sexta-feira, 17 de junho de 2016

Loucura?

Aluno 103
Reescrita


Eu, 103, 17 anos, no primeiro semestre do curso de Letras da UFRGS, me pego pensando várias vezes em como vim parar aqui. Percebo então, que a minha vida inteira me guiou até esse momento, me guiou até essa escolha e hoje tenho certeza de que quero seguir adiante nesse caminho; no mundo das Letras. Mas, afinal, como eu vim parar aqui?
 No ensino fundamental sempre fui considerada a “nerd” pelas minhas notas altas e minha facilidade com o aprendizado. Alguns de nós, os “nerds”, acabam sendo excluídos, taxados como entediantes ou simplesmente “não legais” o suficiente para termos amigos. Mas comigo era um pouco diferente. Sempre muito extrovertida e tagarela, eu fazia (e ainda faço) amizades muito rápido, o que me ajudou a não ser uma pessoa isolada do resto do mundo estudantil mas ao mesmo tempo me trouxe muitos momentos de: "Lúcia, eu não entendi isso aqui, tu pode me ajudar?". Como boa amiga, eu nunca neguei ajuda, e ao passo em que as dúvidas eram sanadas os comentários apareciam: "Poxa Lúcia, tu devia ser professora" ou "Nossa tu tem muito jeito de professora". Pela convivência que eu tinha com meus professores, eu não conseguia entender como alguém poderia escolher aquilo. Não entendia que tipo de insanidade era aquela que fazia com que uma pessoa tivesse disposição para todos os dias entrar em salas de aulas onde a grande maioria dos alunos não estava interessada. Como era possível? Professores não eram seres normais para mim, certamente todos eles sofriam de gravíssimos problemas mentais. E assim eu continuei com esse pensamento, até o dia em que tive a oportunidade de entrar em uma sala de aula.
Antes disso, claro, passei por várias opções de curso como Jornalismo, Publicidade e Propaganda e História. Todos eles tinham em comum a oportunidade para me expressar e falar muito. Aparentemente nenhum deles fez questão de ser estudado por mim, porque a cada vez que eu me aprofundava mais em conhecê-los, eles iam me parecendo desinteressantes. Como que por mágica, eu comecei a perceber a Letras na minha vida. Um grande amigo meu que estava cursando na época e me fez muita propaganda, minha diretora fez uma sugestão aqui outra ali, uma das minhas professoras mais queridas, que fez eu me apaixonar por Português. Todos esses fatores me direcionando para uma coisa só. Com o passar do tempo, o vestibular começou a bater na minha porta como quem diz “E aí? Já decidiu?”. E sim, eu já tinha decidido. Porque percebi em mim certo tipo de “veia artística”, percebi o amor pelo cinema, mas principalmente, a gratificação de ensinar. E todas essas oportunidades a Letras me oferece.
 Quando tive a oportunidade de entrar em sala de aula o frio na barriga foi inevitável, mas a alegria foi inenarrável.  E eu quis mais. E eu quis entender aquilo. E eu segui em frente com a minha escolha, e hoje posso dizer que não consigo me imaginar em nenhum outro curso. Foi aí que eu entendi a tal da “loucura” dos meus professores. Por mais que possa ser cansativo, ter o retorno de um único aluno que seja, faz com que teu esforço tenha valido a pena. Faz com que tu te sintas a pessoa mais realizada do mundo. Pelo menos, assim é para mim, então eu posso me considerar uma “quase louca”. Não sei reconhecer mais em mim aquele lado “nerd” do ensino fundamental, apesar das ajudas continuarem e alguns amigos ainda dizerem “Tu tem mesmo muita cara de professora”. É meus amigos, no final das contas, a loucura é inevitável.


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