quarta-feira, 29 de junho de 2016

Memorial de leitura

Aluno 103
Reescrita


Quando na infância, recém inserida no universo literário e vivendo os primeiros anos do ensino fundamental, eu recebia diversas indicações de obras para conhecer. Uma dessas indicações era frequentemente citada e muitos me diziam ser uma leitura necessária para formação do meu ser. O livro era O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. Hoje, com dezessete anos, consigo analisar as diferentes experiências de leitura que tive com essa obra, e destacar alguns aspectos que passei a compreender apenas na faculdade.
Uma frase da obra O Conhecimento prévio na leitura (1995) de Angela Kleiman serve de parâmetro para a análise do meu primeiro contato com o livro: “a pouca familiaridade com um determinado assunto pode causar incompreensão”. Nessa obra, Kleiman reitera a importância do conhecimento prévio para que uma leitura seja bem sucedida, ou seja, que o leitor utilize como base todo conhecimento já adquirido ao longo de sua vida e o aplique durante a atividade. No meu caso, aos dez anos, conhecendo um vocabulário ainda pobre e sem uma boa base escolar, minha primeira leitura e compreensão ficaram comprometidas. Ao me deparar com a palavra “cativar”, por exemplo, não compreendia seu total sentido, por mais que ela tenha sido muito trabalhada ao longo da história. As metáforas eram lidas, mas não eram compreendidas. Ao terminar a leitura, acabei classificando o livro como uma história comum, sem nada que a tornasse especial, pois claramente na época eu não tinha conhecimentos o suficiente para compreendê-lo.
                                                                                                             
Alguns anos mais tarde, já quase completando o ensino fundamental, com doze ou treze anos, decidi revisitar as páginas de O Pequeno Príncipe. Com pouco tempo de diferença entre a primeira e a segunda leituras, a experiência foi minimamente diferente. Dominando mais o uso da língua, conhecendo as metáforas e já conhecendo a forma de escrita de Exupéry meu propósito de leitura -o que me motivou a ler a obra novamente- (Rottava, 1998), era encontrar a razão e o porquê de esse ser um livro tão aclamado. Novamente meu conhecimento prévio e minha maturidade ainda não estavam formados o suficiente para que eu pudesse compreender a mensagem que Antoine tenta passar no seu livro. 
Mais alguns anos se passaram e durante o período em que cursei o ensino médio eu adquiri muito mais conhecimento em relação à literatura, à linguagens utilizada por autores nos mais diversos estilos textuais. Na terceira vez em que li O Pequeno Príncipe, senti como se esse fosse um livro nunca antes lido por mim. Já com dezessete anos, minha motivação era desvendar o que Exupéry trazia em toda sua história. Desta vez, por ter uma base ainda mais aprofundada, consegui desvendar todos os referentes extralinguísticos utilizados pelo autor, relacionando a história presente no livro com aspectos presentes na vida real. Entendi então que Exupéry falava de como as pessoas levam suas vidas, utilizando-se de personagens para ilustrar estereótipos  sociais reais, como por exemplo, o empresário e o beberrão. Foi aí então que compreendi o porquê de tanta aclamação. O autor foi capaz de submeter elementos sensíveis à natureza humana em um conto infantil, fazendo assim com que sua obra fosse apreciada tanto por adultos quanto por crianças.
Quanto mais conhecimento textual o leitor tiver, quanto maior a sua exposição a todo tipo de texto, mais fácil será sua compreensão” (Kleiman, 1995). Assim aconteceu comigo, ao ler O Pequeno Príncipe. A cada leitura eu tinha uma “bagagem de conhecimentos” diferente, o que fez com que nenhuma experiência fosse igual à outra, como já expliquei nos parágrafos anteriores.


Referências
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Príncipe. Rio de Janeiro, Editora Agir, 2009.
KLEIMAN, Angela. Texto e Leitor: aspectos cognitivos da leitura. São Paulo: Pontes, 4 ed. 1995.
ROTTAVA, Lucia. A Leitura e a Escrita na Pesquisa e no Ensino. Ijuí: Espaços da escola, v. 4, n. 27, jan./mar. 1998.


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