas furiosas. E se acontecesse com as pessoas por quem tenho afeto? Minha família, minha namorada... O que faria ele com minha namorada, ainda mais se a encontrasse sozinha, como me encontrou? O parque da Redenção é grande e possui muitos cantos escuros... Pudesse eu amassar o nariz do sujeito! Amassar a cara, chutar fundo no estômago. Se eu tivesse uma pedra, um tijolo...
Porém, no meio desse fluxo colérico, vi algo que me fez parar abruptamente, e todo o ódio insensato que eu sentia cedeu lugar a um completo estarrecimento: na calçada do outro lado, pouco mais à frente e de costas para mim, estava o sujeito que me havia assaltado, na frente da lan-house que faz esquina com a rua onde moro. As mesmas roupas e a tatuagem no braço direito – posso dizer que era alguma palavra, embora escrita em letras tão enfeitadas que não pude distinguir – tornavam o fato incontestável: era ele. Mas mais que isso, o que me causou enorme estranhamento, quase cômico, foi ver que na mesma mão que antes segurava a faca, segurava agora nada menos que um formoso sorvete de casquinha. Magnífico, enrolado. Com a mão esquerda o bandido guardava minha carteira no bolso de trás da bermuda – pagara pelo sorvete. Pelos sorvetes na verdade, porque o sujeito da lan-house, muito simpático, entregou ao assaltante mais um. Foi nesse dia inclusive que descobri que o local vendia sorvete de máquina.
Eu realmente não sabia como agir. De todo modo, mesmo que tencionasse me mexer, não conseguiria. Restava-me somente observar o assaltante a se afastar, com sua atenção, para minha sorte, totalmente voltada aos sorvetes que segurava um em cada mão, os quais lambia ávido e guloso como uma criança. Contemplei-o até sumir de vista, imerso na multidão acolhedora daquele fim de tarde. Meus pés nada nem ninguém poderiam chutar, mesmo que assim eu desejasse: estavam colados, firmes, irremovíveis do chão. Minhas mãos soltaram quaisquer pedras e tijolos que eu poderia vir a carregar e, conforme se abrandava minha cólera, um riso soluçado quase me escapou da garganta. Por pouco não ri, por muito pouco, e somente porque permanecia ainda estarrecido... Vida de contrastes bestas! Não adiantava, não podia negar: talvez no fundo no fundo, mas bem lá no fundo mesmo, esses assaltantes de rua tenham em si uma criancinha louca para se lambuzar de sorvete.

Parecer_Aluno50

Primeiramente, seu texto está muito bom. Pude ver a concretude em muitas partes do texto, como a caracterização do personagem e a delimitação de espaço as quais foram muito bem elaboradas, dessa forma o leitor consegue criar uma imagem de todas as situações. Entretanto, um texto sempre precisa ser reescrito, pois há alterações que permitem melhor compreensão dos leitores. Nesse caso, perceba que você poderia ter elaborado um pouco mais o seu aprendizado. Perceber que um assaltante é apenas uma criancinha querendo se lambuzar de sorvete é um aprendizado muito vago. Veja que, na verdade, você nao aprendeu nada com isso, pelo menos não explicitou no texto. Seria interessante que você descrevesse melhor o que você quis dizer com o seu assalto, ou seja, o que você quis passar ao leitor.
Além disso, sugiro que acrescente conectivos a fim de elencar uma frase a outra, de modo a garantir linearidade na leitura. Essa observação é muito importante para que as frases não fiquem soltas no papel e que o leitor não necessite buscar o que você quis dizer em detrimento da clareza em suas palavras.
Também perceba que a sucessão de ideias entre amor e ódio pelo assaltante ficou um pouco confusa, é fundamental organizar e preparar o leitor para a mudança de opinião, sem que isso se torne repentino e aleatório. Por fim, verifique alguns problemas de ortografia e formatação presentes no texto.
Boa Reescrita!

