Aluno 68
Reescrita
A sensação de falta de tempo talvez seja a única afirmação invariável entre os estudantes da universidade. Redes sociais como o Twitter e o Facebook vinculam todos os dias várias mensagens expressando a inquietação e falta de motivação dos jovens universitários. Uma pesquisa rápida pelo Twitter de alguns alunos da UFRGS mostrou que mensagens como: “n sei o que fazer com esse fim de semestre, socorro (sic)” chegam a ser “retweetadas”, ou seja, reproduzidas por outros usuários da rede social, até cem vezes durante um período de três horas.
Partindo-se do pressuposto de que a sensação de falta de tempo é um fato amplamente aceito e comentado entre os estudantes, surge então a necessidade de se entender o porquê. Acredita-se que a principal causa seja a existência de uma má administração do tempo, e não simplesmente a falta dele em si. Britton e Tesser (1991) comparam estudantes universitários a um computador que esteja com a sua cpu superlotada, porque eles têm um grande número de tarefas para processar, e essas tarefas diferem em complexidade, prioridade e prazos. Soma-se a isso ainda o que Carelli (1998) chama de Condições Pessoais para o estudo, que envolvem a locomoção até o campus, atividades domésticas, trabalho, etc.
Uma pesquisa realizada com dez universitários do curso de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, seis estudantes do primeiro semestre, dois do terceiro e um do quarto, com o objetivo de descobrir qual seria o fator mais prejudicial à administração do tempo nos estudos, mostrou que a principal dificuldade citada foi o excesso de atividades e leituras diferentes restritas a prazos rígidos, concordando com Britton e Tesser. O segundo fator mais citado estava relacionado à vida pessoal dos estudantes, como a distância do campus e o fato de quer acordar muito cedo, confirmando o que foi dito por Carelli. Entre os veteranos, cansaço e desmotivação também foram citados. As respostas dos entrevistados convergiram com as mensagens do Twitter, demonstrando que a sensação de falta de tempo é uma constante entre os estudantes universitários, e que está relacionada com a dificuldade em administrar o tempo.
É importante ressaltar que a má administração do tempo não é um fenômeno que tem na sua origem uma culpa individual. A falta de tempo apresenta-se como um sintoma sistêmico de uma série de outros fatores sociais generalizados. Em outras palavras, ninguém sabe lidar com o tempo, nem mesmo a instituição. É comum ouvir dos professores em sala de aula que “a matéria está atrasada” e que “vamos ter que apressar”. O próprio texto aqui escrito foi redigido e pesquisado em condições problemáticas, em colisão com uma série de outras atividades com prazos igualmente estreitos.
Deve-se considerar que durante a educação básica os alunos também são colocados diante de atividades e leituras diversas, talvez até mais diversas que na graduação, visto que a graduação, sendo a especialização num determinado assunto, torna os objetos de estudo mais próximos e estritos. No entanto, as condições da infância e adolescência são muito diferentes das do jovem adulto na universidade. Na segunda, a vida profissional – e tudo o mais que a acompanha: necessidades básicas de sobrevivência, contas, moradia, futuro – está correlacionada com os estudos, de maneira que um depende do outro, tornando o estudo um trabalho ainda mais complexo.
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