Aluno 103
Reescrita
Eu,
103, 17 anos, no primeiro semestre do curso de Letras da UFRGS, me pego
pensando várias vezes em como vim parar aqui. Percebo então, que a minha vida
inteira me guiou até esse momento, me guiou até essa escolha e hoje tenho
certeza de que quero seguir adiante nesse caminho; no mundo das Letras. Mas,
afinal, como eu vim parar aqui?
No ensino fundamental sempre fui considerada a
“nerd” pelas minhas notas altas e minha facilidade com o aprendizado. Alguns de
nós, os “nerds”, acabam sendo excluídos, taxados como entediantes ou
simplesmente “não legais” o suficiente para termos amigos. Mas comigo era um
pouco diferente. Sempre muito extrovertida e tagarela, eu fazia (e ainda faço)
amizades muito rápido, o que me ajudou a não ser uma pessoa isolada do resto do
mundo estudantil mas ao mesmo tempo me trouxe muitos momentos de: "Lúcia,
eu não entendi isso aqui, tu pode me ajudar?". Como boa amiga, eu nunca
neguei ajuda, e ao passo em que as dúvidas eram sanadas os comentários
apareciam: "Poxa Lúcia, tu devia ser professora" ou "Nossa tu
tem muito jeito de professora". Pela convivência que eu tinha com meus
professores, eu não conseguia entender como alguém poderia escolher aquilo. Não
entendia que tipo de insanidade era aquela que fazia com que uma pessoa tivesse
disposição para todos os dias entrar em salas de aulas onde a grande maioria
dos alunos não estava interessada. Como era possível? Professores não eram seres
normais para mim, certamente todos eles sofriam de gravíssimos problemas
mentais. E assim eu continuei com esse pensamento, até o dia em que tive a
oportunidade de entrar em uma sala de aula.
Antes
disso, claro, passei por várias opções de curso como Jornalismo, Publicidade e
Propaganda e História. Todos eles tinham em comum a oportunidade para me
expressar e falar muito. Aparentemente nenhum deles fez questão de ser estudado
por mim, porque a cada vez que eu me aprofundava mais em conhecê-los, eles iam
me parecendo desinteressantes. Como que por mágica, eu comecei a perceber a
Letras na minha vida. Um grande amigo meu que estava cursando na época e me fez
muita propaganda, minha diretora fez uma sugestão aqui outra ali, uma das
minhas professoras mais queridas, que fez eu me apaixonar por Português. Todos
esses fatores me direcionando para uma coisa só. Com o passar do tempo, o
vestibular começou a bater na minha porta como quem diz “E aí? Já decidiu?”. E
sim, eu já tinha decidido. Porque percebi em mim certo tipo de “veia
artística”, percebi o amor pelo cinema, mas principalmente, a gratificação de
ensinar. E todas essas oportunidades a Letras me oferece.
Quando tive a oportunidade de entrar em sala
de aula o frio na barriga foi inevitável, mas a alegria foi inenarrável. E eu quis mais. E eu quis entender aquilo. E
eu segui em frente com a minha escolha, e hoje posso dizer que não consigo me
imaginar em nenhum outro curso. Foi aí que eu entendi a tal da “loucura” dos
meus professores. Por mais que possa ser cansativo, ter o retorno de um único
aluno que seja, faz com que teu esforço tenha valido a pena. Faz com que tu te
sintas a pessoa mais realizada do mundo. Pelo menos, assim é para mim, então eu
posso me considerar uma “quase louca”. Não sei reconhecer mais em mim aquele
lado “nerd” do ensino fundamental, apesar das ajudas continuarem e alguns
amigos ainda dizerem “Tu tem mesmo muita cara de professora”. É meus amigos, no
final das contas, a loucura é inevitável.
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