terça-feira, 28 de junho de 2016

Aluno 99
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Ficha-
Tema: tempo em contexto acadêmico
Delimitação do tema: procrastinação universitária e prazos abusivos.
Objetivo: Investigar a possível causa do atraso na entrega de trabalhos pelos universitários através das manifestações dos mesmos nas redes sociais e na socialização na academia.
Problema: Estudantes do curso de Letras não entregam trabalho no prazo porque não possuem tempo suficiente para fazê-lo
Hipóteses: Falta de otimização e planejamento do tempo;
Prazos abusivos propostos pelos professores;
Argumentos
Autoridade: Perdem tempo reclamando ao invés de agir – Karnal e Cortella como referências;
Dados concretos: Manifestações de universitários, através das redes sociais, especificamente pelas páginas no Facebook da FAU não é normal, letras da depressão, A diva acadêmica, Graduação da depressão e pelo Twitter, através de breves mensagens em que denunciavam os prazos abusivos, a quantidade de trabalhos e a motivação ao ócio (des)criativo que isso causa.
Contra-argumento:
É preciso considerar as visões de alunos e professores para estabelecer um diálogo entre as partes. Assim, poder-se-á compreender as necessidades de prazos e produções, notando que o processo de criação não pode ser visto como feito por máquinas e sim seres humanos.

“Produzir antes da paixão de criar”: falta de tempo ou de otimização dos letristas?
            É quase impossível encontrar um letrista e ao desenvolver um diálogo, esse não reclamar da carga de leituras, quantidade de trabalhos e a sugestão de como tudo isso é agravado aos prazos impostos pelos docentes. Tais argumentos, embasam a sua justificativa para o atraso na entrega de trabalhos, visto que possuem várias disciplinas e as tarefas solicitadas não são sugeridas suas entregas dentro de um prazo que seja razoável sua elaboração. No entanto, é comprovado, através da monitoração de feedbacks das redes sociais dos discentes, que na maioria das vezes o que acontece não é falta de tempo para fazer os trabalhos e, por conseguinte entrega-los atrasados, mas sim, uma má otimização do tempo.
            O ato de reclamar é algo muito contínuo para um letrista de uma universidade federal. Em justaposição a reclamação surge a procrastinação e até uma possível falta de interesse naquilo que se propôs a fazer ao realizar a matrícula no curso de letras. Nesse sentido, o estudante passa mais tempo negando aquilo que deve ser feito e ocupando parte do seu tempo livre, que seria para lazer e aprendizagem autodidata, com o pensamentos de que não tem tempo, e assim, transfere a culpa para o prazo e para o método do docente que solicita as tarefas. Cortella, em uma palestra que poder-se-á encontrar sob a titulação de “É proibido resmungar!” afirma isso dizendo que:
[...] É proibido resmungar! Não é proibido debater, não é proibido discordar: é proibido resmungar. Sabe gente que só resmunga ao invés de agir, gente que passa o tempo todo amaldiçoando a escuridão ao invés de acender uma vela [...] Aliás, a frase favorita de um resmungão é: “que horror! Alguém tem que fazer alguma coisa” [...] A melhor maneira de não fazer nada, é acreditar que nada pode ser feito. (CORTELLA, 2013)
            Os próprios universitários, também em contexto digital, manifestam-se dizendo que estão cientes do prazo, mas que preferem fazer outra coisa (assistir séries, procrastinar, reclamar, usar Facebook, Twitter e Snapchat) ao invés de realizar o trabalho pendente, que muitas vezes não lhe é interessante ou demandará muito tempo para êxito. Karnal, filósofo contemporâneo, sugere que isso seja resolvido de forma metodológica e que se entenda que se:
[...]Procrastinar, a chance de desastre é muito grande. Para um estudante metódico da Europa do norte você deve dizer: ande na grama de pés descalços. Para o brasileiro, se deveria dizer: use agenda, seja metódico, cumpra os horários, estabeleça metas e deixe a criação para um outro campo. A maior parte das nossas atividades não implica inspiração, mas transpiração e é aqui que nós estamos falhando. (KARNAL, 2016)
            Em oposição a falta de metodologia dos estudantes e seu processo pessimista de produção, entende-se que generalizar a situação não é uma forma contundente de encarar as diferentes realidades. A vivência em contexto acadêmico mostra que muitas vezes a organização e otimização do tempo livre não é suficiente para elaboração de tarefas e ainda assim conciliar uma lacuna temporal para utilizar com a família, amigos e hobbies. Isso também é visto nas redes sociais em grande número através de desabafos ou denúncias; recentemente, a FAU – USP (Faculdade de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de São Paulo) lançou uma página no Facebook intitulada: “Fau não é normal” para denunciar abusos nos prazos dos trabalhos e as consequências que isso gerava. A campanha espalhou-se rapidamente e foi aderida por alunos de distintas universidades, incluindo o nosso objeto referencial (UFRGS).

