Aluno 113
1 Versão
Tema:
tempo;
Delimitação
do tempo: natureza social do tempo no contexto universitário;
Objetivo:
analisar a relação entre as tarefas acadêmicas solicitadas no curso de Letras e
o tempo disponível aos estudantes para suas resoluções em casa;
Problema:
estudantes do curso de Letras não entregam trabalhos no prazo porque não tem
tempo suficiente para fazê-los;
Hipótese:
os estudantes deixam de entregar os trabalhos no prazo porque procrastinam;
Argumentos:
1. A procrastinação de tarefas acadêmicas é uma prática que
não se inicia com o ingresso no ensino superior, mas intensifica-se nesse
período. Pode estar ligada a diversos fatores como, sistema de ensino,
estruturas sociais e sentimentos pessoais.
“A procrastinação pode ter sua primeira
manifestação ainda na infância, na escola, onde ocorre, para maioria dos
alunos, a entrada formal numa sociedade competitiva mais ampla. A vivência em
sistemas de ensino com figuras autoritárias, sistemas de avaliação
meritocráticos e competitivos, que rotulam e classificam seus alunos, tem
efeito poderoso na confiança pessoal e acadêmica do estudante.” (SAMPAIO, BARIANI, 2011).
2. Um aluno do curso de
Letras cursa sete disciplinas obrigatórias no primeiro semestre, segundo o
currículo proposto pela Universidade, e a professora de certa disciplina
solicita um texto, de um gênero textual específico, contendo fundamentação
teórica, com um prazo de setenta e duas horas para a entrega, sendo quarenta e
oito desse total de horas sábado e domingo.
Contra-argumento:
Acredita-se
que o tempo pode ser mais bem aproveitado a partir de sua organização racional.
“O aluno pode ser instruído, por
exemplo, para o melhor aproveitamento de seu tempo. [...] Se o aluno for capaz
de lidar de maneira racional e eficiente com seu tempo de estudante,
provavelmente generalizará esta habilidade para outras situações da vida.”
(MOLINA, 1985)
Referências:
SAMPAIO, Rita
Karina Nobre; BARIANI, Isabel Cristina Dib. Procrastinação
acadêmica: um estudo exploratório. Est. Inter. Psicol., Londrina
, v. 2, n. 2, p. 242-262, jun. 2011 .
Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2236-64072011000200008&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 19 jun. 2016.
MOLINA, Olga. A escola e o ato de estudar. Rev.
Faculdade de Educação. São Paulo, p. 93-100, jan/dez, 1985.
A PROCRASTINAÇÃO DE TAREFAS
ACADÊMCIAS COMO DECORRÊNCIA DE UMA EDUCAÇÃO GENERALISTA
A
dificuldade encontrada pelos alunos do curso de Letras tem sido os prazos para
a entrega de trabalhos acadêmicos solicitados pelos professores da graduação. A
procrastinação pode estar aliada a essa dificuldade, fazendo com que os
graduandos acabem por não realizar as atividades propostas devido ao seu
adiamento proposital. Esse adiamento, contudo, não está associado somente à
preguiça, indisposição e má gestão do tempo. O ato de procrastinar decorre
também por conta de um sistema educacional vigente que pressiona o aluno,
força-o a estar em constante produção para adequar-se a um ambiente competitivo
e voltado apenas para resultados eficazes e imediatos, em detrimento de
processos de construção de aprendizagem. Necessário esclarecer que procrastinar
não significa ociosidade e sim o adiamento de uma tarefa. É preciso que se
considere o contexto social e de vida em que cada estudante está inserido para
que se chegue a um consenso sobre qual o método mais eficaz de avaliação
acadêmica.
