Aluno 99
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Ficha-
Tema: tempo em contexto acadêmico
Delimitação do tema: procrastinação
universitária e prazos abusivos.
Objetivo: Investigar a possível causa do
atraso na entrega de trabalhos pelos universitários através das manifestações
dos mesmos nas redes sociais e na socialização na academia.
Problema: Estudantes do curso de Letras
não entregam trabalho no prazo porque não possuem tempo suficiente para fazê-lo
Hipóteses: Falta de otimização e
planejamento do tempo;
Prazos
abusivos propostos pelos professores;
Argumentos
Autoridade: Perdem tempo reclamando ao invés
de agir – Karnal e Cortella como referências;
Dados concretos: Manifestações de universitários,
através das redes sociais, especificamente pelas páginas no Facebook da FAU não
é normal, letras da depressão, A diva acadêmica, Graduação da depressão e pelo
Twitter, através de breves mensagens em que denunciavam os prazos abusivos, a
quantidade de trabalhos e a motivação ao ócio (des)criativo que isso causa.
Contra-argumento:
É preciso
considerar as visões de alunos e professores para estabelecer um diálogo entre
as partes. Assim, poder-se-á compreender as necessidades de prazos e produções,
notando que o processo de criação não pode ser visto como feito por máquinas e
sim seres humanos.
“Produzir antes da paixão de criar”: falta de tempo
ou de otimização dos letristas?
É quase impossível encontrar um
letrista e ao desenvolver um diálogo, esse não reclamar da carga de leituras,
quantidade de trabalhos e a sugestão de como tudo isso é agravado aos prazos
impostos pelos docentes. Tais argumentos, embasam a sua justificativa para o
atraso na entrega de trabalhos, visto que possuem várias disciplinas e as
tarefas solicitadas não são sugeridas suas entregas dentro de um prazo que seja
razoável sua elaboração. No entanto, é comprovado, através da monitoração de
feedbacks das redes sociais dos discentes, que na maioria das vezes o que
acontece não é falta de tempo para fazer os trabalhos e, por conseguinte
entrega-los atrasados, mas sim, uma má otimização do tempo.
O ato de reclamar é algo muito
contínuo para um letrista de uma universidade federal. Em justaposição a
reclamação surge a procrastinação e até uma possível falta de interesse naquilo
que se propôs a fazer ao realizar a matrícula no curso de letras. Nesse sentido,
o estudante passa mais tempo negando aquilo que deve ser feito e ocupando parte
do seu tempo livre, que seria para lazer e aprendizagem autodidata, com o
pensamentos de que não tem tempo, e assim, transfere a culpa para o prazo e
para o método do docente que solicita as tarefas. Cortella, em uma palestra que
poder-se-á encontrar sob a titulação de “É proibido resmungar!” afirma isso
dizendo que:
[...] É proibido resmungar! Não é proibido debater, não é proibido
discordar: é proibido resmungar. Sabe gente que só resmunga ao invés de agir,
gente que passa o tempo todo amaldiçoando a escuridão ao invés de acender uma
vela [...] Aliás, a frase favorita de um resmungão é: “que horror! Alguém tem
que fazer alguma coisa” [...] A melhor maneira de não fazer nada, é acreditar
que nada pode ser feito. (CORTELLA, 2013)
Os próprios universitários, também
em contexto digital, manifestam-se dizendo que estão cientes do prazo, mas que
preferem fazer outra coisa (assistir séries, procrastinar, reclamar, usar
Facebook, Twitter e Snapchat) ao invés de realizar o trabalho pendente, que
muitas vezes não lhe é interessante ou demandará muito tempo para êxito.
Karnal, filósofo contemporâneo, sugere que isso seja resolvido de forma
metodológica e que se entenda que se:
[...]Procrastinar, a chance de desastre é muito
grande. Para um estudante metódico da Europa do norte você deve dizer: ande na
grama de pés descalços. Para o brasileiro, se deveria dizer: use agenda, seja
metódico, cumpra os horários, estabeleça metas e deixe a criação para um outro
campo. A maior parte das nossas atividades não implica inspiração, mas transpiração
e é aqui que nós estamos falhando. (KARNAL, 2016)
Em
oposição a falta de metodologia dos estudantes e seu processo pessimista de
produção, entende-se que generalizar a situação não é uma forma contundente de
encarar as diferentes realidades. A vivência em contexto acadêmico mostra que
muitas vezes a organização e otimização do tempo livre não é suficiente para
elaboração de tarefas e ainda assim conciliar uma lacuna temporal para utilizar
com a família, amigos e hobbies. Isso também é visto nas redes sociais em
grande número através de desabafos ou denúncias; recentemente, a FAU – USP
(Faculdade de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de São Paulo)
lançou uma página no Facebook intitulada: “Fau não é normal” para denunciar
abusos nos prazos dos trabalhos e as consequências que isso gerava. A campanha
espalhou-se rapidamente e foi aderida por alunos de distintas universidades,
incluindo o nosso objeto referencial (UFRGS).
O
movimento que rapidamente tomou forma não está sozinho em termos de contestação
a forma como a academia trata seus alunos. Outras páginas no Facebook, como “A
Diva Acadêmica”, “Letras da Depressão”, “Graduação da Depressão”, “Não é
normal” e “Drama universitário”, seguem essa mesma linha e mostram a carga
excessiva de trabalhos e tempo insuficiente que os discentes possuem para estar
em dia com os trabalhos universitários e ainda sim conseguir ter sua saúde e
vida social alinhadas. Uma frase curiosa de observar que perdura a crítica dos
educandos é que “Viver não cabe no
Lattes”.

É
evidente, porém, que não se pode estabelecer um jogo de culpados entre alunos
que não entregam trabalho na data e professores que cobram demais. Certamente,
o professor que exigiu uma data é também subjugado a alguém, portanto,
igualmente deverá cumprir prazos.
Em suma, para que não tenhamos
sempre alunos e professores em uma síndrome de coelho de Alice no país das
maravilhas e a obrigação de produzir não aliene a paixão de criar vendo os
educadores e educandos como máquinas de produção, especialmente os do ramo das
letras que lidam diretamente com a criação, é necessário não só a otimização do
tempo através de planejamos de cronogramas por parte de ambos, mas também um
diálogo claro e que se propunha a considerar a condição de humanos e
comprometidos com seu curso. Assim, reconhecendo as realidades do professor e
do aluno poder-se-á compreender o quão abusivo e desplanejado está sendo a
utilização do tempo para produção.
Referências
MONTES,
Fernanda Ferreira; HERZOG, Regina. “A relação do sujeito com o tempo na
atualidade” Disponível em: <www.editoraescuta.com.br/pulsional/184_05.pdf>.
Acessado em: 19/06/2016
SILVA, Henriqueta Alves; NOGARO, Arnaldo.“A
velocidade da vida na modernidade
líquida: a ilusão da felicidade consumidora”. In: Caderno Pedagógico,
lajeado, v. 10, n. 2, p. 155-166, 2013.
COLOMBO, Maristela. “Modernidade: a construção do
sujeito contemporâneo e a sociedade de consumo”. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-53932012000100004>. Acessado em: 19/06/2016
MARCHIORI,
Raphael. 37% dos universitários dedicam pouco tempo aos
estudos extraclasse. Disponível em:
<www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/37-dos-universitarios-dedicam-pouco-tempo-aos-estudos-extraclasse-2zjz33n3ntsgfqq86rp26ev66>. Acessado em: 18/06/2016
BARAN,
Katna. “Alunos revelam abusos de universidade em página do 'Face”. Disponível
em: <www.parana-online.com.br/editoria/cidades/news/956831/?noticia=alunos+revelam+abusos+de+universidade+em+pagina+do+face>. Acessado em: 18/06/2016
KARNAL,
Leandro. “Procrastinação”. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=71YdVVUpglY>.
Acessado em: 18/06/2016
CORTELLA,
Mário Sérgio. “É proibido resmungar!”. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=qRQrgbeiF1w>. Acessado
em: 18/06/2016
[1]
As tarjas utilizadas são em função da preservação da identidade das pessoas que
realizaram as postagens. Ademais, as omissões no texto são em função de
inadequação de léxico para nosso contexto.
[2] As
tarjas preservam a identidade dos usuários da rede. Tais prints foram retirados
da rede social “Twitter” e encontrados ao realizar a pesquisa no campo de busca
com os conceitos “não é normal”, “faculdade” “prazo” e “trabalho” como se pode
ver essas palavras encontram-se em negrito.
[3]
Publicação retirada do Facebook, encontrada ao realizar a pesquisa com a
hashtag “#nãoénormal”
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