O movimento que rapidamente tomou forma não está sozinho em termos de contestação a forma como a academia trata seus alunos. Outras páginas no Facebook, como “A Diva Acadêmica”, “Letras da Depressão”, “Graduação da Depressão”, “Não é normal” e “Drama universitário”, seguem essa mesma linha e mostram a carga excessiva de trabalhos e tempo insuficiente que os discentes possuem para estar em dia com os trabalhos universitários e ainda sim conseguir ter sua saúde e vida social alinhadas. Uma frase curiosa de observar que perdura a crítica dos educandos é que “Viver não cabe no Lattes”.
                     
[2]
Caixa de texto: Tweets de alunos, sugerem o quão abusivo são alguns prazos na academia
           
É evidente, porém, que não se pode estabelecer um jogo de culpados entre alunos que não entregam trabalho na data e professores que cobram demais. Certamente, o professor que exigiu uma data é também subjugado a alguém, portanto, igualmente deverá cumprir prazos.             
            Em suma, para que não tenhamos sempre alunos e professores em uma síndrome de coelho de Alice no país das maravilhas e a obrigação de produzir não aliene a paixão de criar vendo os educadores e educandos como máquinas de produção, especialmente os do ramo das letras que lidam diretamente com a criação, é necessário não só a otimização do tempo através de planejamos de cronogramas por parte de ambos, mas também um diálogo claro e que se propunha a considerar a condição de humanos e comprometidos com seu curso. Assim, reconhecendo as realidades do professor e do aluno poder-se-á compreender o quão abusivo e desplanejado está sendo a utilização do tempo para produção.   
Referências
MONTES, Fernanda Ferreira; HERZOG, Regina. “A relação do sujeito com o tempo na atualidade” Disponível em: <www.editoraescuta.com.br/pulsional/184_05.pdf>. Acessado em: 19/06/2016
SILVA, Henriqueta Alves; NOGARO, Arnaldo.“A velocidade da vida na modernidade
líquida: a ilusão da felicidade consumidora”. In: Caderno Pedagógico, lajeado, v. 10, n. 2, p. 155-166, 2013.
COLOMBO, Maristela. “Modernidade: a construção do sujeito contemporâneo e a sociedade de consumo”. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-53932012000100004>. Acessado em: 19/06/2016
MARCHIORI, Raphael. 37% dos universitários dedicam pouco tempo aos estudos extraclasse. Disponível em: <www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/37-dos-universitarios-dedicam-pouco-tempo-aos-estudos-extraclasse-2zjz33n3ntsgfqq86rp26ev66>. Acessado em: 18/06/2016
BARAN, Katna. “Alunos revelam abusos de universidade em página do 'Face”. Disponível em:  <www.parana-online.com.br/editoria/cidades/news/956831/?noticia=alunos+revelam+abusos+de+universidade+em+pagina+do+face>. Acessado em: 18/06/2016
KARNAL, Leandro. “Procrastinação”. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=71YdVVUpglY>. Acessado em: 18/06/2016
CORTELLA, Mário Sérgio. “É proibido resmungar!”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qRQrgbeiF1w>. Acessado em: 18/06/2016



[1] As tarjas utilizadas são em função da preservação da identidade das pessoas que realizaram as postagens. Ademais, as omissões no texto são em função de inadequação de léxico para nosso contexto.
[2] As tarjas preservam a identidade dos usuários da rede. Tais prints foram retirados da rede social “Twitter” e encontrados ao realizar a pesquisa no campo de busca com os conceitos “não é normal”, “faculdade” “prazo” e “trabalho” como se pode ver essas palavras encontram-se em negrito.
[3] Publicação retirada do Facebook, encontrada ao realizar a pesquisa com a hashtag “#nãoénormal” 

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