Propondo que se atente para
a procrastinação na vida acadêmica, Sampaio e Bariani (2011) realizaram um
estudo exploratório acerca do tema. Em uma universidade no interior do estado
de São Paulo, ouviram 173 alunos, com uma média de idade de 21 anos, de três
cursos distintos, entre o 3º e o 10º semestre de graduação. As pesquisadoras
entendem o ato de procrastinar como um comportamento adotado pelos estudantes
e, através de um questionário aplicado, buscam fatores que expliquem tal prática
na vida acadêmica. A ampla maioria dos entrevistados, 82%, disseram
procrastinar ao menos uma vez durante a semana. Esse adiamento sistemático das
tarefas pode ter variados motivos, como insatisfação ao realizar a atividade,
dificuldades na realização da atividade protelada, preguiça, cansaço, desorganização,
imprevistos pessoais e até falta de tempo. Falta de tempo essa que não foi
citada pela maioria dos entrevistados como causa para a procrastinação, o que faz
com que se depreenda que há um contexto maior por trás.
Considere-se a
seguinte situação: um aluno do curso de Letras cursa sete disciplinas
obrigatórias no primeiro semestre, segundo o currículo proposto pela Universidade.
A professora de certa disciplina solicita um texto, de um gênero textual
específico, contendo fundamentação teórica, com um prazo de setenta e duas
horas para a entrega, sendo quarenta e oito desse total de horas sábado e
domingo. A considerar o raciocínio de Molina (1985), tudo perfeitamente
possível, afinal:
O
aluno pode ser instruído, por exemplo, para o melhor aproveitamento de seu
tempo. [...] Se o aluno for capaz de lidar de maneira racional e eficiente com
seu tempo de estudante, provavelmente generalizará esta habilidade para outras
situações da vida. (MOLINA, 1985).
Todavia,
há no processo de escrita desse texto algumas especificidades que extrapolam um
simples aproveitamento do tempo. Observe-se que o aluno dispõe do tempo de 72
horas para concluir a tarefa, pode-se reduzir desse tempo 24 delas guardadas
para 8 horas diárias de sono, sem estimar aqui horas para descanso, refeições,
idas ao banheiro e todas as necessidades do estudante. O intuito aqui não é
calcular o tempo a disposição para a escrita do texto, mas é importante
ponderá-lo. O mais importante a ser considerado são as especificidades dessa
tarefa que levam o aluno a procrastinar, deixando-a para realiza-la nas últimas
horas antes da entrega ou simplesmente não a realizando. O gênero textual
solicitado é desconhecido, ou seja, o aluno precisará dispor de tempo para que
leia textos teóricos que deem conta de instruir como a tarefa deve ser
desenvolvida. Outra questão é a fundamentação teórica necessária para que o
aluno embase sua argumentação. Outra vez será demandado tempo para que o estudante
busque e leia textos condizentes com a argumentação que quer expressar em seu
texto. Não se deixe esquecer o fato de que o aluno está no primeiro semestre de
graduação, provavelmente desacostumado com a dinâmica do ensino superior e
cursa ainda outras sete disciplinas, que certamente solicitam trabalhos que
demandam tempo igualmente a esse.
Pois
bem, diante dessa sucessão de fatos o aluno será levado à procrastinação. Dada
a dificuldade em realizar a tarefa, o aluno adia o máximo que pode. Segundo a
pesquisa, a procrastinação é consciente e gera sensações desagradáveis aos
alunos como ansiedade e autodepreciação. Um estudante ansioso e que se sente
pressionado para realizar uma tarefa, consequentemente não utilizará todo o seu
conhecimento em sua realização porque está tensionado por essas duas variáveis.
Diante disso, Sampaio e Bariani (2011) concluem:
A procrastinação pode ter sua primeira manifestação ainda na infância,
na escola, onde ocorre, para maioria dos alunos, a entrada formal numa
sociedade competitiva mais ampla. A vivência em sistemas de ensino com figuras
autoritárias, sistemas de avaliação meritocráticos e competitivos, que rotulam
e classificam seus alunos, tem efeito poderoso na confiança pessoal e acadêmica
do estudante. (SAMPAIO, BARIANI, 2011)
Antes de solicitar tarefas complexas e que demandam tempo do
estudante, é necessário que o professor pondere determinadas variáveis que
possam afetar o desempenho em sua realização. A procrastinação vai além de uma
simples preguiça, estando inserida em um contexto maior de desgaste do
estudante frente a uma educação generalista e meritocrática.
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