Aluno 100
Reescrita
Trago
uma situação que talvez seja comum entre jovens leitores, ávidos por querer
saber mais do que realmente estão sabendo. Dito isso, imagine um eu mais jovem
e menos experiente. Ao pegar Iracema, deparei-me com tal vocabulário inusitado,
que mesmo com muitos esforços, não consegui terminar uma leitura de 100 páginas
em uma tarde, como costumava fazê-lo.
“A ativação do conhecimento prévio é, então,
essencial à compreensão, pois é o conhecimento que o leitor tem sobre o assunto
que lhe permite fazer as inferências necessárias para relacionar diferentes
partes discretas do texto num todo coerente” (KLEIMAN, 1995, pg. 25).
Temos
que ter ciência de que eu, aos 12 anos de idade, achei que poderia arriscar-me
em uma leitura mais clássica, para fugir da literatura infanto-juvenil, da qual
já estava farta. Desse modo, com um conhecimento de mundo muito modesto e não
tendo nem mera noção de linguística ou de como compreender um texto em que
havia de ser necessário saber mais sobre a história que se passava naquele
tempo e, além disso, das entrelinhas que se emaranham dentro dela.
“O conhecimento linguístico, o conhecimento
textual, o conhecimento de mundo devem ser ativados durante a leitura para
poder chegar ao momento da compreensão, momento esse que passa despercebido, em
que as partes discretas se juntam para fazer um significado” (KLEIMAN, 1995,
pg. 26).
Assim
sendo, passei, pelo menos, duas semanas indo e voltando nas páginas deste
livro, com um dicionário ao lado e lendo mais as notas de rodapé do que
qualquer outra coisa. Por conseguinte, aproveitei pouquíssimo da leitura – ou
absolutamente nada – e, apesar disso, depois de muito esforço, terminei as 100
páginas orgulhosa, não porque havia entendido tudo e acrescido algo para minha
formação, mas sim porque havia conseguido terminar um livro que é um clássico
da literatura (e, na verdade, eu odiei a história – o que eu entendi dela,
claro).
“No que tange à pedagogia da leitura,
interessa especialmente observar que interpretar não é ler (ainda que faça
parte da leitura), da mesma forma que uma leitura é diferente de uma escuta de
falas do dia a dia” (BRITO, 2012, pg. 27).
Tudo
isso relatado nos faz refletir sobre o que os autores, Kleiman e Brtio, dizem em
seus textos e que foi relatado anteriormente; ler é muito mais do que apenas
decodificar um amontoado de palavras e fazer sua própria compreensão, mas acima
disso, é relacionar seu conteúdo com o conteúdo já existente em nossa mente.
“A Leitura do mundo implicaria, portanto, o
reconhecimento e a percepção da vida-vivida, desde as experiências subjetivas
mais íntimas até as relações histórico-sociais mais complexas: a consciência
delas e seu reconhecimento seriam condição fundamental para que a aprendizagem
formal fosse instrumento de maior participação e de transformação da ordem
social injusta. Em termos claros, só faz sentido aprender a leitura do texto se
for para ampliar as formas de ser e de perceber o mundo” (BRITO, 2012, pg. 24).
Concluo,
depois dessa experiência e de tomar conhecimento de o que é uma leitura
realmente, de acordo com os autores acima citados, ao me arriscar em uma
leitura não recomendada para uma menina de 12 anos, sem background suficiente
para compreendê-la, pude refletir sobre como levar minhas leituras a partir
daquele momento em diante.
Por
fim, podemos perceber que leitura não é uma tarefa que todos temos a
capacitação conosco, pelo contrário, adquirimos eficiência na leitura conforme
aprendemos como funciona tal processo. Destarte, não há possibilidade de termos
uma leitura clara se, apesar de nossos esforços, temos dificuldades de
compreensão causados por nosso conhecimento precário de mundo. Com isso em
mente, entenderemos que, conforme crescemos intelectualmente em nossas
leituras, criamos um repertório maior de discernimento de mundo.
Dos
meus tenros 12 anos para a época da faculdade, a minha leitura evolui – ou foi
abruptamente obrigada a evoluir, talvez. No âmbito acadêmico, as dificuldades
apenas aumentam quando tratando de compreensão de verdade de um texto, entretanto,
conforme o tempo passa, torna-se mais fácil conseguir compreender uma leitura
um tanto quanto mais sofisticadas. Assim, a menina de 12 anos que teve inúmeros
problemas ao ler Iracema, hoje relê o mesmo livro sem problema algum. Tudo isso
devido ao que os autores explicam, o conhecimento de mundo aumentou e agora
tenho mais experiências como pessoa e sou mais vivida do que a alguns anos
atrás, o que me permite compreender muito melhor um livro que exige certo teor
crítico e conhecimento prévio.
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