Aluno 93
Reescrita
Criada por pais professores, era quase natural que eu tivesse um aprendizado nos padrões escolares antes mesmo da escola. Fui introduzida ao processo de letramento antes de entrar na escola, o que despertou em mim vergonha por ser a única que já sabia ler em aula. O “empurrão” inicial foram eles que deram, e isso contribuiu intensamente para meus hábitos de leitura.
Ainda criança, eu passava o tempo todo brincando, na maioria das vezes sozinha, por não ter irmãos ou primos com idade próxima à minha. Jogos mentais, em que eu jogava sozinha, apenas eu e minha mente brincando, eram meu principal brinquedo. Um jogo muito presente era o de ler o tanto de legendas das séries policiais da minha mãe quanto conseguisse – era um jogo eu vs. eu, mas minha mãe sempre acompanhava e comemorava as minhas vitórias sempre certas. Rottava, em A Importância da Leitura na Construção do Conhecimento (2000), explica: “(...) a família precisa ter presente a ideia de que a leitura perpassa todas as ações e tarefas realizadas dentro de casa (...).” Ao comemorar, minha mãe me instigava e apoiava a sempre querer ler mais, e, com isso, fazia com que eu o fizesse, lendo tudo o que estivesse ao meu alcance.
Em Kleiman (1995): “(...) o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida.” Há de ser dito, contudo, que a minha leitura em si não era compreendida, pois se tratava de legendas de séries policiais e eu não tinha conhecimento algum sobre o assunto, e a autora citada acima embasa o fato empírico.
Tais séries me ensinaram gírias e termos técnicos de investigação, mas isto demorou a acontecer, pois crianças ainda não possuem certa capacidade de compreensão lexical e de mundo. Nem sempre decifrar palavras é compreender o que está dito, segundo Britto (2012):
As duas ações básicas de ler (decifrar e compreender) interligadas de tal modo que, em princípio uma implica a outra; contudo, são distintas em seus fundamentos e qualidades: um escâner pode realizar a primeira, mas não tem nenhuma condição de fazer a segunda; a segunda pode ocorrer em outras atividades humanas de que não participe a escrita. (BRITTO, 2012, p. 20)
Os primórdios de minhas atividades de leitura se deram lendo as legendas. Assim, foram fundamentais os meus jogos mentais e o apoio de minha mãe no processo de aprendizado e engajamento com o ato de ler. Todo o suporte e envolvimento hoje facilitam minha leitura - tanto de mundo, quanto de livros.
Referências Bibliográficas
ROTTAVA, Lucia. A Importância da Leitura na Construção de Conhecimento. In:
Espaço da Escola; n. 35; p. 13; 2000.
BRITTO, Luiz P. L. Leitura: acepções, sentido e valor. In: Nuances: estudos sobre Educação; v. 21. n. 22; p.20; 2012.
KLEIMAN, Angela. Texto e Leitor: Aspectos Cognitivos de Leitura. Campinas: Pontes; p. 13; 1995.
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