segunda-feira, 25 de maio de 2015

APRESENTAÇÃO (IN)DIRETA

Reescrita
Aluno 54


       Era o meu primeiro dia de aula da vida. Minha mãe me acompanhou até a escola que ficava perto da minha casa: ela era grande e verde, pareceria uma floresta não fossem as pichações que a circundavam. Ela aguardou até que o sinal de entrada soasse às 13:30 para me deixar então sozinha naquele lugar estranho. Pressentindo que seria abandonada, chorei como um bebê recém nascido e não como um prestes a entrar em um sala de aula. O uniforme do colégio, que era azul marinho, realçava ainda mais minhas bochechas vermelhas e os olhos lustros que pareciam mais gritar “socorro, me tirem daqui!’’. Entrei – contra a minha vontade – pelo corredor principal da escola o qual ficou estreito com tantas crianças e, ainda chorosa, com uma lancheira azul do Ursinho Pooh em uma mão, abanei com a outra para dar tchau à minha mãe.
       Após tanto sofrimento precipitado no pré aula saí muito feliz pelo mesmo corredor que havia entrado, também com a rosto vermelho, mas agora de tanto correr e brincar com os meus novos colegas. Aos meus seis anos de idade, depois desse primeiro dia de aula, conheci o diferencial da minha personalidade apesar de não saber nomear naquela época. A intensidade com a qual vejo o mundo sempre esteve muito presente; ao ter medo de “abandonar” minha mãe ou de ser “abandonada”, percebi sensivelmente aquela situação, como se a sentisse com toda a intensidade possível, cogitando a maior proporção a ser tomada. Intensidade que talvez faça parte da infância para muitos, e que continuou firme e forte como um palanque para mim.
       Atualmente na faculdade não vou ter medo de abandonar minha mãe ou de ser abandonada, muito menos vou sair correndo a brincar com os meus colegas; ainda sim, torno pequenos acontecimentos muito intensos. Confesso que me emociono quando chego na universidade e encontro um dos cachorros que por ali vivem pedindo carinho e abanando o rabo como simples indicador de amor, ou que trato a sequência da fila do restaurante universitário quase como uma questão bélica. Uma nota C pode me deixar profundamente triste, e para superar esse grande problema provavelmente eu abuse do açúcar – e sinta remorso por isso –  comendo uma trufa de cereja após a aula. Um grande drama digno de novela das nove, alguns podem pensar, mas a sensível intensidade para ver o mundo me encanta e é inerente a minha pessoa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário