Aluno 103
Reescrita
Quando
na infância, recém inserida no universo literário e vivendo os primeiros anos
do ensino fundamental, eu recebia diversas indicações de obras para conhecer.
Uma dessas indicações era frequentemente citada e muitos me diziam ser uma
leitura necessária para formação do meu ser. O livro era O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. Hoje, com
dezessete anos, consigo analisar as diferentes experiências de leitura que tive
com essa obra, e destacar alguns aspectos que passei a compreender apenas na
faculdade.
Uma
frase da obra O Conhecimento prévio na
leitura (1995) de Angela Kleiman serve de parâmetro para a análise do meu
primeiro contato com o livro: “a pouca
familiaridade com um determinado assunto pode causar incompreensão”. Nessa
obra, Kleiman reitera a importância do conhecimento prévio para que uma leitura
seja bem sucedida, ou seja, que o leitor utilize como base todo conhecimento já
adquirido ao longo de sua vida e o aplique durante a atividade. No meu caso,
aos dez anos, conhecendo um vocabulário ainda pobre e sem uma boa base escolar,
minha primeira leitura e compreensão ficaram comprometidas. Ao me deparar com a
palavra “cativar”, por exemplo, não
compreendia seu total sentido, por mais que ela tenha sido muito trabalhada ao
longo da história. As metáforas eram lidas, mas não eram compreendidas. Ao
terminar a leitura, acabei classificando o livro como uma história comum, sem
nada que a tornasse especial, pois claramente na época eu não tinha
conhecimentos o suficiente para compreendê-lo.
Alguns
anos mais tarde, já quase completando o ensino fundamental, com doze ou treze
anos, decidi revisitar as páginas de O
Pequeno Príncipe. Com pouco tempo de diferença entre a primeira e a segunda
leituras, a experiência foi minimamente diferente. Dominando mais o uso da
língua, conhecendo as metáforas e já conhecendo a forma de escrita de Exupéry meu
propósito de leitura -o que me
motivou a ler a obra novamente- (Rottava, 1998), era encontrar a razão e o
porquê de esse ser um livro tão aclamado. Novamente meu conhecimento prévio e
minha maturidade ainda não estavam formados o suficiente para que eu pudesse
compreender a mensagem que Antoine tenta passar no seu livro.
Mais
alguns anos se passaram e durante o período em que cursei o ensino médio eu
adquiri muito mais conhecimento em relação à literatura, à linguagens utilizada
por autores nos mais diversos estilos textuais. Na terceira vez em que li O Pequeno Príncipe, senti como se esse
fosse um livro nunca antes lido por mim. Já com dezessete anos, minha motivação
era desvendar o que Exupéry trazia em toda sua história. Desta vez, por ter uma
base ainda mais aprofundada, consegui desvendar todos os referentes
extralinguísticos utilizados pelo autor, relacionando a história presente no
livro com aspectos presentes na vida real. Entendi então que Exupéry falava de
como as pessoas levam suas vidas, utilizando-se de personagens para ilustrar
estereótipos sociais reais, como por
exemplo, o empresário e o beberrão. Foi aí então que compreendi o porquê de
tanta aclamação. O autor foi capaz de submeter elementos sensíveis à natureza
humana em um conto infantil, fazendo assim com que sua obra fosse apreciada
tanto por adultos quanto por crianças.
“Quanto mais conhecimento textual o leitor
tiver, quanto maior a sua exposição a todo tipo de texto, mais fácil será sua
compreensão” (Kleiman, 1995). Assim aconteceu comigo, ao ler O Pequeno
Príncipe. A cada leitura eu tinha uma “bagagem de conhecimentos” diferente, o
que fez com que nenhuma experiência fosse igual à outra, como já expliquei nos
parágrafos anteriores.
Referências
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Príncipe. Rio de Janeiro, Editora Agir, 2009.
KLEIMAN, Angela. Texto
e Leitor: aspectos cognitivos da leitura. São Paulo: Pontes, 4 ed. 1995.
ROTTAVA, Lucia. A
Leitura e a Escrita na Pesquisa e no Ensino. Ijuí: Espaços da escola, v. 4,
n. 27, jan./mar. 1998.
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