A CAPITAL MAIS ACOLHEDORA DO MUNDO

1 Versão
Aluno 50


As ruas de Porto Alegre nunca me pareceram muito convidativas, mas quando li no Zero Hora uma matéria a respeito do aniversário da “capital mais acolhedora do mundo” fui acometido por certo otimismo. E atesto a afirmação do jornal: anda-se pelas ruas, logo aparece alguém a fim de acolher celulares, carteiras, abraçar bem apertado as moças... Não existem limites pra esse tipo de amor.
De todas as vezes em que fui  acolhido pelo grande coração da cidade, uma em particular me faz rir quando torna à memória. Lembro que era uma tarde muito quente e de céu totalmente limpo. Eu voltava da universidade entre uma axila suada e um aglomerado de massa quase disforme que supostamente vestia algo tigrado – o calor que fazia dentro do ônibus não me permitiu definir. No ar pairava o bálsamo do povo trabalhador, eu mesmo contribuindo para tal com a camiseta ensopada.
Sair daquele forno foi um alívio. Senti-me tão tranquilo que nem parecia que andava na orla da Redenção, mas, desconfiado que sou, não deixei de atentar minha retaguarda de quando em quando. Todo meu redor estava vazio de gente.
Eis que surge muito provavelmente brotado da terra um homem às minhas costas, o qual só fui notar ao ter ele se anunciado.
– Passa carteira e celular.
Mesmo tendo me virado não pude assimilar o sujeito. Fiquei nervoso, a visão meio enegrecida. As únicas coisas que notei a princípio foram uma faca ou canivete que o homem segurava com o braço direito e uma tatuagem que não consegui identificar no mesmo braço.
Nem hesitei: tirei o celular e a carteira do bolso e os entreguei. Ele me deu um empurrãozinho nas costas e me mandou em direção contrária a que eu ia.
– Te manda, e não olha pra trás.
Foi o que fiz. Segui de cabeça baixa, com as pernas meio trêmulas e a visão ainda escurecida. Só ao recobrar totalmente os sentidos, de volta à parada de ônibus onde eu desembarcara, foi que me atrevi a olhar o sujeito que já estava longe, fazendo o mesmo caminho que eu ia fazer. Ele vestia boné e bermuda brancos, e uma camiseta preta e vermelha, listrada, com um número grande nas costas (provavelmente de algum time de futebol). As roupas eram batidas pelo que pude notar. Calçava chinelos.
Geralmente esse tipo de assalto é rápido. Só assimilei o que havia acontecido depois de me encontrar recobrado na parada. Ainda atormentado, desviei minha rota passando por dentro do campus do centro. O que se seguiu em mim foi uma onda de raiva e indignação. Tem que matar bandido mesmo. Descer a porrada nesses vagabundos. E cadê o policiamento? Queria poder chutar a cara do marginal (ele que nem tinha cara, só meu pé nela), chutar a polícia, os carros, o muro, a pedra. Senti raiva até do poste – e logo depois me senti um poste.
Estava sendo irracional. Negando todo o bom senso que possuía – eu, estudante privilegiado, com casa, comida e roupas, deveria no mínimo compreender a situação de quem não é favorecido como sou. Quais seriam seus motivos? E em seu passado o que se esconde? Não, decididamente agressividade não seria a solução. Ele era somente a consequência de uma sociedade doente. Antes um abraço que um soco...
Ou não. Bastou um passo para eu mudar de ideia novamente. E se acontecesse com as pessoas de quem gosto? Minha família, minha namorada... O que faria ele com minha namorada? Antes pudesse eu amassar o nariz do sujeito! Amassar a cara, chutar fundo no estômago. Se eu tivesse um tijolo...
Parei abruptamente. Todo esse fluxo inconstante de ideias e esse ódio insensato cederam lugar a um completo estarrecimento: na calçada do outro lado, pouco mais à frente e de costas para mim, estava o sujeito que me havia assaltado, na frente da lan house que faz esquina com a rua onde moro. As mesmas roupas e a tatuagem no braço direito – posso dizer que era alguma palavra, embora escrita em letras tão enfeitadas que não pude distinguir – tornavam o fato incontestável: era ele. Mas mais que isso, o que me causou enorme estranhamento, quase cômico, foi ver que na mesma mão que antes segurava a faca, segurava agora nada menos que um formoso sorvete de casquinha. Magnífico, enrolado. Com a mão esquerda o bandido guardava minha carteira no bolso de trás da bermuda – havia pago pelo sorvete. Pelos sorvetes na verdade, porque o sujeito da lan house , muito simpático, entregou ao assaltante mais um. Foi nesse dia inclusive que descobri que o local vendia sorvete de máquina.
Eu realmente não sabia se deveria correr. De todo modo, mesmo que tencionasse fazê-lo, não conseguiria. Minhas pernas não se moviam. Só observei o assaltante se afastar com sua atenção, para minha sorte, totalmente voltada aos sorvetes que segurava um em cada mão, os quais lambia ávido e guloso como uma criança. Observei-o até sumir de vista, imerso na multidão acolhedora. Talvez no fundo no fundo, mas bem lá no fundo mesmo, esses assaltantes de rua sejam somente uma criancinha querendo se lambuzar com sorvete.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Parecer_Aluno57

