Reescrita
Por Aluno 20
Cinco, seis, sete e oito,... Essa é a contagem que uma bailarina faz
quando inicia uma coreografia para que entre impecavelmente no compasso, afim
de que cada passo de dança esteja sincronizado não apenas com a música que está
tocando, mas também com o sentimento que precisa transmitir para o público. E
para isso, muitos ensaios são necessários, alguns tombos e diversas frustrações
fazem parte da construção do espetáculo final, em que a artista precisa
demonstrar tudo que aprendeu de uma maneira completa, misturando habilidade com
graça, força com doçura.
Interpreto minha vida dessa forma, como um espetáculo diário. Tenho
dezenove anos, danço desde os três. Desse modo, estou inserida nesse mundo mais
artístico desde muito cedo – talvez por influência do meu pai, o qual possui
habilidades musicais muito fortes – e tenho certeza que todo esse contexto mais
subjetivo que a arte aborda e que trago em minha vida, resulta em melhores
reflexões e soluções para os entraves de todos os dias, visto que cada vez mais
a minha rotina de compromissos universitários possui maiores responsabilidades
frias e calculistas que transformam momentos em horas mecânicas e sem cor.
Talvez seja por isso que eu viva tanto a dança. A partir dela posso criar
nuances em meu dia a dia. Consigo quebrar as regras e fazer curvas em situações
ruins ou indesejáveis. Assim em momentos de raiva ou tensão, consigo trazer paz
para meu interior, com alguma coreografia de atitude, com movimentos bruscos e
fortes como a força de um vento em uma tempestade. E nos momentos alegres, com
a dança tenho o poder de multiplicar esse sentimento e através de uma sequência
de passos leves e delicados como flores em um jardim, atinjo sentimentos
maravilhosos que transbordam pelos meus movimentos.
Além disso, gosto de acreditar em tudo. Sonhar e realizar as coisas são
sentimentos muito fortes em mim. E a dança é minha aliada nisso, pois se o
mundo conspira contra as minhas crenças quando estou em cima do palco posso ser
o que eu quiser. Em um pequeno salto posso voar e ser livre como um pássaro e
quando piso com as pontas de meus pés no palco, sinto como se estivesse
flutuando sobre nuvens, e o que sinto em momentos assim é uma felicidade
interior imensa, como se tudo na vida pudesse dar certo sempre.
Isso tudo pode ser loucura, delírio, dilúvios imaginários. Talvez seja,
não discordo. Sei que a dança causa isso nas pessoas. Ela traz essa sensação
mágica e distinta. Por isso me encontro nela, identifico-me. Meu relacionamento
com essa arte faz com que eu me perca em sentimentos e me encontre em emoções
ao mesmo tempo. E afirmo o quanto isso faz parte de mim. Eu poderia relatar
aqui que tenho um metro e cinquenta e quatro, cabelos cacheados e uma gata
chamada Luna, entretanto diversos indivíduos se encaixariam nessas
características. O que traduz o que verdadeiramente representam as pessoas são
suas emoções particulares, os sonhos desejados e os caminhos que trilham. Dessa
forma, da mesma maneira que uma dançarina demonstra tudo que aprendeu e tudo o
que sente em alguns minutos de coreografia, expressar em palavras o que eu
sinto e o que vivo diante da música interpretada através de movimentos é a
melhor forma de apresentar quem sou.
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