Aluno 57, o seu texto não apresenta uma unidade temática. Isto é, ele não tem um foco narrativo, apenas lista algumas informações vagas sobre ti. Procure pensar em algum recorte da tua vida, pode até ser a tua relação com os gatos.
Cuidado com as abstrações, como: dificuldades, experiências, entre outras. Quando usar esses termos, procure dizer quais dificuldades e quais experiências e de que forma elas contribuem na tua vida. Sempre que escrever  um texto, pense que o leitor não acompanha a tua trajetória de vida, então é necessário explicar tudo a ele. É importante também, dizer e mostrar a ele alguma coisa. Tem que fazer com que ele se sinta parte do texto e entenda algo dali. É pra isso que deve usar das qualidades discursivas.
Tome cuidado também com algumas formalidades, como a colocação pronominal.
Boa reescrita.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Parecer_Aluno49

       O texto apresentado tenta inicialmente trazer uma peculiaridade que poderia ser 

o eixo central da apresentação pessoal, mas apenas relata um fato envolvendo 

nascimento e a não vontade de que isso tivesse acontecido (?). Para tanto, qual a função 

desse fato para a constituição da unidade temática?  Além disso, não me parece haver 

qualquer relação com os fatos: nascer, machucar-se e gostar de ler bulas de remédio. 

        Embora haja uma tentativa de exemplificar, comparar e dar ao leitor 

informações para que compreenda o tema, os elementos selecionados para dar 

concretude ao texto precisam estar a serviço da unidade temática. Pense nesta variável.

        Afinal, o que o leitor fica sabendo ao final? Reveja as qualidades discursivas.

Parecer_Aluno56

Primeiramente, perceba que há fuga da unidade temática no início da apresentação: não é necessário colocar o seu nome e sua idade no texto, a não ser que você desenvolva sobre eles. Dessa forma, seria interessante colocar seu nome apenas na folha (conforme a formatação que a professora enviou) para que o leitor saiba quem está se apresentando.
Além disso, note que sua concretude fica pendente durante o texto, por exemplo: você cita que “escrever bem era escrever difícil” logo no início do parágrafo, mas o leitor não tem a mesma noção do escrever difícil que você deve ter. No entanto, você exemplifica só ao final do parágrafo o conceito de dificuldade para você, de modo a deixar o leitor sem essa referência até o fim da leitura e, consequentemente, sem entender o que o autor quis dizer. No mesmo âmbito, seria fundamental que você notasse essa situação em outras frases e parágrafos e, portanto, tentasse reorganizá-los.
Ademais, sugiro que você tome cuidado com a pontuação: procure verificar o local adequado das vírgulas a fim de que não haja confusões e ambiguidades. Por fim, evite a repetição desnecessária de algumas palavras, como o uso do pronome “onde” em demasia no primeiro parágrafo. Pesquise por sinônimos nos dicionários, já que você gosta de expandir o léxico.

Boa reescrita!